Os anos 90 representaram uma espécie de renascimento para uma série de artistas que surgiram nos anos 60 e viveram o seu auge criativo até os anos 70. No geral, são músicos que viveram anos terríveis durante a década de 80 - uma década sui generis no mundo musical - tentando se conectar às tendências dessa época, mas soando sempre deslocados, parecendo pouco confortáveis, tentando vestir uma roupa que não lhes cabia direito.
Alguns dos bons exemplos deste sofrimento são Paul McCartney, Bob Dylan, Neil Young e Eric Clapton. Após o fim dos Wings - cujos últimos discos já não eram grande coisa - Paul tentou abraçar o SynthPop, fez parcerias com Michael Jackson, lançou o terrível Give My Regards to Broad Street e até músicas com algum potencial, como My Brave Face, eram embalada em uma estética terrível.
Seu renascimento ocorreu no ano de 1997, quando após passar alguns anos envolvido no projeto do Anthology, ele reencontrou suas origens e lançou o belo Flaming Pie. Desde então, sua carreira mantém um bom nível pelo fato de que Paul descobriu que ele não precisa ser ninguém mais além de Paul McCartney. Ele é a tendência, não alguém que precisa seguir tendências.
Quem também se reencontrou em 1997 foi Bob Dylan, com seu genial Time Out of Mind. Um dos discos mais densos de todos os tempos (It’s not dark yet… but it’s getting there), em que no auge dos seus 56 anos Dylan enfrentou a morte e encontrou sua voz de autoridade perante os martírios do mundo. Antes disso, o Oh Mercy pode até ser bom, mas pouca coisa se salvava desde o Infidels, de 1983. (Empire Burlesque, Knocked Out Loaded ou Down in the Groove. Qual é o pior?).
Já a carreira solo do Eric Clapton não chega a ser nenhuma maravilha (sabe como é, apesar de alguns bons discos, nada foi tão bom quanto o que ele fez no Cream ou no Derek & The Dominos). Mas, os seus discos estilo Phil Collins no meio dos anos 80 representam o fundo do poço. Journeyman de 1989 já sinalizava uma volta à forma, mas ela só se concretizou com o projeto Unplugged de 1992 (a versão de Running on Faith humilha a de Journeyman) e o ótimo From the Cradle de 1994 - que compete com seus dois primeiros álbuns pelo título de melhor da carreira.
Já o Neil Young é um pouco diferente. Após Rust Never Sleeps ele se perdeu entre as tendências da época e auto-sabotagem, mas seu ponto de retorno veio em 1989 com o Freedom. Só que o seu grande disco mesmo é o Ragged Glory, de 1990, com suas distorções deixando qualquer um com zumbidos no ouvido. (Ok, a carreira do Neil Young sempre seguiu meio errática desde então).
Há outros exemplos, como os Rolling Stones reencontrando a forma em Voodoo Lounge de 1994. Quase sempre são casos de artistas que, ao se aproximarem dos seus 60 anos, redescobriram a fórmula. Ou talvez tenham se reconectado com sua arte. Podem não ser discos geniais, sem aquela inquietude vibrante da juventude, mas são bons trabalhos.
Pois bem, nos últimos anos tenho percebido uma espécie de renascimento de artistas que surgiram nos anos 90, viveram seu auge até os anos 2000 e passaram por dificuldades nos anos 2010. Nesse caso, não que eles tenham tentado se adaptar a alguma característica específica da produção musical dos anos 2010, talvez fosse só crise criativa mesmo.
O fato é que uns 10 anos atrás, sempre que uma banda que eu gostava muito ia lançar um disco, invariavelmente a sensação era de frustração. O Wilco com Star Wars e Schmilco, aquele disco documentário do Foo Fighters (ou mesmo o insosso e recente Medicine at Midnight), o Boarding House Reach do Jack White, os discos pós-Lonely Boy dos Black Keys. Mais exemplos? Aquele disco baladinha do Queens of the Stone Age, a tragédia musical do Travis.
No entanto, nos anos pós-pandêmicos quase todos os discos que esses artistas que eu escutava quando tinha 20 e poucos anos (ou um pouco menos de 20 anos), são agradáveis. O Cruel Country e o Cousin do Wilco são legais. O In Times new Roman do QOTSA é muito bom. Black Keys lançaram seu melhor disco desde o Brothers - no caso o Ohio Players.
Esses novos lançamentos me trazem boas sensações. São obras que, longe de serem brilhantes, agradam. O que fica é a dúvida: são esses artistas que se reencontram no mundo ou sou eu que fiquei mais velho? A zona de conforto é de quem?
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