Duas notícias envolvendo o presidente Jair Bolsonaro me chamaram a atenção nesta semana.
A primeira diz respeito à sua decisão de não renovar a concessão da Rede Globo. Decisão que do ponto de vista prático terá pouco efeito, porque a revogação teria que ser aprovada pelo Senado Federal, justo o Senado Federal que é mais resistente às ofensivas bolsonaristas, e por isso não deve prosperar.
Mas, pouco importa. O que o presidente precisa fazer, nesse momento em que terceirizou a administração pública ao Orçamento Secreto do Centrão, é tentar resgatar a sua imagem de candidato antissistema.
Certamente é incrível pensar que um homem que ocupa cargos políticos desde 1990 e que tem três filhos também ocupando cargos políticos consiga se passar como um perseguido pelo sistema, mas é isso que Bolsonaro fez. Contribui para essa ilusão coletiva o seu jeito completamente inadequado e as recriminações que sofre pelo simples fato de ele ser desagradável. "Ele está desafiando o sistema", dizem os seus seguidores para desviar do fato de que ele só está fazendo besteira mesmo.
Por isso ele é contra a vacina, é contra as urnas eletrônicas, é contra uma série de fatores que são a base da nossa convivência em sociedade. Tudo é o sistema, por isso ele é contra tudo, mesmo com o risco de ser perseguido e etc, etc, etc.
Falar que vai tirar a maior rede de televisão do Brasil do ar é mais uma ação com esse objetivo de enfrentar o tal sistema, porque afinal, se o sistema tiver uma cara, essa é a cara do William Bonner. E ele não tem o que perder. Se os senadores resolverem seguir o presidente, ele vai ser o homem que enfrentou e venceu a Globo. Se der a lógica, não importa. Ele vai ter enfrentado o sistema e pagou o preço com sua derrota nas eleições.
Não há de se duvidar que a não revogação da concessão da Globo seja mais um item para justificar o seu almejado golpe militar.
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Outra notícia envolve a primeira-dama Michelle, que em entrevista ao primeiro-apresentador Sikera Junior, informou a todos que, em casa, Bolsonaro é imbroxável, além de incomível e imorrível - um dos bordões favoritos do ator principal dessa sitcom de péssima qualidade que estamos vivenciando.
A fala contrasta um pouco com outra entrevista da primeira-dama, na qual ela dizia já ter afirmado ao presidente que ele era um personagem e que gostaria que ele guardasse um pouco da sua energia combativa para dentro de casa.
Mas enfim, fato é que a virilidade do presidente é uma de suas principais bandeiras eleitorais. O público consumidor quer representatividade, quer imaginar que pode ser seu herói. Funciona para o homem-aranha e para os filmes pornográficos e não é diferente com o presidente. Bolsonaro é o grande super-herói dos homens de meia idade.
Dessa forma, eles gostam de imaginar que eles são como o presidente, que imbroxáveis, que dão conta de uma mulher muito mais nova. A ereção de Bolsonaro é uma parte consistente do mito em torno do seu nome para o seu público eleitor. Não tenho dúvida que os bolsonaristas ferrenhos ficariam mais decepcionados ao saber de uma disfunção erétil do presidente do que de, sei lá, ele ter matado uma criança.
Duas notícias de uma semana que estão aí para cativar sua base mais ferrenha, formada por lunáticos conspiracionistas e homens flácidos de meia-idade.
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