A vida não tem sido fácil para os são-paulinos nesta década. O último título brasileiro foi conquistado em 2008 e depois disso veio apenas uma conquista de Copa Sul-Americana em uma conturbada final contra o Tigres, na qual o segundo tempo nem foi jogado.
Poucos foram os momentos de felicidade para um torcedor do São Paulo nestes anos. Houve uma empolgação com o surgimento de jovens talentos, como Lucas Moura, David Neres, Luiz Araújo e Antony, mas, tão logo eles vieram foram embora. Houve alguns momentos de empolgação passageira, como o segundo semestre de 2012 - ah, aquela vitória contra a Universidad do Chile, ou aquela vitória contra o Cruzeiro em 2014, um breve júbilo com Osório e Rogério Ceni, algumas vitórias sofridas com Bauza e Aguirre, a ilusão de 2018, mas tudo isso foi tão rápido e logo foi brecado por alguma humilhação acintosa. Goleadas contra Palmeiras e Corinthians, eliminação pro Bragantino, Penapolense e Mirassol, eliminação em todo e qualquer mata-mata disputado.
A verdade é que poucos times jogaram mal com tanta constância nessa década como o São Paulo. Praticamente todos os outros tiveram direito a seus momentos de felicidade esporádica e glória eterna. O São Paulo não.
2020 até agora é mais um ano desses. A boa atuação contra a LDU é interrompida por uma pandemia e na volta o time para o Mirassol. Eliminado da Libertadores. Perde para o Lánus que não jogava uma partida desde o Império Maia. Humilhações que se acumulam e se sobressaem contra as esporádicas glórias: primeira vitória no campo do Palmeiras.
Claro que o mais provável é que ainda não vá dar em nada, mas esta quinta-feira, 19 de novembro de 2020, é a primeira manhã em muitas na qual o são-paulino acorda feliz por conta do seu time. Acorda satisfeito e reconfortado pela sensação de que essa dedicação clubista ainda tem seu lado positivo. O São Paulo está na semifinal da Copa do Brasil depois de cinco anos (parece que é uma eternidade, mas foi em 2015 que o time chegou nessa fase da competição sabe-se lá como para ser atropelado pelo Santos), eliminando o poderoso Flamengo com duas vitórias contundentes. Some-se a essas duas vitórias outra, por 4x1, válida pelo Campeonato Brasileiro. E a quase liderança da competição. E o time formado pelos garotos Diego Costa, Luan, Gabriel Sara, Igor Gomes e Brenner já garante o melhor momento do time em pelo menos oito anos.
Para melhorar, a vitória foi contra o time dirigido por Rogério Ceni, novamente. Essa vitória significa um rito de passagem para o são-paulino. Ceni foi o maior ídolo da história tricolor. Defendeu a meta do Morumbi por 18 anos. Foi o capitão do tri da libertadores, do tri-mundial e do tricampeonato brasileiro. Todas as glórias e fracassos dos últimos anos tinham Rogério vestindo a camisa 1, ou 01. Foi o jogador que mais vestiu a camisa do clube, marcou mais de 100 gols. Uma era.
Um ano após se aposentar, Rogério voltou ao Morumbi como treinador. Tentou implantar suas ideias, mas não conseguiu, os resultados não vieram. Acabou demitido em mais um episódio negativo da gestão Leco. No ano seguinte foi treinar o Fortaleza, onde marcou outra era. Levou o time de volta à primeira-divisão do Campeonato Brasileiro após 13 anos. Ganhou uma Copa do Nordeste. Classificou o time para sua primeira competição internacional. Levou dois títulos cearenses. Passou um mês no Cruzeiro e voltou para os braços do tricolor cearense.
O futuro do São Paulo parecia ser Rogério Ceni. Era questão de tempo para que o técnico amadurecido retornasse ao Morumbi. As glórias do passado carregavam o rosto de Rogério. As glórias do futuro também viriam com ele. O presente era apenas um limbo ao qual o torcedor são-paulino deveria sobreviver com quem quer que fosse. Era o tempo que deveríamos esperar pela terra prometida.
A partir do momento em que Rogério vai para o Flamengo por seu trabalho, ele deixa de ser apenas o ídolo são-paulino para se transformar em um treinador. O futuro de Rogério não estava mais atrelado ao São Paulo e nem o do São Paulo ao de Rogério. Como em uma libertação, o são-paulino passou a viver o presente e a aceitar o presente, que estava em Fernando Diniz.
Pode não dar em nada, é claro. Mas pela primeira vez em anos, repito, o são-paulino está feliz com o presente. Glória eterna a este 19 de novembro.
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