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Reta final das pesquisas eleitorais em outros anos

Faltando pouco menos de um mês para as eleições presidenciais, Lula segue na liderança das pesquisas mantendo uma vantagem que varia entre 8 e 13 pontos sobre Jair Bolsonaro. Parece que o jogo está amarrado e caminhando para a prorrogação, mas não custa buscar no passado possíveis respostas para o que pode acontecer.

Afinal, o que diziam as pesquisas eleitorais há mais ou menos um mês da disputa em anos anteriores? Vamos aos números do Datafolha.

Em 1994 a eleição se resumiu a uma disputa entre Fernando Henrique Cardoso e Lula, com o naufrágio das candidaturas de Orestes Quércia, Espiridião Amim e Leonel Brizola. Em 30 de agosto de 1994, o cenário era o seguinte:

- FHC com 53,6% - terminou com 54,2%.
- Lula com 27,4%, terminou com 27%.

Ou seja, no último mês de disputa nada demais aconteceu e os candidatos mantiveram seus votos. Neste ano, Lula começou a disputa eleitoral na frente, mas FHC começou a virar o jogo no começo de julho e já em agosto aparecia com uma vantagem que não perdeu mais. Eram outros tempos, em que a campanha na TV e nos jornais eram fundamentais.


Em 1998, novamente a disputa ficou entre Lula e FHC. O então presidente largou na frente, mas viu Lula se aproximar um pouco em junho, antes de começar a abrir vantagem novamente no início da campanha na TV. No dia 1º de setembro de 1998 o Datafolha mostrava a seguinte situação:

- FHC com 57,1% - terminou com 53%.
- Lula com 31% - terminou com 31,7%.

Pouco coisa mudou, apesar de uma pequena queda de FHC - contraposta pelo crescimento do jovem Ciro Gomes, que já então tentava se materializar como 3ª via. Mas, o cenário pouco mudou.


Vamos então para 2002. Com o governo FHC terminando em uma crise econômica, Lula largou com boa vantagem na disputa, enquanto o governista José Serra patinava. Ciro Gomes cresceu vertiginosamente e chegou a encostar em Lula, antes de ser vítima de uma agressiva campanha de José Serra explorando frases polêmicas suas na propaganda eleitoral. Eis os números do Datafolha para o dia 30 de agosto daquele ano.

Lula tinha 43,7% - terminou com 46,4%

Ciro Gomes tinha 23% - terminou com 12%

José Serra tinha 21,8% - terminou com 23,2%

Antony Garotinho tinha 11,5% e terminou com 17,9%

Podemos ver que Ciro Gomes derreteu de vez na reta final, mas seus votos não foram tanto para José Serra - Garotinho acabou sendo o principal herdeiro. Então aqui tivemos uma mudança: Saiu Ciro Gomes, entrou José Serra no segundo turno.


Na campanha de 2006 sim, podemos dizer que ocorreu uma mudança. No dia 5 de setembros os números eram os seguintes:

Lula tinha 56,6% - terminou com 48,6%

Geraldo Alckmin tinha 30% - terminou com 41,6%

Essa foi a eleição disputada logo após a crise do mensalão e a campanha de Alckmin explorou muito bem esse assunto na reta final da campanha, incluindo capas e mais capas bombásticas da revista Veja. A estratégia não teve tanto fôlego, já que no segundo turno Alckmin teve menos votos do que no primeiro.


Para 2010 a eleição teve como fato marcante o crescimento de Marina Silva na reta final. Esse, talvez, tenha sido o principal fator para provocar o segundo turno entre Dilma Rousseff e José Serra. Veja a pesquisa do Datafolha em 6 de setembro daquele ano.

Dilma Rousseff tinha 56% - terminou com 46,9%.
José Serra tinha 31,5% e terminou com 32,6%
Marina Silva tinha 11,2% e terminou com 19,3%

Marina foi mais uma das tantas tentativas de terceira via. Seu crescimento na última semana, principalmente nas capitais, acabou provocando um segundo turno para o qual José Serra foi mesmo permanecendo estagnado.


Em 2014 tivemos a primeira eleição amplamente disputada nas redes sociais e não é a toa que observamos grandes mudanças no fim.

Em 4 de setembro desse ano:

Dilma Rousseff tinha 40,2% e terminou com 41,6%.
Marina Silva tinha 39,1% e terminou com 21,3%
Aécio Neves tinha 16,1% e terminou com 33,5%

É claro que nem toda explicação é tão simples assim. A eleição de 2014 foi disputada pouco mais de um ano após as convulsões de 2013 - que aumentam o antipetismo exponencialmente e, além disso, foi marcada pela morte do candidato da terceira via, Eduardo Campos, em pleno período eleitoral.

Com isso, sua vice Marina Silva assumiu a candidatura e, embalada pela comoção nacional, chegou a empatar tecnicamente com Dilma Rousseff e abrir vantagem em um eventual segundo turno. Isso fez com que o campo antipetista embarcasse no seu projeto, em detrimento do tradicional rival Aécio Neves.

Mas, o fim da comoção, uma forte campanha difamatória patrocinada pelo PT e o desempenho frágil de Marina fizeram com que ela passasse a se mostrar mais fraca em um eventual segundo turno do que Aécio. Com isso, os eleitores antipestistas voltaram para o colo do tucano na reta final e o mantiveram na disputa.


Por fim, em 2018 a Pesquisa mais próxima dessa data foi realizada em 11 de setembro, cinco dias após Bolsonaro receber a facada e dez após Haddad ser oficializado como candidato petista na eleição. Era um cenário completamente atípico, como se um meteoro tivesse atingindo o eleitorado que ainda estava no meio da poeira sem saber onde iria cair. Pois bem, nessa data:

- Jair Bolsonaro tinha 30,7 % dos votos válidos. Terminou com 46%, ou seja, ganhou 16.
- Fernando Haddad tinha 11,5% e terminou com 29,2%, ou seja, ganhou 17,7.
- Ciro Gomes tinha 16,6% e terminou com 12,4%, perdeu 4,2.
- Geraldo Alckmin tinha 12,8% e terminou com 4,8%. Oito pontos foram embora.
- Marina Silva tinha 14,1% e terminou com 1, 13,1% a menos.

Essa foi uma eleição marcada por toda essa confusão e pela concretização do voto útil, de carona em um WhatsApp cada vez mais poderoso. Em vários Estados, diversos candidatos cresceram nos últimos dias e últimas horas, para melhora atender os interesses dos eleitores. (Witzel, Zema, Coronel Moisés).

Dessa forma, Marina Silva e Ciro Gomes perderam o voto dos órfãos de Lula para Haddad. Marina Silva perdeu todos seus votos para quem tentava colocar Ciro no segundo turno. Com Jair Bolsonaro consolidado na liderança, Alckmin e Álvaro Dias derreteram em prol de quem queria ver o PT derrotado logo no primeiro turno.


Para 2022 é claro que muita coisa pode acontecer. O voto útil está aí e pode beneficiar qualquer um dos dois líderes. Mas, diferentemente das últimas duas eleições, o antipetismo não é a força motriz da disputa, uma vez que agora há o antibolsonarismo. Isso ajuda a explicar os votos congelados nos dois líderes, mas é claro que os exemplos de 2002 e 2006 mostram que um desgaste mais forte pode mudar, mesmo que levemente, o caminho da disputa.

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