Talvez eu pudesse ter assistido um show do Paul McCartney antes. De 2010 para cá o ex-Beatle veio um par de vezes ao Brasil e se apresentou nas grandes capitais como Rio de Janeiro, São Paulo, Brasília, Porto Alegre, Curitiba, Belo Horizonte, Salvador, Fortaleza e Recife. Tocou até em locais fora do grande eixo de shows, como Florianópolis, Goiânia e Cariacica. Sim, no Espírito Santo.
Algumas vezes faltou vontade, um pouco mais de esforço. Em outras sobraram algumas desculpas pessoais, apesar de que, como é que não se pensou em ir até Brasília ver um show? Na última vez estávamos grávidos e aí não tinha como. Em um dos shows dele, acho até que estávamos em São Paulo, mas esperando para ir de férias para outro lugar. Ele chegou a estar no Brasil enquanto eu estava na Europa.
Foram tantos shows que chegou a parecer banal e trivial. Qualquer dia viria essa oportunidade. Eu nem gostava tanto do Paul, essa chatice existencial que muitas vezes tenta diminuir os fatos bons por qualquer implicância.
Enfim, vai ser amanhã. Pela segunda vez Paul McCartney tocará no Maracanã, palco da sua primeira apresentação aqui em 1990, 33 anos atrás. Eu era uma criança que ainda não tinha três anos de vida, não conhecia Beatles, nem nada da vida.
Na véspera desse show, me lembro de como os Beatles estavam sempre em um plano de fundo da vida. O tio e a tia que eram fanáticos na juventude. O quadro na Rádio Cultura "Beatles Forever", que tocava 30 minutos diários do grupo.
Mas foi em 2001 que eu descobri o Abbey Road. Único disco do grupo em casa. E quantas tardes não passei escutando Oh! Darling, com os gritos do Paul sendo o único alívio para angústia juvenil.
Sim, eu não ligo tanto para a carreira solo dele. Prefiro a do John e a do George. Mas, ver um membro dos Beatles é uma experiência única, como tantas pessoas falaram por aí. Algo que todo mundo deveria ter a oportunidade de ver.
Let it Be, Hey Jude, The End, Can't Buy me Love. Só isso já valeria o ingresso. Escuto a playlist antes do show, passando um pouco a vida em retrospectiva. A música do convite do meu casamento foi escrita pelo Paul. Um dia eu fui um jovem em um ônibus em alguma estrada escutando uma coletânea no discman e dissecando cada detalhe de Hey Jude.
Familiares foram no shows, muita gente foi. Talvez tenha sido a pandemia que criou de alguma forma esse sentimento de viver a vida.
E acho que é isso. Se eu nunca fui em um show amanhã, se nunca me esforcei é porque não tinha uma chama interior me dizendo para ir.
Mas agora vai. Amanhã, mesmo cento e poucos metros longe, vou ver o Paul.
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