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Quem ganha com a intervenção?

Michel Temer é um senhor idoso que por vezes flerta com a senilidade. Mesmo ostentando recordes de rejeição - é praticamente humanamente impossível alguém ser tão rejeitado quanto o senhor Elias Lulia - ele sonha com a possibilidade de ser candidato a re-eleição. Possibilidade, claro, que só pode ser aventada por pessoas com falhas cognitivas e que vivam completamente alienadas do mundo.

Durante muito tempo o nosso presidente pensou que conseguiria o sucesso por meio de medidas impopulares que lá na frente se mostrariam eficazes e fariam que o povo brasileiro, em massa, o aclamasse presidente. A re-eleição, era só isso que ele queria, nem fazia questão dos pedidos de desculpas. No entanto, com o tempo passando e sua aprovação patinando no lodo do fundo do poço, ele percebeu que medidas impopulares não aumentam a popularidade e resolveu apelar para um novo artifício, mexendo com um assunto que está sempre pulsando na mente humana: a insegurança.

Até o momento a economia parecia ser o assunto principal das próximas eleições: desemprego, geração de renda, retomada do crescimento, as próprias reformas do Temer. A corrupção era outro assunto por conta da interminável operação Lava-Jato e também por conta da participação do Lula. O candidato aí que se mostrasse mais capaz de enfrentar esses dois problemas, certamente sairia fortalecido no processo.

A Segurança Pública, por sua vez, é uma preocupação constante da população, mas sempre passou alheia das eleições presidenciais. Afinal, a República responde pela segurança nacional e não há nenhuma demonstração de que o Brasil vá entrar em guerra em um momento próximo. Questões sobre segurança sempre se fazem mais presentes nas eleições para governador e no eterno debate improdutivo do poder Legislativo.

Quando criou o ministério da Segurança Pública e determinou a intervenção militar nesta área no Rio de Janeiro, Michel Temer inverteu essa lógica. Trouxe a questão da Segurança para os braços da presidência e jogou uma pressão em seu sucessor. Como todo esse embate se trava no mais midiático dos estados brasileiros, a intervenção de Temer acaba por jogar a Segurança Pública no centro da discussão sobre a sucessão presidencial, substituindo a economia.

Sim, de certa forma é a chance de sobrevida que Temer quer. Dependendo do sucesso do projeto e, principalmente, do tratamento midiático para a intervenção, a imagem pública do vampiro presidente pode melhorar. Matérias no Jornal da Globo mostrando populares satisfeitos, dizendo que viram resultados e que agora se sentem mais seguro, conseguem ver a presença do Estado no combate à criminalidade, podem permitir a candidatura de Temer. Sim, isso é bem difícil, mas em um bom cenário pode garantir uma boa candidatura de uma pessoa indicada pelo presidente. No pior dos cenários, faz com que o seu PMDB seja um partido minimamente ouvido na disputa.

Por outro lado, a centralização da Segurança é positiva para um candidato específico: sim, ele, o Messias Bolsonaro. Seu discurso inflamado de extermínio dos criminosos e de qualquer tipo de sub-gênero humano bate forte no imaginário popular de resolução dos problemas da criminalidade.

Se der tudo muito certo e a imagem da sensação de segurança for vendida corretamente, quem se fortalece é Bolsonaro, porque quem se fortalece são as Forças Armadas. O Exército diminuiu a violência no Rio, o que nós precisamos? De uma presença mais forte do Exército. Quem é o Exército na sucessão presidencial? Bolsonaro.

Se por outro lado, tudo der muito errado e a situação continuar problemática, quem é que se fortalece? Bolsonaro. Porque o fracasso da intervenção ficará associada a falta de pulso e autonomia para as Forças Armadas e o único nome que pode conduzir com mão-de-ferro o combate a violência é o do Messias.

Em suma, a jogada marqueteira de Michel Temer para impulsionar a própria imagem criou um jogo no qual só haverá um vencedor.

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