Pular para o conteúdo principal

Basta estar vivo

Joguei futebol durante muito tempo da minha vida. Duranteuns 10 anos, com alguma frequência. Por vezes, pelo menos uma vez por semana. Me machuquei algumas vezes. Incontavéis ralados, dores de pancadas. Torci o pé umas três vezes, coisa leve. Só lembro uma vez que eu fiquei com o pé dolorido duas vezes.

Mas eis que minha lesão mais grave, a torça de verdade ocorreu andando. Sim, eu apenas andava. Ia para a academia. Fui descer um degrau e meu pé não pisou no chão normalmente, virou para dentro. Senti o ligamento estirando e não consegui mais pisar. Meu tornozelo ficou do tamanho de uma batata. Fiquei com o pé imobilizado, ele ficou roxo.

E quinze dias depois ele continua inchado. Continua doendo para certos movimentos. Continua doendo quando é apertado.

Foi andando apenas. Não estava me arriscando com nada. Apenas andava.

Como apenas andava, numa manhã de volta de feriado, algum cidadão. Alguém que foi arremessado do outro lado de uma praça por conta de uma explosão de gás. A pessoa morreu sem saber por que. Não fazia nada que possa ser considerado arriscado. Não pulou de para-quedas, nem sequer entrou num avião. Não dirigia um carro, não manuseava objetos perigosos. Apenas andava em uma calçada, tranquilamente.

Para morrer, realmente, basta estar vivo.

Comentários

Postagens mais visitadas

Aonde quer que eu vá

De vez em quando me pego pensando nisso. Como todos sabem, Herbert Vianna, dos Paralamas do Sucesso, sofreu um acidente de avião em 2001. Acabou ficando paraplégico e sua mulher morreu. Existe uma música dos Paralamas, chamada "Aonde quer que eu vá" que é bem significativa. Alguns trechos da letra: "Olhos fechados / para te encontrar / não estou ao seu lado / mas posso sonhar". "Longe daqui / Longe de tudo / meus sonhos vão te buscar / Volta pra mim / vem pro meu mundo / eu sempre vou te esperar". A segunda parte, principalmente na parte "vem pro meu mundo" parece ter um significado claro. E realmente teria significado óbvio, se ela fosse feita depois do acidente. A descrição do acidente e de estar perdido no mar "olhos fechados para te encontrar". E depois a saudade. O grande detalhe é que ela foi feita e lançada em 1999. Dois anos antes do acidente. Uma letra que tem grande semelhança com fatos que aconteceriam depois. Assombroso.

Ziraldo e viagem sentimental por Ilha Grande

Em janeiro de 1995 pela primeira vez eu saí de férias em família. Já havia viajado outras vezes, mas acho que nunca com esse conceito de férias, de viajar de férias. Há uma diferença entre entrar em um avião para ir passar uns dias na casa dos seus tios e pegar o carro e ir para uma praia. Dormir em um hotel. Foi a primeira vez que eu, conscientemente, dormi em um hotel. Contribui para isso o fato de que, com sete anos, eu havia acabado de terminar a primeira série, o ano em que de fato eu virei um estudante. Então, é provável que pela primeira vez eu entendesse o conceito de férias. Entramos em uma Parati cinza e saímos de Cuiabá eu, meus pais, minha prima e minha avó. Ao mesmo tempo em que essas eram as minhas primeiras férias, elas eram também a última viagem da minha avó. A essa altura ela já estava com um câncer no pâncreas e sem muitas perspectivas de longo prazo. Disso eu não sabia na época. Mas ela morreu cerca de um ano depois, no começo de 1996, após muitas passagens pelo hos

Pattie Boyd

Pattie Boyd O romance envolvendo George Harrison, Pattie Boyd e Eric Clapton é um dos mais conhecidos triângulos amorosos da história. Sempre achei o caso interessante. A princípio, a visão que nós temos é bem simplista. Pattie trocou o sensível George Harrison, aquele que lhe cantou a sentimental Something na cozinha, pelo intempestivo Eric, aquele que a mostrou a passional Layla na sala. E se há uma mulher irresistível neste mundo, esta mulher é Pattie Boyd. Só que o trio Boyd-Harrison-Clapton é apenas a parte mais famosa de uma série de relações amorosas e traições, que envolveram metade do rock britânico da época. E o que eu acho incrível, é que todos continuaram convivendo ao longo dos anos. George Harrison Pattie Boyd era uma modelo que fazia figuração em um vagão de trem durante a gravação de uma cena de A Hard Day’s Night, o primeiro filme dos Beatles. George era justamente um Beatle. Eric Clapton era o deus da guitarra e converteu vários fãs em suas inúmeras bandas