Pular para o conteúdo principal

Trilhos Geográficos

 Ou, as referências citadinas no primeiro disco da banda The Thrills.

The Thrills é uma banda que surgiu no começo dos anos 2000 em Dublin, na capital da Irlanda. Entre 2004 e 2007 o quinteto lançou três discos, três pequenas pérolas pop que, ao contrário do que poderia se esperar de irlandeses, não cantam sobre cerveja escura, bebedeiras em pubs e dias chuvosos. Liderados pela voz anasalada, por vezes fanha, de Conor Deasy, The Thrills é fortemente influenciado pelo som pop psicodélico da Costa Oeste norte-americana nos anos 60.

Não a toa, seus integrantes moraram alguns meses em San Diego, na California, antes de darem forma a banda. Mas, não podemos esquecer que no fundo eles são irlandeses, então em vez do pop ensolarado da Costa Oeste, eles fazem um pop psicodélico chuvoso, de jovens dublinenses que gostariam de estar na Califórnia.



Seu primeiro disco, So Much For The City, é o melhor de todos. A melancolia transborda por todos os lados, mesmo nos momentos mais felizes. E enfim, o disco foi gravado em Los Angeles e chegou a ganhar o prêmio de revelação do ano da Q Magazine. Um disco que tem inúmeras referências a cidades norte-americanas.

A primeira faixa é Santa Cruz (You're Not That Far). Santa Cruz é uma cidade localizada ao sul de São Francisco. Na sequência vem aquela que é minha favorita no disco (e também a mais escutada no Spotify): Big Sur, em que Deasy pede para sua amada não voltar para Big Sur, regio costeira no centro da California. 

A essa altura o vocalista explicaria. "As cidades foram colocadas nas músicas como uma forma de escapismo,em vez de documentar pequenas fábulas sobre o que aconteceu quando estávamos lá". Estavam todos infelizes na época após serem dispensados pela gravadora, revela Conor Deasy.

Na quarta faixa do disco, Deasy canta "Let's go to San Diego, Hey that's where all the kids go". A música é Deckchairs & Cigarettes outro grande destaque do disco, embalada em uma melancolia capaz de nublar os céus de San Diego, uma das principais cidades californianas.

Não sabemos qual é a cidade de One Horse Town, muito menos qual a citada em Old Friends, New Lovers (This Town you're hanging up on me). Mas sabemos certamente do que eles cantam em Hollywood Kids (da curiosa linha "So Let's party, Dustin Hoffman"). 

Para finalizar há Your Love is Like Las Vegas. Sim, o amor da sua pretendente é como uma cidade que ele visitiou, uma cidade que o queimou. (Ele ainda diz que a pessoa é como Pete Best, baterista dispensado dos Beatles 'amarga após todos esses anos'). Bem, ainda há 'Til the Tide Creeps In, que cita San Diego novamente e a faixa escondida Plans em que o vocalista diz que está se mudando para LA.

Bem, se os Thrills fosse famosos, hoje as agências de turismo da Costa Oeste poderiam estar vendendo um pacote de viagens passando pelas cidades citadas. Mas isso está longe de acontecer. Após a boa repercussão do primeiro disco, eles voltaram para Los Angeles para gravar seu sucessor Let's Bottle Bohemia. Um disco mais animado, com o uso de cordas e participação de Peter Buck do R.E.M, onde se destaca a tristíssima Not For All The Love in the World. A única cidade citada é Nova York, uma despedida da costa oeste.

O segundo disco repercutiu muito menos que o primeiro. Após longas férias eles retornaram em 2007 com Teenager, gravado em Vancouver, com músicas mais contidas e melancólicas. Provavelmente é o melhor disco para se ambientar as músicas do grupo, mas não vendeu quase nada, o que levou a gravadora Virgin a dispensar os serviços da banda. Desde então, eles entraram no que se chama de hiato e pouco se sabe sobre o que fazem da vida. O vocalista Conor Deasy tem uma conta com 490 seguidores no Instagram.


Comentários

Postagens mais visitadas

Oasis e a Cápsula do Tempo

Não dá para entender o Oasis pensando apenas na relevância das suas músicas, nos discos vendidos, nos ingressos esgotados ou nas incontáveis exibições do videoclipe de Wonderwall na MTV. Além das influências musicais, das acusações de plágio e das brigas públicas, o Oasis faz parte de um fenômeno cultural (um pouco datado, claro), mas é uma banda que captou o espírito de uma época e transformou isso em arte, promovendo uma rara identificação com seus fãs. Os anos 1990 foram marcados por problemas econômicos no mundo inteiro. Uma juventude já desiludida não via muitas perspectivas de vida. A Guerra Fria havia acabado, uma nova revolução tecnológica começava, o Reino Unido vivia uma crise pós governo Thatcher e nesse cenário surge um grupo cantando letras incrivelmente ousadas para meros desconhecidos.  Definitely Maybe, primeiro disco do grupo, fala sobre curtir a vida de maneira meio sem propósito e sem juízo. A diversão que só vem com cigarros e álcool, o sentimento supersônico de...

Oasis de 1 a 7

Quando surgiu em 1994, o Oasis rapidamente se transformou em um fenômeno midiático. Tanto por suas canções radiofônicas, quanto pela personalidade dos irmãos Gallagher. Eles estiveram na linha frente do Britpop, movimento que redefiniu o orgulho britânico. As letras arrogantes, o espírito descolado, tudo contribuiu para o sucesso. A discografia da banda, no entanto, não chega a ser homogênea e passa a ser analisada logo abaixo, aproveitando o retorno do grupo aos palcos brasileiros após 16 anos.  Definitely Maybe (1994) O primeiro disco do Oasis foi durante muito tempo o álbum de estreia mais vendido da história do Reino Unido. Foi precedido por três singles, sendo que dois deles são clássicos absolutos - Supersonic e Live Forever . O vocalista Liam Gallagher cantava em algum lugar entre John Lennon e Ian Brown, enquanto o som da banda bebia de quase tudo o que o Reino Unido havia produzido nos 30 anos anteriores (Beatles, T. Rex, Sex Pistols, Smiths, Stone Roses). O disco começa c...

As cinco piores disputas de título da história da Fórmula 1

A disputa entre Oscar Piastri e Lando Norris pelo título da Fórmula 1 em 2025 está longe de ser empolgante. A McLaren entregou um ótimo carro para sua dupla e eles foram vencendo corridas sem muita alegria, acumulando erros, reclamações sem sentido e falta de carisma. Era quase um consenso de que essa seria a disputa mais insossa de todos os tempos. Porém, a súbita arrancada de Max Verstappen a partir do GP da Itália trouxe um tempero extra para a disputa, o que faz com que, independente do vencedor, este campeonato já não faça parte de uma lista de piores da história. É claro que nem sempre as disputas de título na F1 foram emocionantes. Elaborei uma lista pessoal com cinco disputas que não comoveram ninguém. Mas há alguns critérios:      1) Falo em disputas. Portanto, não há o que analisar em anos como 1992, 2002, 2004, 2011, 2013 ou 2023.     2)  Também não falo de campeonatos em que um possível postulante liderou em algum momento, ou tentou uma arrancad...