A rivalidade entre Messi e Cristiano Ronaldo proporcionou uma série de debates acalorados nas redes sociais. Fãs do argentino e do português se digladiavam virtualmente - por vezes mesmos nos programas de TV - discutindo quem, afinal, era o maior.
Um dos grandes momentos desse debate ocorreu ainda no início da Copa de 2018, quando começou a circular por aí um áudio de WhatsApp de um fervoroso defensor do CR7. Se você não se lembra, é o áudio do homem, da máquina, da besta enjaulada com ódio.
"Se botar você de 10 do Real Madrid, ele vai olhar dentro da tua cara filho da puta, ele vai te convencer que você é Ronaldinho Gaúcho". Uma das grandes frases da literatura brasileira.
Dentro do vai e vem do melhor do mundo, a discussão naquela época oferecia argumentos fortemente favoráveis ao Cristiano Ronaldo. Tinha acabado de vencer três Champions League seguidas com o Real Madrid. Portugal havia conquistado a Eurocopa de 2016 - uma das piores vencedoras de todos os tempos e com o CR7 saindo machucado no começo do jogo, mas ele certamente olhou na cara de todos os seus companheiros e os convenceu de um monte de coisa, líder nato que ele é.
Para piorar para o Messi, a primeira rodada da Copa de 2018 foi amplamente superior para o português. Enquanto Cristiano Ronaldo marcou três gols em um épico empate contra a Espanha, incluindo uma cobrança de falta no apagar das luzes, Messi havia visto a Argentina empatar com a Islândia. Para piorar, o camisa 10 perdeu um pênalti nessa partida, defendido pelo goleiro islandês que era cineasta nas horas vagas.
Perdido na bagunça do time de Sampaoli, Messi era a cara da derrota e da desesperança. "O psicológico comando o corpo teu filho da puta", já dizia o poet ado WhatsApp.
Pois bem, Cristiano Ronaldo sempre foi uma força física e mental. Inabalável. Nunca foi o primor técnico de Messi, mas trabalhou de maneira estoica para ser o melhor do mundo. Ninguém era mais rápido, ninguém chutava tão potentemente com as duas pernas. Cabeceava bolas em alturas na qual o ar já chega a ficar um pouco rarefeito para seus adversários. Mergulhava em câmeras de gelo na gravidade 0 para preservar seu corpo. Um homem, uma máquina, uma besta enjaulada com ódio.
Diante disso, causa um pouco de comoção a cena vista ontem, no intervalo da prorrogação do jogo de Portugal contra a Eslovênia pelas oitavas de final da Eurocopa. Após perder um pênalti no fim do primeiro tempo extra, Cristiano Ronaldo chorou. Copiosamente. Precisou ser consolado pelos seus companheiros e o jogo ainda nem havia acabado.
Uma cena um tanto quanto estranha para o robozão, para quem é líder nato, para quem não se abala.
Mas o choro de Cristiano Ronaldo parece ter razões claras. Não é a tristeza por um erro individual em uma partida, ou pelo simples sentimento de que sua falha poderia prejudicar a equipe - ele que tantas vezes salvou os companheiros.
Cristiano Ronaldo chorou provavelmente porque percebeu que o tempo passou. Aliás, todos que assistiram o jogo perceberam que o tempo passou. Já era possível perceber sinais disso na última Copa do Mundo, quando Fernando Santos colocou o craque no banco e contribuiu para prejudicar o clima interno.
No jogo inteiro vimos um Cristiano Ronaldo que não conseguia mais fazer coisas óbvias para um craque mais jovem. Uma corrida diagonal que permite receber a bola antecipando a zaga resulta em um chute cruzado, que para nas mãos de Oblak. O replay mostra o craque chegando levemente desequilibrado pelo esforço da corrida e por isso o chute não sai perfeito. Cinco anos atrás, não teríamos dúvida de que seria caixa. Bola na rede.
Bolas que antes ele colocava na frente agora encontrar uma parede protetora. Testadas firmes resultaram em bolas passando alguns centímetros sobre sua cabeça. Dribles agora são desarmados. Cristiano Ronaldo caí no chão e esbraveja contra a arbitragem, tentando entender porque as coisas não dão certo. Antes ele só era parado com falta.
O pênalti foi a consolidação dessa impressão. A ficha caiu.
O craque sempre dependeu de sua força física. E quem sou eu para dizer que ele não está em forma. Mas até na minha vida de corredor amador, sofro muito mais nos tempos atuais para alcançar o ritmo que me era simples em 2017. Isso pode ter pouco impacto na minha vida, mas grandes impactos tem para Cristiano Ronaldo em um jogo de alto nível. Seu físico já não destoa sobre os demais e, dessa forma, sua técnica não se sobressaí.
Sim, o tempo passa até para Cristiano Ronaldo.
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