Do alto do viaduto da UFMT vejo um corpo caindo. Na verdade, a noção de que o corpo caiu foi construída com o tempo. Percebi alguma coisa diferente em frente a uma concessionária da Honda e logo percebi que havia uma pessoa caída no chão enquanto uma moto fazia uma curva. A mente começa a processar os dados, se a pessoa havia caído da moto, se houve um acidente, o que era aquilo. Parecia que era um menino.
Um carro para e oferece socorro a uma mulher. Sim, era uma mulher. Outro carro encosta e acabo encostando também, com o pisca alerta ligado. Uma mulher desce do carro para ajudar a acidentada. Pergunta se tudo está bem, se precisa de ajuda. Ao que parece, ela não desmaiou, sofreu um infarto, um AVC ou uma crise epilética. Tropeçou apenas e caiu de cara no chão. Uma cena sempre patética, mas que acontece. Por sorte, não havia nenhum carro do Google Maps para eternizar o momento.
A mulher se levanta e segue sua caminhada até o ponto de ônibus. Sem ferimentos sérios, além do orgulho. Como se levantar e fingir que nada aconteceu? Encarar as pessoas que te encaram tentando fingir que nada aconteceu. Até que o ônibus chegue e esse episódio se perca na memória.
Enquanto a mulher do carro conversa com a mulher caída, eu a reconheci. Sim, a conhecia de muito tempo. Não sei o seu nome, mas sei o que ela fazia. Vendia brigadeiro no saguão do Instituto de Linguagens da UFMT lá pelos idos de 2005/2006.
Na época o brigadeiro custava apenas um real e é incrível perceber que a inflação já deve ter dobrado o preço dessa época. Comi alguns brigadeiros seus algumas vezes, quando ela aparecia com seu tupperware lotados de brigadeiros, praticamente suplicando que comprássemos um docinho. Mais do que a aparência do doce (absolutamente normal), o que fazia com que eu comprasse o chocolate era a sua cara. Seus olhos pequenos me faziam acreditar que ela dependia daquilo para sobreviver. Sua voz baixa e sua aparência desleixada também lhe conferia um aspecto meio louco, ela parecia ter um parafuso a menos, digamos.
Um dia comprei um brigadeiro dela pela última vez. Ela apareceu repentinamente no saguão do IL com sua cara de sempre e enquanto eu catava uma moeda de um real, minha hoje namorada - na época apenas colega de sala - gesticulava. Quando a vendedora acidentada foi embora, ela (minha namorada) explicou que comprou um brigadeiro daquela senhora na videolocadora em que trabalhava na Avenida Getúlio Vargas, prova de que aquela mulher rodava Cuiabá com sua cara suplicante vendendo brigadeiros. Havia um cabelo dentro do brigadeiro comprado, o que depunha contra a qualidade higiênica do produto.
Nunca mais comprei seus brigadeiros e evitei ao máximo seu olhar de carência psicótica. Me formei e nunca mais a vi até hoje, quando ela caiu no chão sem explicação e sem brigadeiros.
Um carro para e oferece socorro a uma mulher. Sim, era uma mulher. Outro carro encosta e acabo encostando também, com o pisca alerta ligado. Uma mulher desce do carro para ajudar a acidentada. Pergunta se tudo está bem, se precisa de ajuda. Ao que parece, ela não desmaiou, sofreu um infarto, um AVC ou uma crise epilética. Tropeçou apenas e caiu de cara no chão. Uma cena sempre patética, mas que acontece. Por sorte, não havia nenhum carro do Google Maps para eternizar o momento.
A mulher se levanta e segue sua caminhada até o ponto de ônibus. Sem ferimentos sérios, além do orgulho. Como se levantar e fingir que nada aconteceu? Encarar as pessoas que te encaram tentando fingir que nada aconteceu. Até que o ônibus chegue e esse episódio se perca na memória.
Enquanto a mulher do carro conversa com a mulher caída, eu a reconheci. Sim, a conhecia de muito tempo. Não sei o seu nome, mas sei o que ela fazia. Vendia brigadeiro no saguão do Instituto de Linguagens da UFMT lá pelos idos de 2005/2006.
Na época o brigadeiro custava apenas um real e é incrível perceber que a inflação já deve ter dobrado o preço dessa época. Comi alguns brigadeiros seus algumas vezes, quando ela aparecia com seu tupperware lotados de brigadeiros, praticamente suplicando que comprássemos um docinho. Mais do que a aparência do doce (absolutamente normal), o que fazia com que eu comprasse o chocolate era a sua cara. Seus olhos pequenos me faziam acreditar que ela dependia daquilo para sobreviver. Sua voz baixa e sua aparência desleixada também lhe conferia um aspecto meio louco, ela parecia ter um parafuso a menos, digamos.
Um dia comprei um brigadeiro dela pela última vez. Ela apareceu repentinamente no saguão do IL com sua cara de sempre e enquanto eu catava uma moeda de um real, minha hoje namorada - na época apenas colega de sala - gesticulava. Quando a vendedora acidentada foi embora, ela (minha namorada) explicou que comprou um brigadeiro daquela senhora na videolocadora em que trabalhava na Avenida Getúlio Vargas, prova de que aquela mulher rodava Cuiabá com sua cara suplicante vendendo brigadeiros. Havia um cabelo dentro do brigadeiro comprado, o que depunha contra a qualidade higiênica do produto.
Nunca mais comprei seus brigadeiros e evitei ao máximo seu olhar de carência psicótica. Me formei e nunca mais a vi até hoje, quando ela caiu no chão sem explicação e sem brigadeiros.
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