André Barcinski anunciou que o filme "O Quarto do Filho" está em exibição na plataforma Mubi na internet. Assisti esse filme lá pelos idos de 2003 nos canais da HBO, quando estava para fazer 16 anos e foi um tanto quanto traumático.
O filme é excelente, mas seu enredo é das coisas mais genuinamente tristes que a mente humana poderia imaginar. Os pais perdem um filho adolescente e toda sensação de tristeza, remorso e culpa é materializada no quarto vazio do rebento. O quarto vazio do filho que morreu. Difícil imaginar algo mais triste.
Tão triste que fiquei me sentindo mal por alguns dias. Sempre que em outras oportunidades passava por um canal que reproduzia o filme, mudava rapidamente, para não ter nenhum contato com essa obra tão aterrorizante.
Diante do anúncio de Barcinski, respondi que é preciso estar com o psicológico em dia para encarar essa pedrada. E ele respondeu que de fato, agora que ele tem filhos o filme bateu ainda mais pesado.
Pensei em mim, então, que tenho um filho ainda criança. Acho que agora é que eu não teria coragem mesmo para encarar a película.
Acabei por refletir que, quando assisti ao filme quando tinha 16 anos, acabei me colocando no lugar do adolescente que morre na praia e por isso me vi diante da imaginação da minha própria morte. Se assistisse agora, me veria no lugar do pai que perde o filho. Não tenho dúvida de que imaginar a morte do filho é muito pior do que imaginar a própria morte.
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Foi um amigo meu, Augusto, que pela primeira vez me fez pensar sobre o assunto. Certa vez ele me relatou de como teve experiências diferentes ao assistir o filme "Alta Fidelidade" em diferentes épocas da vida.
Logo no lançamento como um jovem universitário ele achou o filme divertido, se pegou nas referências musicais. Anos depois, já casado, chorou.
Pensei nisso com relação a Forrest Gump, que talvez seja meu filme favorito.
Assisti ele pela primeira vez quando tinha meus 8 anos, por aí, e fiquei fascinado com todos aqueles fatos históricos que cercavam o personagem principal. Foi preciso me explicar a morte de Jenny e sua ligação com a AIDS, mas eu só pensava nele jogando Ping Pong, lutando na guerra (por vezes a chuva vinha de cima, por vezes de frente, por trás, e algumas vezes parecia que vinha de baixo - sempre me lembro dessa passagem), correndo todos os Estados Unidos e esses acontecimentos fantásticos.
Quando estava na metade da faculdade, na altura dos meus 20 anos, assisti o filme novamente em DVD. Nesta vez, eu fui pego por ainda mais referências inatingíveis quando eu era criança (Watergate, Imagine, por aí vai) e prestei mais atenção em sua relação com Jenny e o Coronel Dan, havia alguma beleza naquele filme.
Voltei a ver novamente o filme quando era um recém-casado, chegando nos 30 anos. E aí achei o filme imensamente triste, quase chorei quando ele conversa com o túmulo da Jenny, achei o Coronel Dan o personagem mais profundo da história e percebi que por trás de todas aquelas aventuras, no fim, há apenas a solidão e a tentativa de encontrar um propósito na vida.
Pode acontecer com vários filmes. Ao assistir ET, o Extraterreste alguns anos atrás, achei o filme extremamente melancólico, quase uma paródia para a situação de diversos refugiados, que no fim das contas querem apenas voltar para casa e que, enquanto estrangeiros, são submetidos as mais diversas crueldades. Bicicletas voando, dedos brilhando, tudo isso é um enorme disfarce para a melancolia.
No fim, não chega a ser uma novidade, é claro. A Pixar sabe disso muito bem, contando histórias com várias camadas para agradar crianças e adultos ao mesmo tempo.
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