Mês passado, surgiu em uma rua do Parque Ohara, o maior buraco que eu já havia visto a olho nu. Surgiu de um dia para o outro e parecia uma versão reduzida da cratera do metrô de São Paulo. O asfalto simplesmente havia cedido, mal dava para perceber a sua profundidade. Parecia uma espécie de passagem para um mundo paralelo, uma ligação a alguma galeria subterrânea, uma inspiração para Júlio Verne.
Na mesma época, a imagem de uma bananeira plantada em um buraco de uma rua do bairro Canjica em Cuiabá rodou o Brasil. Este “irreverente” protesto não é uma exclusividade dos cuiabanos. Uma pesquisa pelo Google revela que bananeiras já foram plantadas nos mais diversos buracos das mais diversas ruas brasileiras. Do Paraná até a Bahia. Difícil saber quem foi o pioneiro, mas ele pode ter apontado uma solução.
Um buraco de rua não é apenas um buraco, uma simples deformidade. Ele tem toda uma história. A partir deles é possível traçar um perfil e conhecer a cidade. Existem alguns buracos que são eternos, que não são consertados com asfalto, concreto ou sistemas de drenagem. Resistem às mudanças dos gestores, dos moradores, à passagem do tempo.
Existe um buraco em uma das esquinas da Fernando Corrêa que já se abriu incontáveis vezes. Os homens vêm e o tampam, mas ele volta a se abrir menos de um mês depois. Alguém cava um buraco mais profundo, mexe em suas estruturas e fecha. O buraco retorna. Creio que deviam desistir de arrumá-lo, porque aquele buraco é realmente histórico.
Deviam sim, é transformá-lo em um ponto turístico, para contar sua história. É provável que este buraco exista desde os tempos de Pascoal Moreira Cabral. Que ele já tenha visto a passagem de Miguel Sutil, Joaquim Murtinho, Isaac Povoas. Que ele seja parte integrante dos 293 anos de história de Cuiabá.
Poderiam sim, é montar um museu do buraco. Juntar os grandes buracos de nossa cidade, pesquisar suas origens. Os buracos que já ajudaram a eleger governantes e a derrubar secretários. Crateras políticas. Saindo do aeroporto de Várzea Grande, seria possível criar uma “Rota do Buraco”. E se eles fossem incluídos no Censo?
Alguém poderá argumentar que a bananeira mostra que os buracos podem servir para acabar com a fome. Podemos imaginar um mundo com hortas plantadas dentro das cavidades. Também podemos pensar nos buracos como tanques de piscicultura. Algum consultor poderia ensinar as muitas maneiras de se usar um buraco. Passou o momento em que apenas borracheiros e mecânicos lucravam.
Poderíamos pensar também no uso decorativo dos buracos, com avisos luminosos. Paisagismo moderno, deixando a cidade mais bonita.
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