Pular para o conteúdo principal

By The Way, 14 anos depois

Quando foi lançado em 2002, By The Way deu sequência ao sucesso que o Red Hot Chili Peppers havia conquistado com seu lançamento anterior, Californication. Deu início também a um processo de decadência da banda que, digamos, amadureceu, e foi se afastando de suas raízes no funk rock, funk metal, ou seja lá o que for.

Lembro bem de quando a música By The Way foi lançada, com seu clipe bizarro na MTV. Era o melhor do RHCP. Baixo frenético, vocais acelerados, refrão melódico. A faixa título foi seguida por outros dois singles muito bons, The Zephyr Song - uma balada romântica embalada por um clipe lindo e caleidoscópico - e Can't Stop, outro funk rock com refrão grudento.

Mas nem tudo era perfeito e o resto do disco me pareceu bem ruim na época. Lembro de escutá-lo no Terra Rádio, talvez na Usina do Som, numa época em que o streaming parecia uma solução paliativa ao poder da MP3, tanto que os principais sites de streaming faliram logo depois e, estranhamente, uns dez anos depois eles reapareceram como solução para a humanidade.

Lembro bem que gostei de apenas outras duas músicas: Minor Thing e On Mercury. Achei aquela que seria o quarto single - Universally Speaking - uma tremenda porcaria. Várias baladinhas sem graça, tentativas psicodélicas sem graça e, enfim, desapaguei um pouco da banda que então era uma espécie de um porto seguro para um roqueiro de 15 anos, numa época em que dependíamos muito do que passava na MTV para guiar nossos gostos musicais.

Quatorze anos depois, o RHCP nunca mais lançou nada de bom e eu fiquei esse tempo todo sem escutar o By The Way, exceção feita as cinco músicas que eu gostava e que tinha em MP3 no meu computador. Ano passado, depois de todo esse tempo, resolvi voltar a escutar o disco.

E droga, o disco agora vem com todo o gosto da nostalgia, todo o gosto dos meus 15 anos e nem parece mais tão ruim assim. Universally Speaking, aquela porcaria, agora é uma balada que gruda no ouvido com um refrão épico que dá vontade de cantar junto. Os três primeiros singles soam como clássicos absolutos e dá pra dizer que By The Way, by the way, está no nível da maioria dos discos que eles lançaram antes, um pouco atrás ali dos clássicos que são Californication e Blood, Sugar, Sex, Magik.

Maldita nostalgia que se infiltra nas coisas ruins do passado.

Comentários

Postagens mais visitadas

Aonde quer que eu vá

De vez em quando me pego pensando nisso. Como todos sabem, Herbert Vianna, dos Paralamas do Sucesso, sofreu um acidente de avião em 2001. Acabou ficando paraplégico e sua mulher morreu. Existe uma música dos Paralamas, chamada "Aonde quer que eu vá" que é bem significativa. Alguns trechos da letra: "Olhos fechados / para te encontrar / não estou ao seu lado / mas posso sonhar". "Longe daqui / Longe de tudo / meus sonhos vão te buscar / Volta pra mim / vem pro meu mundo / eu sempre vou te esperar". A segunda parte, principalmente na parte "vem pro meu mundo" parece ter um significado claro. E realmente teria significado óbvio, se ela fosse feita depois do acidente. A descrição do acidente e de estar perdido no mar "olhos fechados para te encontrar". E depois a saudade. O grande detalhe é que ela foi feita e lançada em 1999. Dois anos antes do acidente. Uma letra que tem grande semelhança com fatos que aconteceriam depois. Assombroso.

Ziraldo e viagem sentimental por Ilha Grande

Em janeiro de 1995 pela primeira vez eu saí de férias em família. Já havia viajado outras vezes, mas acho que nunca com esse conceito de férias, de viajar de férias. Há uma diferença entre entrar em um avião para ir passar uns dias na casa dos seus tios e pegar o carro e ir para uma praia. Dormir em um hotel. Foi a primeira vez que eu, conscientemente, dormi em um hotel. Contribui para isso o fato de que, com sete anos, eu havia acabado de terminar a primeira série, o ano em que de fato eu virei um estudante. Então, é provável que pela primeira vez eu entendesse o conceito de férias. Entramos em uma Parati cinza e saímos de Cuiabá eu, meus pais, minha prima e minha avó. Ao mesmo tempo em que essas eram as minhas primeiras férias, elas eram também a última viagem da minha avó. A essa altura ela já estava com um câncer no pâncreas e sem muitas perspectivas de longo prazo. Disso eu não sabia na época. Mas ela morreu cerca de um ano depois, no começo de 1996, após muitas passagens pelo hos

Imola 94

Ayrton Senna era meu herói de infância. Uma constatação um tanto banal para um brasileiro nascido no final dos anos 80, todo mundo adorava o Senna, mas eu sentia que era um pouco a mais no meu caso. Eu via todas as corridas, sabia os resultados, o nome dos pilotos e das equipes. No começo de ano comprava revistas com guias para a temporada que iria começar, tinha um macacão e um carrinho de pedal com o qual dava voltas ao redor da casa após cada corrida. Para comemorar as vitórias do Senna ou para fazer justiça com meus pedais as suas derrotas. Acidentes eram parte da diversão de qualquer corrida. No meu mundo de seis anos, eles corriam sem maiores riscos. Pilotos por vezes davam batidas espetaculares, saiam ricocheteando por aí e depois ficava tudo bem. Já fazia 12 anos que ninguém morria em uma corrida. Oito sem ninguém morrer em qualquer tipo de acidente. Os últimos com mais gravidade tinham sido o do Streiff e do Martin Donelly, mas eu nem sabia disso, para dizer a verdade. Não sab