Pular para o conteúdo principal

Faixa-a-faixa de Shaka Rock, o último disco do Jet

 Ou: analisando um dos piores discos da história

Com origem na cidade de Melbourne, o Jet foi um dos destaques do novo rock, como convencionou-se chamar a leva de bandas nascidas no início dos anos 2000, que em geral faziam um revival de sons mais antigos.

No caso do Jet, sua influência mais óbvia eram seus conterrâneos do AC/DC na pegada Hard Rock. Mas Rolling Stones não outra influência clara - nos rocks e nas baladas, além do Oasis - principalmente nas baladas.

O primeiro disco do grupo, Get Born, era muito bom. Nada de muito inovador, mas uma coleção de riffs e refrãos pegajosos, expondo uma nova geração ao headbang. Na sequência, Shine On decepcionava, mas ainda tinha seus pontos positivos. Em 2009 eles colocaram ao mundo Shaka Rock, seu terceiro e último disco. Uma bomba sem tamanho, uma coleção de músicas pouco inspiradas com algumas francamente ruins.



A primeira faixa K.I.A. (Killed in Action) é uma crítica rasa ao consumismo em que uma guitarrinha aqui e ali tentam dar o tom, mas o excesso de efeitos e um refrão ruim deixam o suspense no ar: não é possível que eles escolheram isso aqui para abrir o disco. Chris Cester tenta entregar em performance, mas nada é digno de nota.

As más impressões são reforçadas com Beat on Repeat, segunda música. Esses malucos realmente estavam querendo grava um soul funkeado? Música desprovida de alma, justamente, mostra a banda resolvendo se aventurar por um território que ela não domina, com resultados catastróficos.

She's a Genius foi o primeiro single do disco, um aviso de que as coisas não seriam boas. Dentro do disco ela é um pequeno alívio. Nada digno de nota, um powerpop que o Weezer não incluiria nem no Maladroit, mas apenas isso: uma música sem graça, que não chega a ofender os ouvidos.

As perspectivas melhoram com Black Hearts (On Fire) uma das poucas músicas boas no disco. Não caberia no primeiro disco, mas poderia fazer parte do segundo, o que já é um mérito por aqui. Bom refrão.

Qualquer boa intenção é esvaziada de vez com Seventeen. Guiada por um piano rápido, é uma cópia descarada de Cheap Trick. Para quem, como é meu caso, acho Cheap Trick uma banda deplorável, vai entender como Seventeen é ruim. A falta de inspiração se mostra em vários versos que Chris Cester estica as últimas silabas sem nem um sentido. 

La Di Da é um destaque positivo. Um riff agradável guia a música, com batida marcada. Nem o embromation do refrão (La di di, La di da, How did we ever get this far?) atrapalha.

Bem, a partir daí as coisas ficam mais pesadas (como se fosse possível). Goodbye Hollywood é um hard rock batido, mas cujo refrão perde todo o peso. A música se estende demais e é mais uma faixa completamente esquecível.

Walk é uma tentativa da banda de mudar ritmos e cadências na tentativa de fazer algo diferente, talvez surpreendente. Mas nenhuma dessas mudanças é boa. O refrão é irritante e parece que a banda está de sacanagem. Lá pelo meio eles pisam no acelerador, como se fossem o Queen, mas muito longe disso.

Aí sim, senhoras e senhores, chegamos ao ponto mais baixo do disco. Times Like These  tem um som oitentista, uma riff decadente um refrão em coro constrangedor. Chega a ser difícil conseguir escutar a música até o fim. Depois de dois discos sendo produzidos por Dave Sardy, a banda resolveu seu auto-produzir neste. E faltou alguém para mandar apagar todas as cópias dessa música.

Let Me Out é emo. Algo meio Fall Out Boy ou All American Rejects. Chris Cester solta suas emoções interiores em uma música constrangedora.

Estamos quase chegando ao fim quando começa Start the Show. Um grito, um riff ok e um refrão médio. Talvez, 30 anos seja velho demais para fazer Hard Rock. Ou ter 22 - minha idade à época - também.

Para finalizar o disco vem a única balada declarada do disco, She Holds a Grudge, também a única cantada pelo guitarrista Cameron Muncey. Uma balada nota 5 com uma letra cafajeste, que pelo menos acalma o ouvinte, que termina o CD pensando em apenas guardar a caixinha para todo o sempre, sem vontade de quebrar o objeto a pedradas e pegar o primeiro avião rumo a Melbourne para ofender a banda.

A edição japonesa veio com duas faixas bônus: Don't Break Me Down é uma balada decente, enquanto Everything Will Be Alright parece uma demo desleixada que John Lennon nunca deixou ninguém mais escutar.

Shaka Rock foi um fracasso comercial perto dos seus antecessores. A banda seguiu em turnê por aproximadamente um ano após o seu lançamento e, em 2012, anunciou sua separação. Também pudera: Shake Rock é destes discos tão desgraçantes que sua existência acaba por amaldiçoar seus criadores. É impossível seguir na ativa sabendo que, juntos, seus quatros integrantes foram responsáveis por criar essa bomba. É algo que o The Clash deve ter passado quando pariu Cut the Crap em 1985.

A banda voltou a se reunir entre 2016 e 2019 e desde o ano passado para shows ocasionais e caça-níqueis, mas sem produzir material novo.

Comentários

Postagens mais visitadas

Oasis e a Cápsula do Tempo

Não dá para entender o Oasis pensando apenas na relevância das suas músicas, nos discos vendidos, nos ingressos esgotados ou nas incontáveis exibições do videoclipe de Wonderwall na MTV. Além das influências musicais, das acusações de plágio e das brigas públicas, o Oasis faz parte de um fenômeno cultural (um pouco datado, claro), mas é uma banda que captou o espírito de uma época e transformou isso em arte, promovendo uma rara identificação com seus fãs. Os anos 1990 foram marcados por problemas econômicos no mundo inteiro. Uma juventude já desiludida não via muitas perspectivas de vida. A Guerra Fria havia acabado, uma nova revolução tecnológica começava, o Reino Unido vivia uma crise pós governo Thatcher e nesse cenário surge um grupo cantando letras incrivelmente ousadas para meros desconhecidos.  Definitely Maybe, primeiro disco do grupo, fala sobre curtir a vida de maneira meio sem propósito e sem juízo. A diversão que só vem com cigarros e álcool, o sentimento supersônico de...

Oasis de 1 a 7

Quando surgiu em 1994, o Oasis rapidamente se transformou em um fenômeno midiático. Tanto por suas canções radiofônicas, quanto pela personalidade dos irmãos Gallagher. Eles estiveram na linha frente do Britpop, movimento que redefiniu o orgulho britânico. As letras arrogantes, o espírito descolado, tudo contribuiu para o sucesso. A discografia da banda, no entanto, não chega a ser homogênea e passa a ser analisada logo abaixo, aproveitando o retorno do grupo aos palcos brasileiros após 16 anos.  Definitely Maybe (1994) O primeiro disco do Oasis foi durante muito tempo o álbum de estreia mais vendido da história do Reino Unido. Foi precedido por três singles, sendo que dois deles são clássicos absolutos - Supersonic e Live Forever . O vocalista Liam Gallagher cantava em algum lugar entre John Lennon e Ian Brown, enquanto o som da banda bebia de quase tudo o que o Reino Unido havia produzido nos 30 anos anteriores (Beatles, T. Rex, Sex Pistols, Smiths, Stone Roses). O disco começa c...

As cinco piores disputas de título da história da Fórmula 1

A disputa entre Oscar Piastri e Lando Norris pelo título da Fórmula 1 em 2025 está longe de ser empolgante. A McLaren entregou um ótimo carro para sua dupla e eles foram vencendo corridas sem muita alegria, acumulando erros, reclamações sem sentido e falta de carisma. Era quase um consenso de que essa seria a disputa mais insossa de todos os tempos. Porém, a súbita arrancada de Max Verstappen a partir do GP da Itália trouxe um tempero extra para a disputa, o que faz com que, independente do vencedor, este campeonato já não faça parte de uma lista de piores da história. É claro que nem sempre as disputas de título na F1 foram emocionantes. Elaborei uma lista pessoal com cinco disputas que não comoveram ninguém. Mas há alguns critérios:      1) Falo em disputas. Portanto, não há o que analisar em anos como 1992, 2002, 2004, 2011, 2013 ou 2023.     2)  Também não falo de campeonatos em que um possível postulante liderou em algum momento, ou tentou uma arrancad...