Pular para o conteúdo principal

Todos juntos, vamos?

No dia em que o Brasil estreou na Copa de 1994 fui pego de surpresa ao ser liberado mais cedo da aula. De fato, não havia me ligado que o Brasil jogaria naquele dia e estranhei ainda mais que, quando fomos liberados, o pátio já estava cheio de pais que foram buscar seus filhos, inclusive minha mãe. Como é que todos sabiam disso? Onde é que eles haviam combinado? Vale lembrar que na época não existia Facebook.

O jogo da seleção era um evento nacional que reunia pessoas em volta da televisão. Tive a certeza naquele dia de que ninguém morria em hora de jogo do Brasil na Copa. Aliás, jogos da seleção pareciam ter uma certa importância. Me lembro de jogos das Eliminatórias, Copa América, aqueles torneios amistosos excêntricos disputados na Europa, incluindo um esquizofrênico Torneio disputado na França em 1997 que foi vencido pela Inglaterra. Ou as trágicas Olimpíadas perdidas para Nigéria de Kanu, ele é perigoso.

Para a Copa de 1998 eu já tinha noção de que o país parava para assistir os jogos e eu torcia muito para o Brasil. Que momento sensacional aquele em que Taffarel defendeu o pênalti contra a Holanda na semifinal. E que decepção brutal foi ver o Zidane fazendo 2 gols de cabeça na final. Saí antes do jogo acabar e só fiquei sabendo que o jogo havia sido 3x0 algum tempo depois. O gol do Petit, então, eu só assisti uns bons anos depois.

Na copa de 2002 eu ainda torci bastante pra seleção, apesar de ter perdido um pouco a graça com a série de jogos ruins nas eliminatórias, derrota para Honduras, aquela Era Leão com alguns jogos horríveis. Os outros jogos perderam a importância, mas a Copa do Mundo ainda resgatou um pouco o espírito do torcedor em mim, aquela história da seleção desacreditada, a redenção do Ronaldo e tudo mais.

Mas então, morreu de vez. Acho que a culpa foi da volta do Parreira, técnico chato que fez uma série de amistosos bem ruins. Era melhor dormir do que assistir um 0x0 com a China. Melhor ficar lendo do que assistir um jogo sonolento contra a Irlanda.

Tenho que admitir que o time cresceu de produção com o tempo, teve uma grande atuação na Copa das Confederações e em alguns jogos das eliminatórias. Era possível ter uma boa expectativa para a sagrada Copa do Mundo. Mas foi pavoroso, o time jogou sem a menor vontade, mal me lembro de comemorar algum gol. A seleção perdeu a graça e digo que na Copa de 2010 eu não torcia pelo Brasil, porque não suportaria ver o Dunga campeão do mundo com sua postura arrogante.

Hoje, para mim, tanto faz se o Brasil ganha ou perde. Assisto os jogos porque gosto de futebol e penso no sentimento de torcedor que eu tinha quando criança. Fico na dúvida se o mundo mudou e perdeu o gosto pela seleção, se eu que mudei ou se nada mudou. Naquela época, eu é que era criança. Será que as crianças e hoje sofrem com as derrotas?

Comentários

Postagens mais visitadas

Assim que vamos

A maior parte de nós se vai dessa vida sem saber o quão importante foi para a vida de alguém. Uma reflexão dolorida que surge nesses momentos, em que pensamos que gestos simples de respeito tendem a se perder, enquanto o rancor - este sim é quase eterno.

Top 8 - Discos favoritos que ninguém liga

Uma lista de 8 discos que estão entre os meus favoritos de todos os tempos, mas que geralmente são completamente ignorados pela crítica especializada - e pelo público também, mas isso já seria esperado.  1) Snow Patrol - Final Straw (2003) Sendo justo, o terceiro disco do Snow Patrol recebeu críticas positivas quando foi lançado, ou, à medida em que foi sendo notado ao longo de 2003 e 2004. Mas, hoje ninguém se atreveria a citar esta pequena obra prima em uma lista de melhores discos dos anos 2000 e a culpa disso é mais do que o Snow Patrol se tornou depois, do que da qualidade do Final Straw . Antes deste lançamento o Snow Patrol era uma desconhecida banda escocesa de raízes norte-irlandesas, tentando domar suas influências de Dinosaur Jr. na tradicional capacidade melódica no norte da Grã Bretanha. Em Final Straw eles conseguiram juntar algum barulho suave do shoegaze com guitarras influenciadas pelo lo-fi e uma sonoridade épica, típica do pós-britpop radioheadiano. O resultado ...

Lembranças de shows

(Não que eu tenha ido em muitos shows na minha vida. Até por isso é mais fácil tentar lembrar de todos para este post/arquivo) Os Headliners (ou, aqueles que eu paguei para ver) Oasis em São Paulo, estacionamento do Credicard Hall (2006) O Oasis estava retornando ao Brasil após cinco anos, mas era como se fosse a primeira vez para muita gente. As apresentações de 1998 encerraram um ciclo produtivo ininterrupto de seis anos e a banda estava em frangalhos. Depois vieram dois discos ruins, que transformaram a banda em um dinossauro. No meio disso, uma apresentação no Rock in Rio no dia do Guns N Roses. Ou seja, a banda não apareceu por aqui nas desastrosas turnês de 2000 e 2002 (Na primeira, Noel chegou a abandonar a banda após Liam duvidar da paternidade de sua primeira filha. A turnê do Heathen Chemistry foi um desastre, com Liam cantando mal - vários shows tiveram longas sessões solo de Noel - os pulsos de Andy White não dando conta da bateria e diversas datas canceladas, seja por far...