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Montevideo

Quando se caminha por Montevidéu, a impressão é que você voltou no tempo. Andar em Montevidéu, com seus prédios antigos e bem conservados, é como andar nos anos 50. Observando os carros antigos, bem antigos que passam. É como se o espírito uruguaio continuasse preso aos seus anos de glórias. Glórias que, glórias? Se elas existem eu não sei, mas é sempre bom imaginar que elas existiram. Passado presente nas inúmeras feiras de antiguidade, colocadas em suas praças frescas e arborizadas.

De um povo que aprecia o preparo de uma carne, como quem esculpe uma estátua. Que gosta de bons vinhos e peixes, com preços acessíveis.

Uma cidade horizontal, em que os prédios não ultrapassam os quatro andares. Uma cidade de vento, e como venta a beira do mar, que chamam de rio.

Se essas glórias eram passadas, agora podem ser presentes. O time uruguaio que conquistou a Copa América é de orgulhar. Já havia feito uma campanha emocionante na Copa do Mundo e consagrou uma geração no torneio continental.

Os uruguaios não entram em campo para brincar. Entram para deixar um pouco de sua vida. Não se sabe daonde eles tiram forças para correr ainda mais. Um time que comemora gols vibrando, e não com dancinhas pré-programadas para ganhar brindes ridículos. Um time que vibra e vibrando ganha. Cada lance do Uruguai é jogado com a alma. E como diria Nelson Rodrigues, sem alma não se chupa nem um chicabom.

Esse time do Uruguai é conquistador. No futebol, o Uruguai se distancia do passado, sempre de glórias. Eu que já gostava do Uruguai, agora gosto ainda mais da seleção celeste.

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