Pular para o conteúdo principal

Reflexões sobre as eleições

Algumas análises de alguém não tão entendido.

- Talvez "coronelismo" não seja o melhor termo, mas Mato Grosso vive no império de Blairo Maggi. Mauro Mendes conseguiu vencer em Cuiabá e Rondonópolis (particularmente surpreendente) e teve bons números em Sinop e Várzea Grande. Mas no interior remoto, sua derrota foi massacrante. A explicação? Nas cidades menores onde um líder político se faz influente, os votos são mais amarrados. E o grupo de Silval/Maggi domina essas regiões.

- Eu pelo menos, acho o segundo turno uma alternativa mais democrática.

- Mauro Mendes teve uma ascensão surpreendente. E surge como principal rival de Maggi. Não que seja absolutamente bom, são pessoas de perfis parecidos. Mas é inegável que uma oposição é necessária. Nos próximos 4 anos ele precisará se aproximar dessas lideranças do interior. Não adianta ganhar Cuiabá para chegar ao governo.

Cidades em que Silval ganhou em vermelho. Cidades em que Mauro ganhou, de amarelo.

- A vitória de Maggi no Senado era o resultado mais óbvio.

- Já Pedro Taques na segunda vaga foi uma surpresa. Uma campanha que começou lá embaixo e atropelou seus tradicionais concorrentes. Taques é um sopro de renovação.

- Abicalil é o grande derrotado. Brigou com o partido para ser o candidato e ficou de fora. Teve uma votação expressiva no Norte do estado, amarrado a Blairo Maggi. Mas perdeu no centro-sul e principalmente em Cuiabá. Onde ficou em quinto lugar, atrás até do simpático Procurador Mauro.

- Aliás, a capital ainda tem poder de eleger alguém nessa situação. A segunda vaga do Senado foi ganha por Taques aqui. Ele teve 170 mil votos a mais que Abicalil, desses 160mil apenas em Cuiabá. Mais 60 mil em Várzea Grande. Tirando as duas cidades, Abicalil teve uma vantagem de 50 mil no resto do estado.


No Mapa, a briga pelo segundo lugar. Abicalil em vermelho, Taques em amarelo, Antero em azul, Naildo em verde e Yanai em cinza.

- O PSDB saiu muito por baixo. Wilson não conseguiu ganhar em nenhuma cidade. Antero ganhou em apenas uma e ficou entre os dois primeiros em apenas quatro. Para piorar, apenas um deputado federal eleito e um estadual. A não eleição de Thelma de Oliveira, mostra que a influência de Dante está encerrada.

- Nenhuma novidade entre os deputados. Das três novas vagas, ninguém pode ser chamado de novo. Júlio Campos, Nilson Leitão e Ságuas Moraes são figurinhas carimbadas. Menos novidades ainda para a Assembléia.

- Marina Silva teve uma votação inexpressiva em Mato Grosso. Não conseguiu ficar pelo menos na segunda colocação em nenhuma cidade. O que de certa maneira era esperado. Um estado ruralista não daria muito apoio para a ambientalista. Ainda mais que um dos motivos para sua queda do Ministério do meio-ambiente foi um atrito com Blairo Maggi.

- O estado está bem dividido entre Serra e Dilma, como dá pra ver no mapa.

- No âmbito nacional, Marina Silva foi realmente o grande destaque. Seu crescimento (obteve o dobro de votos do que o esperado) foi o principal responsável pelo segundo turno. Marina surgiu como uma alternativa viável para quem não se motivava com Dilma ou Serra, que representam os grupos que estiveram no poder nos últimos 16 anos - com atuações parecidas, diga-se. Uma campanha que atraiu os jovens. Uma campanha mais limpa (pelo menos não vi santinhos dela espalhados pela cidade) e uma campanha que deu relevância ao PV.

- O segundo turno é importante. Seria ruim que o PT (ou melhor, Lula) colocasse Dilma (que poucas pessoas conheciam) logo de cara. Em certo momento, a vitória pareceu inevitável. Foi um período em que o partido começou a brigar com a imprensa (como se tivessem que derrotar outro adversário) e achar que ganharia de qualquer jeito. O PT tem que aprender a conviver melhor com as diferenças, para governar. E geralmente, a imprensa é sempre de oposição (quando não é comprada).

Comentários

Postagens mais visitadas

Ziraldo e viagem sentimental por Ilha Grande

Em janeiro de 1995 pela primeira vez eu saí de férias em família. Já havia viajado outras vezes, mas acho que nunca com esse conceito de férias, de viajar de férias. Há uma diferença entre entrar em um avião para ir passar uns dias na casa dos seus tios e pegar o carro e ir para uma praia. Dormir em um hotel. Foi a primeira vez que eu, conscientemente, dormi em um hotel. Contribui para isso o fato de que, com sete anos, eu havia acabado de terminar a primeira série, o ano em que de fato eu virei um estudante. Então, é provável que pela primeira vez eu entendesse o conceito de férias. Entramos em uma Parati cinza e saímos de Cuiabá eu, meus pais, minha prima e minha avó. Ao mesmo tempo em que essas eram as minhas primeiras férias, elas eram também a última viagem da minha avó. A essa altura ela já estava com um câncer no pâncreas e sem muitas perspectivas de longo prazo. Disso eu não sabia na época. Mas ela morreu cerca de um ano depois, no começo de 1996, após muitas passagens pelo hos

Aonde quer que eu vá

De vez em quando me pego pensando nisso. Como todos sabem, Herbert Vianna, dos Paralamas do Sucesso, sofreu um acidente de avião em 2001. Acabou ficando paraplégico e sua mulher morreu. Existe uma música dos Paralamas, chamada "Aonde quer que eu vá" que é bem significativa. Alguns trechos da letra: "Olhos fechados / para te encontrar / não estou ao seu lado / mas posso sonhar". "Longe daqui / Longe de tudo / meus sonhos vão te buscar / Volta pra mim / vem pro meu mundo / eu sempre vou te esperar". A segunda parte, principalmente na parte "vem pro meu mundo" parece ter um significado claro. E realmente teria significado óbvio, se ela fosse feita depois do acidente. A descrição do acidente e de estar perdido no mar "olhos fechados para te encontrar". E depois a saudade. O grande detalhe é que ela foi feita e lançada em 1999. Dois anos antes do acidente. Uma letra que tem grande semelhança com fatos que aconteceriam depois. Assombroso.

Pattie Boyd

Pattie Boyd O romance envolvendo George Harrison, Pattie Boyd e Eric Clapton é um dos mais conhecidos triângulos amorosos da história. Sempre achei o caso interessante. A princípio, a visão que nós temos é bem simplista. Pattie trocou o sensível George Harrison, aquele que lhe cantou a sentimental Something na cozinha, pelo intempestivo Eric, aquele que a mostrou a passional Layla na sala. E se há uma mulher irresistível neste mundo, esta mulher é Pattie Boyd. Só que o trio Boyd-Harrison-Clapton é apenas a parte mais famosa de uma série de relações amorosas e traições, que envolveram metade do rock britânico da época. E o que eu acho incrível, é que todos continuaram convivendo ao longo dos anos. George Harrison Pattie Boyd era uma modelo que fazia figuração em um vagão de trem durante a gravação de uma cena de A Hard Day’s Night, o primeiro filme dos Beatles. George era justamente um Beatle. Eric Clapton era o deus da guitarra e converteu vários fãs em suas inúmeras bandas