Pular para o conteúdo principal

O debate lá e aqui

E eis que durante essa semana eu acompanhei o debate entre os candidatos a presidente dos Estados Unidos. Eu nunca fui de dar muita importância para as eleições norte-americanas, que sim, são importantes, mas não acredito que têm o poder de mudar o mundo como as pessoas imaginaram. A vida da maioria das pessoas aqui do Brasil não é minimamente influenciada pelo embate entre democratas e republicanos. Mas este debate me prendeu.

Barack Obama e Mitt Romney se enfrentaram diante do público. Sim, durante duas horas eles realmente se enfrentaram, confrontaram ideias diferentes, visões políticas divergentes, propostas diferentes. Geração de petróleo, produção energética, imigração, saúde, os mais variados temas. Foi um debate realmente. Me surpreendeu o fato de que Obama e Romney tinham opiniões divergentes. E eu falo de opiniões. Que ambos sabiam as propostas de seus adversários e sabiam no que se confrontar. Conseguiam citar trechos do plano de governo e as suas falhas.

Não deveria ficar surpreso, acho, porque é isso que se espera de um debate. Mas acho que fiquei mal acostumado pelo o que eu vejo no Brasil.

Acompanhei, mesmo que pelos textos na internet, debates em algumas capitais brasileiras. E todas as matérias foram unânimes em classificar os encontros como "mornos". Morno é sem dúvida a melhor palavra. No debate brasileiro tudo é engessado. A escolha de temas pré-determinados tirar qualquer possibilidade de divergência. Quais são suas propostas para saúde? Construir hospitais, melhorar salários, melhorar a qualidade do atendimento. Para a educação, temos que construir escolas, capacitar os profissionais.

Oras, a maior parte das propostas dos candidatos não são mais do que a obrigação. Melhorar o atendimento e capacitar profissionais é uma meta que todos devem ter. Todos os candidatos partem para propostas iguais e utilizam o debate como simples forma de colocar suas opiniões. As polêmicas, as contradições são sempre no ponto de vista pessoal. Os ataques são a moral dos candidatos, as pessoas que estão no seu redor. Não há um único confronto de ideias. Vão construir casas? De que maneira? Vão utilizar de parcerias com a iniciativa privada? Utilizar a contrapartida da isenção fiscal para investir na moradia? Não, as casas serão apenas construídas, não importa como.

Será que a culpa é da população, que não se interessa pelos temas mais aprofundados? A culpa seria dos políticos, que são incapazes? Seriam os partidos, que são todos iguais e se moldam a opinião pública apenas? A culpa seria da televisão que não dá espaço para um debate mais intenso? A culpa seria do mordomo?

Comentários

Postagens mais visitadas

Aonde quer que eu vá

De vez em quando me pego pensando nisso. Como todos sabem, Herbert Vianna, dos Paralamas do Sucesso, sofreu um acidente de avião em 2001. Acabou ficando paraplégico e sua mulher morreu. Existe uma música dos Paralamas, chamada "Aonde quer que eu vá" que é bem significativa. Alguns trechos da letra: "Olhos fechados / para te encontrar / não estou ao seu lado / mas posso sonhar". "Longe daqui / Longe de tudo / meus sonhos vão te buscar / Volta pra mim / vem pro meu mundo / eu sempre vou te esperar". A segunda parte, principalmente na parte "vem pro meu mundo" parece ter um significado claro. E realmente teria significado óbvio, se ela fosse feita depois do acidente. A descrição do acidente e de estar perdido no mar "olhos fechados para te encontrar". E depois a saudade. O grande detalhe é que ela foi feita e lançada em 1999. Dois anos antes do acidente. Uma letra que tem grande semelhança com fatos que aconteceriam depois. Assombroso.

Ziraldo e viagem sentimental por Ilha Grande

Em janeiro de 1995 pela primeira vez eu saí de férias em família. Já havia viajado outras vezes, mas acho que nunca com esse conceito de férias, de viajar de férias. Há uma diferença entre entrar em um avião para ir passar uns dias na casa dos seus tios e pegar o carro e ir para uma praia. Dormir em um hotel. Foi a primeira vez que eu, conscientemente, dormi em um hotel. Contribui para isso o fato de que, com sete anos, eu havia acabado de terminar a primeira série, o ano em que de fato eu virei um estudante. Então, é provável que pela primeira vez eu entendesse o conceito de férias. Entramos em uma Parati cinza e saímos de Cuiabá eu, meus pais, minha prima e minha avó. Ao mesmo tempo em que essas eram as minhas primeiras férias, elas eram também a última viagem da minha avó. A essa altura ela já estava com um câncer no pâncreas e sem muitas perspectivas de longo prazo. Disso eu não sabia na época. Mas ela morreu cerca de um ano depois, no começo de 1996, após muitas passagens pelo hos

Pattie Boyd

Pattie Boyd O romance envolvendo George Harrison, Pattie Boyd e Eric Clapton é um dos mais conhecidos triângulos amorosos da história. Sempre achei o caso interessante. A princípio, a visão que nós temos é bem simplista. Pattie trocou o sensível George Harrison, aquele que lhe cantou a sentimental Something na cozinha, pelo intempestivo Eric, aquele que a mostrou a passional Layla na sala. E se há uma mulher irresistível neste mundo, esta mulher é Pattie Boyd. Só que o trio Boyd-Harrison-Clapton é apenas a parte mais famosa de uma série de relações amorosas e traições, que envolveram metade do rock britânico da época. E o que eu acho incrível, é que todos continuaram convivendo ao longo dos anos. George Harrison Pattie Boyd era uma modelo que fazia figuração em um vagão de trem durante a gravação de uma cena de A Hard Day’s Night, o primeiro filme dos Beatles. George era justamente um Beatle. Eric Clapton era o deus da guitarra e converteu vários fãs em suas inúmeras bandas