Nos últimos anos tenho aprendido que um dos meus maiores prazeres é fazer análises um tanto quanto jocosas sobre as mensagens corporativas de parabéns que eu recebo no dia do meu aniversário. Vamos a elas.
A concessionária onde eu comprei meu carro sete anos atrás afirmou que se orgulha em percorrer diversos caminhos lado a lado comigo. Achei um compromisso forte demais que eles querem assumir, pensando que não mantenho nenhum contato comercial com eles desde que a garantia do meu carro venceu há quatro anos.
A Smiles me desejou felicidades, voos e bagagens cheias de momentos transformadores. Por SMS me informou que eles prepararam uma surpresa: um link que redireciona para uma página de parabéns, com imagens estilizadas de um bolo, um presente, taças brindando, balões e um negócio que sempre colocam em imagens de parabéns, um cone do qual papéis coloridos e confetes são expelidos e que, confesso, não sei o nome. Nesta página me era desejada uma ampliação dos meus horizontes, além da descoberta de novas versões minhas e construção de novas conexões com o mundo. Complexo. Foi disponibilizado um jogo, estilo quiz, que a partir das respostas que eu dava indicava o destino da minha próxima viagem: Belo Horizonte. Fiquei um pouco decepcionado e repeti o teste informando um destino internacional: Miami. Descobri que o Smiles me odeia.
A Casa Prado, loja onde comprei o terno que usei no meu casamento há quase seis anos e depois nunca mais coloquei meus pés me desejou motivos para sorrir. Minha corretora de seguros também desejou um feliz aniversário, aliás, um desejo compartilhado por toda a equipe. Vejo as mensagens de parabéns da corretora de seguros como o símbolo máximo da perversidade da vida adulta. Eles ainda me mandaram um e-mail com um cartão visual.
Pelo WhatsApp, o Banco do Brasil disse que o meu aniversário é uma data especial e que eu deveria comemorar ao lado das pessoas importantes para mim. Não me falaram nada sobre me dar mais dinheiro.
Já a Lu do Magalu me mandou uma longa e extensa mensagem, que conseguiu até me deixar emotivo. Me desejaram saúde, porque isso é o que importa nesse momento. Que as festas e aglomerações podem ficar para depois, mas que eu não devo deixar de comemorar do meu jeito, que o meu novo ciclo será incrível. Se disseram felizes em me terem por perto e que estão sempre por ali. Não me ofereceram a compra desenfreada de produtos, descontos ou nada. Achei honesto.
Não contentes em me parabenizar uma vez, eles repetiram a mensagem novamente, menos de duas horas depois. Achei por bem agradecer, com medo de que eles seguissem me parabenizando de hora em hora. Me senti um pouco idiota por agradecer um robô, confesso.
O The Verve nunca falha e me desejou feliz aniversário escutando meus discos favoritos do The Verve em um único lugar: Spotify, Youtube ou similares. Mal sabem eles que eu tenho todos os CDs, além de MP3 de raridades, b-sides, EPs e shows ao vivo em uma pasta no meu computador e não dependeria dessa parada de Spotify, apesar de, é claro, entender que usando o Spotify eu gero uma pequena remuneração à banda e que, dessa forma, ao longo dos último ano eu escutei 209 vezes o The Verve no Spotify e contribui para engordar as contas de Richard Ashcroft e companhia em 72 cents. Ou R$ 3,70. Talvez dê para tomar um café.
O Jornal o Globo me presenteou com dois meses de assinatura digital gratuita. Até pensei em me cadastrar, mas eles exigem preenchimentos de dados para garantir que, com o fim da gratuidade, eu passe a pagar R$ 19,90 mensais. Achei um pouco cilada.
A loja São Paulo Mania me ofereceu 10% de desconto, enquanto a Adidas me ofereceu 15%. Tenho a impressão de que todo ano eles me oferecem isso e eu nunca compro nada. Aliás, tenho a impressão de que eles me oferecem isso o tempo inteiro, de forma insistente e desesperada na expectativa de que eu consuma algum produto deles e movimente a cadeia produtiva, mas todas essas tentativas são sempre em vão. Indo além, tive a impressão de que a mensagem era exatamente igual a do ano passado e acertei nos dois casos. Adidas, você precisa renovar essa mensagem de parabéns aí.
A Azul Linhas Aéreas e seu programa de milhagem me desejaram um feliz aniversário com um poema sobre a cor azul. Ia ignorar, mas decide seguir adiante pela clara percepção de que eu seria o primeiro ser humano do mundo a ler esta obra literária. Não é bom, mas não chegou ser ruim a ponto de me dar o prazer de admirar a ruindade alheia.
Tok&Stok e Svarovski me presentearam com cupons de desconto, enquanto a Clínica Veterinária onde eu internei o papagaio dos meus pais me disse que irá celebrar junto comigo. Já a Drogasil me mandou um e-mail com ofertas de produtos de higiene bucal, o que achei bastante ofensivo.
O NuBank mandou um e-mail engraçadinho com pessoas cantando parabéns depois de inalarem gás hélio. Para o bem ou para o mal é a cara da instituição.
E foi isso.
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