Uma lista de 8 discos que estão entre os meus favoritos de todos os tempos, mas que geralmente são completamente ignorados pela crítica especializada - e pelo público também, mas isso já seria esperado.
1) Snow Patrol - Final Straw (2003)
Sendo justo, o terceiro disco do Snow Patrol recebeu críticas positivas quando foi lançado, ou, à medida em que foi sendo notado ao longo de 2003 e 2004. Mas, hoje ninguém se atreveria a citar esta pequena obra prima em uma lista de melhores discos dos anos 2000 e a culpa disso é mais do que o Snow Patrol se tornou depois, do que da qualidade do Final Straw.
Antes deste lançamento o Snow Patrol era uma desconhecida banda escocesa de raízes norte-irlandesas, tentando domar suas influências de Dinosaur Jr. na tradicional capacidade melódica no norte da Grã Bretanha. Em Final Straw eles conseguiram juntar algum barulho suave do shoegaze com guitarras influenciadas pelo lo-fi e uma sonoridade épica, típica do pós-britpop radioheadiano. O resultado é brilhante. A faixa de abertura, How to Be Dead é uma das melhores canções já feitas sobre uma DR, enquanto Run é um honesto pedido de socorro emocional, uma música que emociona sem ser piegas e que talvez seja tudo o que o Coldplay não conseguiu fazer após o Parachutes.
Final Straw abriu as portas para o sucesso acachapante do disco seguinte, Eyes Open. A comunidade do Orkut da banda saiu de pouco mais de mil malucos para quase 30 mil pessoas atraídas por remixes de Open Your Eyes e uma cena de novelinha americana que tocou Chasing Cars. Gary Lightbody tentou se adaptar a uma nova persona pública de sex symbol frágil, mas a qualidade dos discos caiu muito e o próprio vocalista relatou bloqueios criativos. Houve um outro brilhareco depois disso (essa é para você, Life on Earth), mas o Snow Patrol hoje é visto como mais uma dessas bandas emotivas embaladas por pianos e que flertam com o eletrônico que surgiu depois do Coldplay. Nesse cenário é difícil admitir o quanto Final Straw foi bom.
2) Jet - Get Born (2003)
O Jet foi responsável por apresentar o Hard Rock para as massas juvenis dos anos 2000. Deve ter sido assim que os jovens dos anos 80 se sentiram ao escutar o AC/DC pela primeira vez. Mas, para além dos riffs ao melhor estilo irmãos Young, o Jet tinha mais para oferecer. A paixão por Oasis e Britpop em geral fez surgir belas baladas como Look What You’ve Done e Come Around Again.
Infelizmente, apesar do impacto inicial, ninguém ligava mais para Hard Rock oitentista nos anos 2000. Os discos seguintes dos australianos foram esquecíveis, talvez lastimáveis. O Jet acabou na virada da década e hoje em dia ninguém sente falta deles (eles lançaram um single no ano passado, que ninguém poderia ligar menos). Mas talvez seja preciso admitir que esse é o disco que só faz sentido se for lançado quando você é adolescente.
3) Black Rebel Motorcycle Club - B.R.M.C. (2001)
O Black Rebel Motorcycle Club foi um dos pequenos expoentes do Garage Rock Revival dos anos 2000, com uma sonoridade que lembrava mais a Costa Oeste. Poderia ser um contraponto à San Francisco dos seus contemporâneos de Nova York (Strokes, Interpol). Mas, se esses outros enfrentaram o sucesso efêmero e viraram símbolo de uma geração, o BRMC nunca alcançou os holofotes e só ganharam algum respeito da crítica a partir do ainda mais brilhante Howl, de 2005.
Com isso o disco de estreia ficou um pouco esquecido, o que é uma injustiça, já que este é um dos melhores lançamentos do saudoso ano de 2001. Letras que poderiam ser de Johnny Cash com usinas de guitarra do Jesus & Mary Chain. O BRMC sempre deixou a entender que atravessou o inferno e voltou para contar a história.
4) Ben Kweller - Ben Kweller (2006)
Os dois primeiros discos do Ben Kweller até tiveram alguma relevância no meio musical, afinal, ele era um roqueiro cult prodígio adolescente que entrou na vida adulta em grande estilo. Se o primeiro disco segue a tradição do rock alternativo norte-americano (estou falando dos Lemonheads) e o segundo é Neil Young elétrico, no terceiro disco Kweller parte para sonoridades mais acústicas.
As guitarras dão lugar ao piano e Red Eye poderia estar em um bom disco da Norah Jones. Kweller, aliás, tocou todos os instrumentos do álbum, fazendo deste um verdadeiro disco solo. Mas, o fato é que ninguém ligou, ninguém nunca mais se importou com seus bons discos seguintes e na mídia ele passou a ser retratado como amigo de Ed Sheeran (foi assim que os sites noticiaram a trágica morte do seu filho Dorian). Uma injustiça, já que músicas como Sundress e Nothing Happening poderiam fazer muito sucesso se fossem cantadas justamente por um Ed Sheeran da vida.
5) The Thrills - Teenager (2007)
A atenção crítica e pública sobre os Thrills foi caindo a cada álbum lançado por eles. De tal forma que ninguém deu bola para o seu terceiro disco que, apesar de ser pior que os dois primeiros, ainda era muito bom e talvez seja aquele mais agradável de ser escutado pela primeira vez. Teenager é o disco mais The Byrds do grupo irlandês. A banda acabou um pouco depois disso sem ninguém se importar. Na verdade, eles nunca acabaram de verdade, porque pelo visto nem eles se importam mais.
6) Pink Floyd - Atom Heart Mother (1970)
A carreira do Pink Floyd é meio obscura entre a estreia psicodélica do The Piper at the Gates of Dawn e a consagração progressiva do Dark Side of the Moon. Mas, no meio disso o Meedle tem um legado incontestável e algumas maluquices da época passaram a ser reverenciadas, como o show em Pompéia e até mesmo a trilha sonora do Zabriskie Point.
Mas, e o Atom Heart Mother? Esse é claramente o momento que o Floyd do Dark Side of the Moon começa a nascer, em que a banda finalmente consegue tatear o seu som após o triste fim de Syd Barrett. A guitarra do David Gilmour começa a soar como conhecemos, a busca por arranjos mais complexos se torna aparente, assim como a temática das letras e a ambição sonora.
Longe de ser perfeito, Atom Heart Mother é um grande disco, geralmente esquecido e rotulado como mais um trabalho de uma banda perdida em busca de um caminho. Claro, não vamos negar que a primeira e a última música tem seus defeitos, mas no meio disso, If, Summer ‘68 e Fat Old Sun são maravilhosas - essa última poderia ter o epíteto "o nascimento de um guitar hero".
7) Gene Clark - No Other (1974)
Gene Clark era o gênio melódico dos Byrds e podemos dizer que foi uma espécie de patrono do Power Pop. (I’ll Feel a Whole Lot Better é a música que todos os grupos do power pop sonhavam em fazer). Sua carreira solo é bem consistente, com vários discos bem agradáveis - apesar de raramente serem brilhantes.
No Other é seu disco mais ambicioso, com refrões grandiosos, orquestrações, melodias quase religiosas. Some Misunderstanding deveria ser um clássico. Não que os discos do Gene tenham entrado para prosperidade, mas parece que a crítica prefere a simplicidade acústica do também ótimo White Light. Mas, No Other merecia mais atenção, assim como o seu também ótimo sucessor, Two Sides to Every Story.
8) Emma Pollock - Watch the Fireworks (2007)
O Delgados é a típica banda que não fez nenhum sucesso com o público, mas que a crítica adora. E nesse caso a crítica está certa, todo mundo deveria ouvir e adora The Great Eastern ou Hate. (Quem não fez isso está errado). Após o fim da banda, em 2005, a vocalista e guitarrista Emma Pollock, responsáveis pelos vocais angelicais de metade das músicas da banda, entrou em carreira solo, lançando seu primeiro disco Watch the Fireworks em 2007.
Claro que não é tão bom quanto Delgados, porque falta um pouco de caos e catarse, mas Watch the Fireworks é brilhante em sua sensibilidade pop. Lembro de mostrar para amigos na faculdade, com um quê de proselitismo musical, e não havia quem não se apaixonasse por Acid Test ou Paper and Glue. Mas o disco foi completamente ignorado pela crítica e ainda mais pelo público. Com pouco mais de 4 mil ouvintes mensais, Emma Pollock é a artista mais desconhecida entre todas as que eu escuto no Spotify.
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