Pular para o conteúdo principal

Pequenas histórias

Em um primeiro momento, o Celso parecia o chefe louco que veio de algum lugar para aterrorizar nossas vidas. Afinal, tinha um personalidade forte e algo extravagante, falava alto como os cariocas, fumava alucinadamente e não fugia de uma briga. Ninguém sabia de suas origens, o que em Cuiabá sempre pode parecer um crime.  Ao longo do tempo foi possível ver que sua personalidade era tão polêmica quanto parecia ser, o que afugentou e provocou ojeriza de muita gente. Não é a toa que ao final da sua passagem pela Secom-MT, ele foi vítima de uma das maiores sacanagens que já presenciei, tudo por conta da briga pelo poder.

Pois bem, o Celso de Castro Barbosa morreu ontem, me informou o Facebook. Perdi algum tempo lendo as lembranças dos amigos, sempre tão saudosas (provavelmente, ele foi meu primeiro contato do Facebook a morrer). Convivi com o Celso durante dois anos, período em que no fim tivemos uma boa relação, em que ele confiou no meu trabalho. Lembro sempre de que no dia do meu casamento, já na parte final da cerimônia, senti o celular apitando no bolso. Só fui conferir depois que era ele dizendo "soube que você está se casando hoje" e me desejando felicidades.

Mas enfim, foi um convívio curto. Pouco conhecíamos sobre sua vida, tirando algumas histórias loucas, os highlights de nossas vidas que costumamos contar para impressionar os amigos. Lendo as lembranças dos amigos, pude conhecer um pouco mais dos pequenos detalhes, aquelas pequenas histórias que muitas vezes ficam restritas a um pequeno grupo de amigos, ou simplesmente a duas pessoas. Achei particularmente interessante um relato sobre a vez em que ele trancou os donos do Jornal do Brasil no refeitório.

De certa forma nossas grandes histórias podem fazer com que fiquemos conhecidos, podem se perpetuar. Mas as pequenas histórias é que ficam naquela lembrança sentimental mais forte.

Comentários

Postagens mais visitadas

Aonde quer que eu vá

De vez em quando me pego pensando nisso. Como todos sabem, Herbert Vianna, dos Paralamas do Sucesso, sofreu um acidente de avião em 2001. Acabou ficando paraplégico e sua mulher morreu. Existe uma música dos Paralamas, chamada "Aonde quer que eu vá" que é bem significativa. Alguns trechos da letra: "Olhos fechados / para te encontrar / não estou ao seu lado / mas posso sonhar". "Longe daqui / Longe de tudo / meus sonhos vão te buscar / Volta pra mim / vem pro meu mundo / eu sempre vou te esperar". A segunda parte, principalmente na parte "vem pro meu mundo" parece ter um significado claro. E realmente teria significado óbvio, se ela fosse feita depois do acidente. A descrição do acidente e de estar perdido no mar "olhos fechados para te encontrar". E depois a saudade. O grande detalhe é que ela foi feita e lançada em 1999. Dois anos antes do acidente. Uma letra que tem grande semelhança com fatos que aconteceriam depois. Assombroso.

Ziraldo e viagem sentimental por Ilha Grande

Em janeiro de 1995 pela primeira vez eu saí de férias em família. Já havia viajado outras vezes, mas acho que nunca com esse conceito de férias, de viajar de férias. Há uma diferença entre entrar em um avião para ir passar uns dias na casa dos seus tios e pegar o carro e ir para uma praia. Dormir em um hotel. Foi a primeira vez que eu, conscientemente, dormi em um hotel. Contribui para isso o fato de que, com sete anos, eu havia acabado de terminar a primeira série, o ano em que de fato eu virei um estudante. Então, é provável que pela primeira vez eu entendesse o conceito de férias. Entramos em uma Parati cinza e saímos de Cuiabá eu, meus pais, minha prima e minha avó. Ao mesmo tempo em que essas eram as minhas primeiras férias, elas eram também a última viagem da minha avó. A essa altura ela já estava com um câncer no pâncreas e sem muitas perspectivas de longo prazo. Disso eu não sabia na época. Mas ela morreu cerca de um ano depois, no começo de 1996, após muitas passagens pelo hos

Pattie Boyd

Pattie Boyd O romance envolvendo George Harrison, Pattie Boyd e Eric Clapton é um dos mais conhecidos triângulos amorosos da história. Sempre achei o caso interessante. A princípio, a visão que nós temos é bem simplista. Pattie trocou o sensível George Harrison, aquele que lhe cantou a sentimental Something na cozinha, pelo intempestivo Eric, aquele que a mostrou a passional Layla na sala. E se há uma mulher irresistível neste mundo, esta mulher é Pattie Boyd. Só que o trio Boyd-Harrison-Clapton é apenas a parte mais famosa de uma série de relações amorosas e traições, que envolveram metade do rock britânico da época. E o que eu acho incrível, é que todos continuaram convivendo ao longo dos anos. George Harrison Pattie Boyd era uma modelo que fazia figuração em um vagão de trem durante a gravação de uma cena de A Hard Day’s Night, o primeiro filme dos Beatles. George era justamente um Beatle. Eric Clapton era o deus da guitarra e converteu vários fãs em suas inúmeras bandas