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Andei Escutando (42)

The Zombies - New World

Discos ruins são normais. Imagino que a imensa maioria dos discos lançados em um ano são ruins, descartáveis. O que pega é quando uma banda minimamente boa lança um disco ruim. É aquele sentimento de raiva, decepção, incompreensão. O que eles queriam fazer com isso? Raramente um disco ruim lança um sentimento de pena, quase uma solidariedade. Pois foi isso o que eu senti ao escutar o inominável e abominável terceiro discos dos Zombies, New World, lançado em 1990.

Contextualizemos. Os Zombies foram uma destas tantas bandas de rock surgidas na década de 60 e que alcançaram algum sucesso, mesmo que esporádico, em algum momento. "Guiados pelo piano rápido de Rod Argent e a voz melódica de Colin Blunstone" eles alcançaram seu maior sucesso em 1968, com o single Time Of the Season, que por aqui no Brasil, chegou a fazer parte da trilha sonora do filme sobre a Bruna Surfistinha. 

Ai começa a triste ironia da história. Quando Time of the Season explodiu nas paradas britânicas e americanas, os Zombies já haviam acabado, cansados do fracasso comercial de seus trabalhos. Seu segundo disco, Odessey & Oracle foi lançado com a banda terminada e eles nem puderem excursionar para tentar ganhar algum dinheiro com o sucesso.

Ficaram inativos por 22 anos, até voltar para lançar este New World. Poderia ser apenas um disco caça níquéis, mas não era este o caso. O Novo Mundo só nasceu porque os membros originais resolveram se reunir para marcar território. Explico; na época, várias bandas excursionavam pela Europa e Estados Unidos como se fossem os verdadeiros Zombies autores de Time of the Season. Era preciso fazer algo e eles lançaram este disco.

A situação já é melancólica, mas fica ainda pior quando se escuta o disco, porque, quem sabe, poderia ser minimamente bom. Mas o resultado é catastrófico. Eles soam como um grupo de tiozões que perdeu a linha do tempo e que tentam atualizar seu som a uma estética da época, no caso, o pior da New Wave de uns 10 anos antes. Para piorar, seu principal compositor, Rod Argent, só participou de uma música. Para piorar, eles regravaram Time of the Season e assassinaram seu maior clássico. Não devem ter sido poucos os que imaginaram que eles deveriam ser algum cover dos originais.

No lugar de Rod Argent, quem assumiu o piano foi o chileno Sebastian Santa Maria, autor de Monday Morning Dance, uma das piores músicas que você jamais escutará na sua vida. When Love Breaks Down, com cara de principal música do disco, termina em um fade-out melancólico no meio do refrão, como se a banda já não soubesse mais o que fazer com isso.

E dá-lhe refrão com coro, teclados pavorosos e nenhuma música que merecesse uma audição mais atenta.

E disso que eu estou falando. Escute por conta e risco.

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