Pular para o conteúdo principal

O dia em que tudo aquilo se realizou para o Athletic de Bilbao

Quem gosta de futebol geralmente tem um time pelo qual ele torce em toda e qualquer oportunidade. Os outros times podem ser mais ou menos odiados de acordo com uma série de fatores. E existem aqueles times contra os quais ninguém consegue ser contra.

Nada é pior do que não ser odiado no futebol. Só não é odiado quem não ganha, quem não levanta taças, quem é um mero coadjuvante para conquistas alheias. Isso dói para o torcedor e deve doer ainda mais para aqueles que poderiam ser grandes, mas acabaram não sendo.

Existem alguns times espalhados pelo mundo que poderiam ter se tornado alguma coisa, chegaram a ser alguma coisa mas em determinado momento da história se perderam. Viram seus adversários continuarem crescendo, enquanto ele permanecia estagnado. Passaram a viver de glórias esporádicas enquanto os adversários conquistam o mundo.

A Portuguesa em São Paulo, o América no Rio de Janeiro, Minas Gerais e Pernambuco, o Ypiranga da Bahia, Tuna Luso do Pará, Ferroviário do Ceará. Dividiam glórias com seus rivais, passaram a ser vistos como terceiras forças, depois apenas como lembranças de um passado glorioso e um futuro que nunca foi.

Vez por outra um desses times faz uma boa campanha. Sonha alto, apenas para despencar lá de cima. É o América do Rio recebendo o Flamengo, dominando a partida, desperdiçando chances até levar o gol. Perdendo ataques enquanto o adversário marca até consolidar a humilhação no placar. Como se o jogo fosse um resumo da história, mostrando que há aqueles que são predestinados a vitória e os que são reservados ao fracasso.

É o caso do Athletic de Bilbao. Time que era uma das três forças da Espanha e foi o maior vencedor do campeonato espanhol até 1956. Então, como maldição, o time parou de vencer. Voltou a vencer dois campeonatos, em 1983 e 1984 e era impressionante perceber que então o time tinha apenas um título espanhol a menos que o Barcelona. Mas enquanto Barcelo e Real partiram para o mundo, o Athletic ficou para sempre reservado a Bilbao.

Vez por outra o time sonha com um terceiro lugar e se mantém no meio da tabela junto com o seu orgulho basco. Quando enfrenta o Barcelona e o Real, o clima é de clássico, mas o jogo não. O Athletic sucumbe e imagino que a torcida lamente aquilo que eles poderiam ter sido, mas que jamais foram.

Para o torcedor de futebol, é difícil torcer contra o time de Bilbao. É difícil torcer contra quem já é derrotado pelo destino.

Por isso, num dia como o de hoje, quando o Athletic Bilbao derrota o Real Madrid após cinco anos, não dá para não se alegrar. Não dá para não se comover com a festa desvairada na arquibancada. A emoção dos torcedores e dos jogadores.

Não foi apenas uma vitória. Não significa que os bons tempos voltaram. Significa que naquela noite o time foi aquilo que poderia ter sido, mas jamais foi. Naquela noite a história foi redimida e isso é o que importa.

Comentários

Postagens mais visitadas

Oasis e a Cápsula do Tempo

Não dá para entender o Oasis pensando apenas na relevância das suas músicas, nos discos vendidos, nos ingressos esgotados ou nas incontáveis exibições do videoclipe de Wonderwall na MTV. Além das influências musicais, das acusações de plágio e das brigas públicas, o Oasis faz parte de um fenômeno cultural (um pouco datado, claro), mas é uma banda que captou o espírito de uma época e transformou isso em arte, promovendo uma rara identificação com seus fãs. Os anos 1990 foram marcados por problemas econômicos no mundo inteiro. Uma juventude já desiludida não via muitas perspectivas de vida. A Guerra Fria havia acabado, uma nova revolução tecnológica começava, o Reino Unido vivia uma crise pós governo Thatcher e nesse cenário surge um grupo cantando letras incrivelmente ousadas para meros desconhecidos.  Definitely Maybe, primeiro disco do grupo, fala sobre curtir a vida de maneira meio sem propósito e sem juízo. A diversão que só vem com cigarros e álcool, o sentimento supersônico de...

Oasis de 1 a 7

Quando surgiu em 1994, o Oasis rapidamente se transformou em um fenômeno midiático. Tanto por suas canções radiofônicas, quanto pela personalidade dos irmãos Gallagher. Eles estiveram na linha frente do Britpop, movimento que redefiniu o orgulho britânico. As letras arrogantes, o espírito descolado, tudo contribuiu para o sucesso. A discografia da banda, no entanto, não chega a ser homogênea e passa a ser analisada logo abaixo, aproveitando o retorno do grupo aos palcos brasileiros após 16 anos.  Definitely Maybe (1994) O primeiro disco do Oasis foi durante muito tempo o álbum de estreia mais vendido da história do Reino Unido. Foi precedido por três singles, sendo que dois deles são clássicos absolutos - Supersonic e Live Forever . O vocalista Liam Gallagher cantava em algum lugar entre John Lennon e Ian Brown, enquanto o som da banda bebia de quase tudo o que o Reino Unido havia produzido nos 30 anos anteriores (Beatles, T. Rex, Sex Pistols, Smiths, Stone Roses). O disco começa c...

Somos todos Leicester

O que era inacreditável, o que parecia impossível agora é verdade. O Leicester é o campeão inglês da temporada 2015-16. Incrível que o título tenha vindo de maneira até confortável, com duas rodadas de antecedência. Incrível que mesmo com a folga na tabela e a liderança estável nas últimas rodadas, era impossível acreditar que o título realmente viria. Parecia que a qualquer momento os Foxes poderiam desabar. O que mais falar sobre esse time? Formado por uma série de refugos, jovens que jamais explodiram, uma ou outra promessa. Filho de goleiro, zagueiro jamaicano e zagueiro alemão grosso, atacante japonês, atacante que até outro dia jogava no futebol amador. Não há nada parecido com o que Leicester fez nesse ano na história do futebol. Talvez na história do esporte. O título do Leicester é uma das maiores façanhas da história da humanidade. Não há o que falar, o que teorizar. Só resta olhar esse momento histórico e aceitar que às vezes o impossível acontece. Que realmente nada é i...