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Por onde andará o Walfredo?

No competitivo e violento ambiente da pré-escola, o Walfredo se destacava. Ele era um pequeno torturador psicopata que espalhava o terror entre seus coleguinhas. Walfredo mostrava o pinto para os outros, rolava na grama, ficava gritando, batia nas crianças e tinha um umbigo esquisito. Tenho certeza que essa era a razão para toda a maldade. Olhando agora, em retrospectiva, parece claro que Walfredo era a encarnação do mal, um garoto possuído pelo demônio. Mas, de qualquer forma, acho que não deveria ser legal saber disso aos seis anos, mesmo.

Walfredo foi expulso do colégio antes do final daquele fatídico ano de 1993. A gota d'água, acredito eu, foi o dia em que ele aproveitou o momento em que uma das crianças bebia água no bebedouro e empurrou a nuca do garoto, fazendo com que o pobre coitado quase engolisse o bico do bebedouro, batesse os dentes e tudo mais. Terrível. Aquilo ali deve ter feito com que a diretoria percebesse que Walfredo era incapaz de conviver em sociedade.

Se eu não sei por onde andam os meus amigos da primeira série, o que direi sobre o Walfredo. Depois do dia em que ele foi expulso, nunca mais o vi em lugar nenhum. De vez em quando me lembro da sua existência, principalmente depois que vejo matérias sobre psicopatas infantis. Imagino que Walfredo deve ter esquartejado seu primeiro gato um pouco depois de sair do colégio, violentou sexualmente pequenos animais e, com sorte, nunca matou ninguém.

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