O ano era 1994 e eu ainda iria completar sete anos. Estudava na primeira série do Patronato Santo Antônio e uma febre começou entre os alunos: as figurinhas do campeonato italiano. Eu não tinha o álbum, cheguei a mencionar alguma coisa sobre o assunto com meus pais naquele estilo "sabe, todo mundo tem um álbum do campeonato italiano", mas acho que eles não entenderam.
Herdei algumas figurinhas de colegas de sala, provavelmente as repetidas deles. Lembro que um dia achei um bolo de figurinhas perdidas em algum canto do colégio. Olhava para aquelas fotografias, bem diferentes do que vemos hoje em dia. Não eram as figurinhas auto-adesivas, creio que seria preciso uma cola em bastão para afixá-las no papel. Os jogadores tinham uma pose solene. Bastava apenas olhá-los para perceber que eles jogavam muito e que eles estavam posando para a história.
As figurinhas que eu tive acabaram se perdendo em alguma fenda temporal. Várias figurinhas do Bari. Não sei porque, tenho na memória que as figurinhas sempre eram do Bari e sempre me lembro de um colega, Igor, abrindo um pacote de figurinhas no fim da aula, como o símbolo da ostentação e do poder.
Porque em 1994 as crianças colecionavam figurinhas do campeonato italiano? Porque ele era uma febre. Era o melhor campeonato do mundo desde que a Bandeirantes começou a transmiti-lo no final dos anos 80. Campeonato de Gullit, van Basten, Maradona, Donadoni, Roberto Baggio.
Bandeirantes, o Canal do Esporte. Domingo era dia de acordar, ver a corrida de Fórmula 1, ir na banca de jornal e sintonizar a Bandeirantes. Logo de manhã passava algum jogo do Milan ou da Juventus, depois tínhamos os jogos de vôlei ou de basquete, corridas de Fórmula Indy, o Campeonato Paulista e o Campeonato Carioca, os compactos, Elias Júnior, um herói da resistência que permanecia horas seguidas no ar. Ainda tinha algum jogo da NBA com o Michael Jordan. O Apito Final, a mesa-redonda com Luciano do Valle, Tostão, Rivellino, Gérson.
Esporte era sinônimo de Bandeirantes, exceção feita as corridas de Fórmula 1. Boa parte da minha base esportiva foi construída no velho Canal dos Esportes, até lá por... 1997, acho, quando as regras de transmissão começaram a mudar, passando exclusivamente para a Globo.
E nessas memórias, Luciano do Valle sempre esteve presente. Inclusive, na famosa final da Copa de 1994. Não escutei o famoso "é tetra" do Galvão, porque meu tio não suportava o locutor da Globo e estávamos assistindo na Band. Há vinte anos, Luciano preferiu um direto "pra fora, Brasil campeão do mundo". Como é claro, eu não escutei na época, em meio aos vários gritos da sala.
Nos últimos tempos Luciano exercia um papel melancólico nas narrações da Bandeirantes, confundindo jogadores e jogadas. A idade é cruel com todos, a vida não perdoa. Mas a memória e a voz de um cara que transformou o Maguila em ídolo nacional não se esquece.
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