Alguns dias são ruins, os outros são horríveis. Vou com meu filho até a calçada, no nosso processo diário para dormir. A fumaça arde os olhos. Um vento fresco sopra e o que podia ser um alívio para o calor só piora as coisas. Os jornais anunciaram a previsão da chegada de um novo ciclone bomba, que iria derrubar a temperatura no sul e no sudeste. Para Mato Grosso a queda seria de meros 2 graus, mas o vento vindo da região sul seria suficiente para empurrar ainda mais a fumaça do Pantanal em chamas.
O dia seguinte amanhece e mal dá para ver o fim da rua. Estamos todos envoltos nessa fumaça da morte, na fumaça resultante da queima de animais e floresta. Uma necrofumaça. Todo ano é bem ruim, mas esse é horrível. Difícil dizer que não é o pior de todos os tempos.
As redes sociais compartilham fotos de onças acuadas, com olhares tristes e perdidos, cansadas, sem entender o que está acontecendo, fugindo da morte inevitável e invisível. Onças são animais majestosos e imponentes, estrelas de fotografias e de passeios turísticos. Seu olhar derrotado é dilacerante. É esse olhar que respiramos todo dia.
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