Pular para o conteúdo principal

Do que eu gostaria de lembrar de Paris 2024

Da arrancada da Femke Bol na final do revezamento 4x400 misto. Ela já havia feito isso em campeonato mundial, todo mundo falava que ela podia fazer novamente, mas não tinha sido tão impressionante. Não tinha sido em Jogos Olímpicos. Os EUA precisavam abrir uma grande vantagem para segurar a Femke Bol no fim, diziam. Os EUA abriram essa vantagem, mas nada seria capaz de segura a holandesa. Até metade da volta ainda parecia impossível. No meio da última curva ela deixou uma belga para trás. No começo da reta foi a inglesa. Só faltava a americana e a ultrapassagem veio coisa de 20 ou 30 metros antes de chegada ainda. Impressionante.

E a arrancada da Sifan Hassam? Ela já estava na história por conseguir três medalhas em Tóquio, nos 1.500, 5 mil e 10 mil metros. Em uma delas depois de cair no chão já perto do fim da prova. Agora, a Maratona? Qual é a lógica de alguém que corre mil e quinhentos metros ainda conseguir correr mais 40,6 mil? Qual é a lógica de, depois de 41 km corridos, arrancar para a vitória como se estivesse em uma prova de 400 metros? Imparável.

E por falar em arrancada, o que fez Isaquias? Já estávamos nos lamentando pela medalha que não viria, os comentaristas já falavam em milagre quando ele passou os 750 metros a mais de 5 segundos e 20 metros dos líderes. Isaquias então passou a remar na velocidade 1.5 e arrancou uma prata das profundezas da raia olímpica, fazendo o brasileiro mais feliz em uma manhã de sexta-feira.

Nunca, vou me esquecer, assim espero do salto estratosférico de Mondo Duplantis. O sueco concorre em uma categoria apenas dele. Começa a saltar com a vara em alturas onde seus adversários sofrem para passar. Passa com facilidade dos seis metros, quando só mais um chega lá com dificuldade. Sobe o sarrafo para seis metros e 25 centímetros, uma a mais do que o seu atual recorde. Onze a mais do que a marca extraordinária e aparentemente inigualável de Sergey Bubka. O estádio aguarda com tensão. Ele falha uma vez. Falha duas. Não falha a terceira. O Stade de France explode como um gol de Zidane em final de Copa do Mundo. Duplantis corre de maneira louca. Ele fez uma coisa louca.

O atletismo proporcionou grandes momentos. A final dos 100 metros, com quase todo mundo empatado, milésimos invisíveis distribuindo as medalhas. Isso não dá para esquecer.

A última dança de Teddy Riner, distribuindo ippons como se seus adversários fossem sacos de batata. Mijain López vencendo o inédito pentacampeonato olímpico e retirando as suas sapatilhas e colocando-as no centro do ringue. A foto do Medina. O choro do Djokovic ao conquistar sua medalha. A felicidade de Imane Khalif derrotando adversárias e fake news.

Kayla Nemour. A ginasta argelina encarou as barras assimétricas como uma obra expressionista. Fez apresentação frenética, plástica, artística. Cada movimento seu foi para ser acompanhado com a respiração presa, como se estivéssemos vendo Monet pintar suas Ninféias. Aterrissou graciosamente no chão, com lágrimas nos olhos. Conquistou a medalha de ouro no país que não a quis. Ergueu a bandeira da Argélia e o ginásio aplaudiu de pé.

O fim do jogo entre Alemanha e França no handebol. Uma virada inacreditável dos alemães com dois gols em 13 segundos, um deles no último segundo, após uma bobeada inacreditável de um dos melhores jogadores franceses.

Grandes duelos no basquete. A consolidação do skate como esporte olímpico. A magia de Rebeca Andrade. Os jogos de vôlei de praia aos pés da Torre Eiffel. O fenômeno Lisa Carrington. O fenômeno Leon Marchand. Os inacreditáveis 100 metros de Pan Zhanle. 

O sofrimento com Hugo Calderano e a ginástica rítmica, seriam coisas para esquecer. Mas como? As derrotas ficam ao lado das lágrimas de Beatriz Souza na vitória, dos toques magistrais de Duda Lisboa.

As Olimpíadas são uma oportunidade de nos lembrar da nossa humanidade. De uma humanidade inacreditável, de façanhas que parecem sobrenaturais, mas são só possíveis porque somos humanos e, enquanto humanos, conseguimos coisas incríveis. De disputas políticas resolvidas dentro de círculos, quadrados e espaços imaginados para a resolução de conflitos. Todos os Jogos são únicos, suas lembranças também.

Comentários

Postagens mais visitadas

Fuso Horário

Ela me perguntou sobre o fuso horário, se era diferente do local onde estávamos. Sim, informei que Mato Grosso está uma hora atrasado em relação ao Ceará. Perguntou se sentíamos alguma diferença, tive que falar que não. A pergunta sobre o fuso horário foi o suficiente para uma pequeno comentário sobre como lá no Ceará o sol se põe cedo e nasce cedo. Isso é exatamente ao contrário do Paraná, de onde ela veio, onde o sol se põe muito tarde. Ela demorou para se acostumar com isso. Não é nem seis da tarde e o sol se pôs. Não é nem seis da manhã e o sol já está gritando no topo do céu. Pensei por um instante que esse era um assunto de interesse dela. Que ela estava ali guiando turistas até um restaurante não facilmente acessível em Canoa Quebrada, mas o que ela gosta mesmo é do céu. Do movimento dos corpos, da translação e etc. Talvez ela pudesse pesquisar sobre o assunto, se tivesse o incentivo, ou se tivesse a oportunidade. Não sei. Talvez ela seja feliz na sua função atual. Talvez tenha ...

Os 50 maiores artilheiros do São Paulo no Século

(Até o dia 4 de fevereiro de 2024) 1) Luís Fabiano 212 gols 2) Rogério Ceni 112 gols 3) Luciano 87 gols 4) Jonathan Calleri 76 gols 5) França 69 gols 6) Dagoberto 61 gols 7) Borges 54 gols 8) Hernanes 53 gols 8) Lucas Moura 53 gols 10) Kaká 51 gols 11) Alexandre Pato 49 gols 12) Washington 45 gols 13) Reinaldo (Atacante 2001-2002) 41 gols 13) Grafite 41 gols 15) Danilo 39 gols 15) Diego Tardelli 39 gols 17) Souza 35 gols 18) Pablo 32 gols 18) Reinaldo (o lateral esquerdo) 32 gols 20) Hugo 30 gols 21) Brenner 27 gols 22) Gustavo Nery 26 gols 23) Alan Kardec 25 gols 24) Paulo Henrique Ganso 24 gols 25) Aloísio Chulapa 23 gols 26) Júlio Baptista 22 gols 26) Jorge Wagner 22 gols 26) Michel Bastos 22 gols 26) Aloísio Boi Bandido 21 gols 30) Cicinho 21 gols 30) Jadson 21 gols 30) Osvaldo 21 gols 33) Fábio Simplício 20 gols 33) Cícero 20 gols 33) Christian Cueva 20 gols 33) Robert Arboleda 20 gols 37) Thiago Ribeiro 19 gols 38) Amoroso 18 gols 39) Adriano Imperador 17 gols 39) Fernandinho 17 ...

Outras reações frustradas na Fórmula 1

No último domingo, certamente Lando Norris fez uma leve refeição antes de participar do Grande Prêmio do Brasil sonhando com uma virada que aumentaria suas chances de ser campeão do mundo. Poucas horas antes ele havia feito a pole position para a corrida, enquanto seu rival Max Verstappen largaria apenas na 17ª colocação.  Poderia sonhar com um vitória e com a possibilidade de seu rival chegar ali em uma distante quinta colocação. A distância de 44 pontos poderia cair para 29 e, aí, por mais que continuasse difícil ser campeão, não daria para negar que era uma chance. No entanto o que se viu no domingo foi completamente diferente. Contando com uma atuação primorosa e um pouco de sorte, Max Verstappen conseguiu a vitória em São Paulo. Lando, por outro lado viu tudo dar errado - largada ruim, fim do VSC na hora em que entrava no boxe, enfim, e chegou em oitavo. A reação virou um provável título de Verstappen na próxima corrida em Las Vegas - ainda acho mais provável o título na Sprin...