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O fim do campo

Existe um campo de futebol no meu bairro. Ele existe lá, desde que eu me conheço, sempre esteve lá. Estaria mentido se falasse que ele marcou minha infância, porque lá eu jogava bola. Joguei lá apenas uma vez e por pouco tempo. Não tinha amigos de bairro para jogar bola por lá.

Mas ele sempre esteve lá, com as crianças jogando bola quando as vacas não pastavam e aparavam o gramado. Ele, que ficava alagado nas chuvas torrenciais, transformando-se num pântano.

Pois agora, estão acabando com o campo. Ele é um terreno que pertencia a União e aos Correios (na sua frente, existe uma agência dos correios). Dia desses, me surpreendi com uma série de placas de concreto. E agora, lá estão os homens, cercando o muro.

É claro que o dono do terreno tem o direito de fazer o que quiser com ele. Mas o que me intriga, é que a obra prevê apenas a construção do muro. Um muro, que separe o enorme vazio das crianças que lá jogavam futebol. Me parece uma extrema sacanagem.

Os Correios patrocinam meia dúzia de atletas de alto nível e gostam de falar que incentivam o esporte nacional. Patrocinar atletas de alto nível é fácil. O cara já está formado, já sofreu tudo o que tinha que sofrer. Os Correios e a União fariam muito mais pelo esporte nacional se mantivessem um campo de futebol, piscinas, quadras para as crianças. Fariam muito mais, se não construíssem um muro ao redor do campinho.

E aí, vem o outro lado. O preço da Obra. 83 mil reais para erguer o muro. Pelas minhas contas, são 350 metros de muro, 237 reais por metro de muro. Em uma pesquisa pela internet, não encontrei muros que custassem mais do que 70 reais por metro. São quase 60 mil reais que não são gastos no material. Não sei no que eles são gastos, no transporte alimentação e salário dos cinco homens que ficam ali prendendo o muro.

Mistério.

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