O dia era 30 de Agosto de 2002. Já tinha visto algo sobre o Campeonato Mundial de Basquete realizado em Indianápolis - terra da lendária vitória na final do Pan de 1987. Milton Leite e Wlamir Marques estavam lá transmitindo os jogos pela ESPN e naquela tarde eu assisti os últimos minutos de Brasil x Turquia.
Bem, nada como ser apresentado as loucuras do basquete de forma tão explícita assim. Aquele minuto final interminável, uma cesta de três do Marcelinho Machado no último segundo para garantir a vitória, o Milton Leite perdendo a voz na narração. Foi o início da minha jornada de sofrimento com a seleção brasileira de basquete masculino.
Nesses 22 anos foram algumas poucas alegrias. Quase todas elas acompanhadas por uma enorme frustração dias depois.
Vejamos os mundiais:
Após essa vitória contra a Turquia o Brasil venceu Porto Rico e Angola para se garantir nas quartas-de-final. Depois, perdeu todos os jogos e terminou em oitavo lugar.
Em 2006 não houve felicidade nenhuma, apenas um time capaz de endurecer contra rivais duríssimos mas perder jogos nos minutos finais, com aproveitamento ridículo nos lances livres.
No Mundial de 2010 nós fizemos um jogo lindo contra os EUA, quase empatamos no lance final - depois demos um baile na Croácia. Tudo para no jogo seguinte ver o Scola nos disciplinar e a Argentina nos mandar e volta para casa.
Em 2014 vencemos a França com muita emoção, batemos a Sérvia e glória aos céus - derrotamos a Argentina em grande atuação de Raulzinho. Chegamos as quartas-de-final novamente contra a Sérvia, mas um terceiro quarto pavoroso nos arruinou.
Em 2019 anulamos o Giannis e vencemos a Grécia, conseguindo a primeira posição do grupo. No jogo seguinte fomos atropelados por uma insossa República Tcheca e adeus.
Em 2023 outra grande vitória, dessa vez contra um forte Canadá cheio de figurões da NBA. O que veio depois? Um massacre da Letônia que nos tirou do campeonato.
Em Olimpíadas os sofrimentos são menores, porque foram apenas duas participações. Nos jogos de Londres vencemos uma boa Austrália e também a Espanha - pouco importa que os espanhóis não fizeram questão de vencer, mas nas quartas-de-final lá estava a Argentina e Luis Scola a nos eliminar. Por cinco pontos.
Jogando em casa em 2016 vencemos a Espanha em uma pequena batalha, na qual a torcida arruinou a vida do Paul Gasol. Depois o Nocioni acertou aquela bola de três no último segundo e fomos embora na primeira fase.
E os pré-olímpicos? Ficamos de fora de Atenas sucumbindo nos momentos finais para Argentina, Canadá, Porto Rico e até para o México. Fomos vítimas da doutrinação do Scola na classificação para Pequim e depois levamos um vareio da Alemanha no Pré-Olímpico Mundial.
Tudo bem, nesses torneios nem rolou aquela vitória para nos encher de esperança de que o pior já havia passado. Mas e o que falar de 2020? Lá na Croácia nós detonamos os donos da casa (vitória por 27 pontos não é todo dia), para chegar na final e perder de uma Alemanha que sofreu contra o México (mesmo México sobre o qual aplicamos 28 pontos). Triste rotina.
A vitória no Pré-Olímpico de Riga, que contou com sofrimento em quase todos os jogos, menos o final, é uma das poucas alegrias genuínas do basquete nesses 20 e poucos anos.
Acho que a segunda, para dizer a verdade.
A outra foi no Pré-Olímpico de 2011, quando vencemos a Argentina em Mar del Plata e fugimos de Porto Rico na semifinal. No jogo seguinte derrotamos a República Dominicana e voltamos para as Olimpíadas após 16 anos, ou três ausências. Tudo bem que perdemos a final para a Argentina, mas o objetivo foi cumprido.
Daqui a menos de três semanas estreamos nos jogos de Paris. Pegamos França, Alemanha e Japão nessa sequência. Serão jogos duros contra os europeus, com eles sendo favoritos. Mas temos tudo para passar bem sobre o Japão e garantir uma das vagas dos terceiros colocados - o Grupo 1 é bem bagunçado e o Grupo 3 tem os EUA, o que sempre é um problema para o saldo de cestas. Se dermos sorte, escapamos dos EUA nas quartas-de-final e vamos jogar a vida contra França, Austrália, Canadá, não sei. Mas já estamos lá, tivemos uma alegria e o que acontecer nas Olimpíadas já vai ser lucro. Teremos raros dias de paz.
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