O impeachment de Fernando Collor em 1992 é dessas lembranças que ficam claras na mente. Lembro de ter cinco anos e estar na casa da minha avó assistindo a votação dos deputados pela sua saída. Me lembro bem da vibração quando alguém votava sim e da reação negativa de quando alguém dizia ser contrário. Cada um que subia na tribuna para falar "não" ganhava automaticamente um carimbo de "corrupto na testa".
Mas do que o dia em si, eu me lembro do período que antecedeu sua queda. Lembro daquele clamor popular pela sua saída, das pessoas de preto nas ruas e lembro da minha família, torcendo para que ele caísse. E não tenho dúvida, o clamor pela sua queda foi motivado pelo dia em que ele confiscou as poupanças, o que complicou a vida de muita gente.
Por vezes, surge algum defensor de Collor que o classifica como um injustiçado, que nada jamais ficou provado contra ele e que ele foi derrubado pela mídia. De fato, a imprensa contribuiu para sua queda, da mesma forma que contribuiu para que ele assumisse o poder. De fato, Collor talvez tenha feito as mesmas coisas que outros já fizeram impunes. Mas, a injustiça geral não pode desmerecer uma justiça individual.
A queda de Collor foi um pequeno marco para a minha geração, das pessoas que tinha cinco anos naquela época, pessoas que começavam a ter uma noção do mundo. Me parece até hoje um efeito grandioso, talvez o último momento em que o brasileiro tenha lutado por alguma coisa, antes de se tornar apático. Apatia talvez provocada pela estabilização da economia, queda da inflação, ou mesmo pela desmotivação provocada pelos desmandos gerais.
Sim, porque os 20 anos sem Collor não existem. Collor voltou, se não como presidente, como alguém influente no cenário nacional. Assim como ele, tantos outros voltaram, outros jamais saíram. No Brasil o perdão sempre vem de alguma forma, seja da justiça ou do povo. A queda de Collor em 1992 talvez tenha sido o último momento em que se acreditou que o povo poderia lutar por alguma coisa.
Comentários