Viaje por qualquer estrada de Mato Grosso e se assuste com a quantidade de animais atropelados no meio-fio. Desde os cachorros e gatos, passando pelas emas e dependendo do lugar você verá patos, capivaras, quatis, tamanduás, tatus, cobras e toda e qualquer espécie de animal que tenha falhado na tentativa de atravessar a estrada, seja ela movimentada ou não.
Foi indo para Santa Cruz do Xingu por um rodovia qualquer que eu vi um bezerro morto. Seu corpo jazia no meio da estrada, ossos quebrados mas o couro ainda intacto, significando que o atropelamento ainda era recente. Seu pescoço quebrado fez com que o bezerro morresse olhando para cima, com seus olhos opacos encarando o céu nublado, poucas moscas rondavam seu focinho.
A cena do pobre bezerro já era suficientemente impactante, me sensibilizo com qualquer animal atropelado, ainda mais em uma estrada tão vazia e tão distante.
Só que havia uma vaca na beira da estrada. Com suas tetas cheias ela observava com seus olhos tristes o cadáver no meio da lama. Todas vacas tem um ar melancólico. O carro em que eu estava chegou, passou e se distanciou e pelo retrovisor olhei que a vaca continuava olhando o bezerro acidentado.
Por um instante foi impossível não pensar naquela vaca como a mãe olhando o seu filho, esperando que a prole se levantasse. Não sei se animais entendem a morte, mas tenho certeza que tem algum sentimento materno.
O carro se afastou deixando para trás a vaca e o cadáver. E naquele dia eu não tive coragem de comer carne.
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