Pular para o conteúdo principal

Hanta

Sempre que Luiz Eloy Pereira vinha para Cuiabá, trazia consigo uma frente fria. No começo parecia apenas uma coincidência, mas, após uma série de visitas todo mundo chegou a conclusão que sua presença sempre agradável ajudava a amenizar o calor da cidade.

Essa é provavelmente a primeira lembrança que eu tenho dele. Devia ter uns 8 anos de idade quando ele aparecia aqui para fazer cursos sobre algum vírus novo. Logo, já estávamos passando férias na casa que ele tinha em Iguape.

Era fim de tarde, quando ele voltou de algum lugar com a informação de que naquele dia a maré estava baixa, portanto dava para fazer uma parte do trajeto de volta pela beira da praia. E lá fomos nós, três carros andando na areia dura que até pouco tempo estava embaixo d'água. Que praia era essa deserta na qual se podia andar tanto tempo na praia. Iguape, Ilha Comprida, Cananeia. Era janeiro de 1996.

O dia terminava sempre em algum restaurante desses de cidade de praia, comendo manjubas fritas e com ele contando piadas por horas e horas. Eloy foi provavelmente o último contador de piadas.

Estamos agora no ano 2000 e ele e sua família é que vem passar férias na nossa casa. Agora faz calor e o que é que faria alguém passar férias em Cuiabá. Passeio tradicional por Chapada dos Guimarães. Lembro que estamos no Shopping e ele compra um CD do The Mammas & The Pappas. Escuta com sua esposa. Música da época em que eram namorados.

Corintiano, tinha um papagaio chamado Viola. O ano agora é 2004 e estávamos na sua casa, um dia após o casamento de minha prima. Fazia muito frio e fazíamos um churrasco. Ninguém aguentava ficar perto da churrasqueira. Certo dia saí com sua esposa para dar uma volta. Paramos no shopping que havia na estação Santa Cruz. Ou o shopping é que tinha uma estação? Sua casa ficava perto da Praça da Árvore e de manhã sempre havia uma pessoa falando sozinha. Sempre talvez seja exagero. Vi esse pessoa uma ou duas vezes?

Quando vamos ver já estamos em 2006, ou seria 2005 ainda, indo para Ribeirão Preto em uma van. Ele ia fazer algum trabalho na USP por lá e eu e meu pai que estávamos de férias acompanhamos. Depois já era 2011 ou 2012 e chegando no meu trabalho eu vejo um vulto reconhecido. Era ele. O que fazia ali? Que estranho é encontrar uma pessoa inesperada em um ambiente conhecido. Depois eu o encontraria mais duas vezes em Cuiabá, porque a medida em que vamos ficando velhos, vamos perdendo contato com os amigos dos nossos pais.

Comentários

Postagens mais visitadas

Aonde quer que eu vá

De vez em quando me pego pensando nisso. Como todos sabem, Herbert Vianna, dos Paralamas do Sucesso, sofreu um acidente de avião em 2001. Acabou ficando paraplégico e sua mulher morreu. Existe uma música dos Paralamas, chamada "Aonde quer que eu vá" que é bem significativa. Alguns trechos da letra: "Olhos fechados / para te encontrar / não estou ao seu lado / mas posso sonhar". "Longe daqui / Longe de tudo / meus sonhos vão te buscar / Volta pra mim / vem pro meu mundo / eu sempre vou te esperar". A segunda parte, principalmente na parte "vem pro meu mundo" parece ter um significado claro. E realmente teria significado óbvio, se ela fosse feita depois do acidente. A descrição do acidente e de estar perdido no mar "olhos fechados para te encontrar". E depois a saudade. O grande detalhe é que ela foi feita e lançada em 1999. Dois anos antes do acidente. Uma letra que tem grande semelhança com fatos que aconteceriam depois. Assombroso.

Imola 94

Ayrton Senna era meu herói de infância. Uma constatação um tanto banal para um brasileiro nascido no final dos anos 80, todo mundo adorava o Senna, mas eu sentia que era um pouco a mais no meu caso. Eu via todas as corridas, sabia os resultados, o nome dos pilotos e das equipes. No começo de ano comprava revistas com guias para a temporada que iria começar, tinha um macacão e um carrinho de pedal com o qual dava voltas ao redor da casa após cada corrida. Para comemorar as vitórias do Senna ou para fazer justiça com meus pedais as suas derrotas. Acidentes eram parte da diversão de qualquer corrida. No meu mundo de seis anos, eles corriam sem maiores riscos. Pilotos por vezes davam batidas espetaculares, saiam ricocheteando por aí e depois ficava tudo bem. Já fazia 12 anos que ninguém morria em uma corrida. Oito sem ninguém morrer em qualquer tipo de acidente. Os últimos com mais gravidade tinham sido o do Streiff e do Martin Donelly, mas eu nem sabia disso, para dizer a verdade. Não sab

Ziraldo e viagem sentimental por Ilha Grande

Em janeiro de 1995 pela primeira vez eu saí de férias em família. Já havia viajado outras vezes, mas acho que nunca com esse conceito de férias, de viajar de férias. Há uma diferença entre entrar em um avião para ir passar uns dias na casa dos seus tios e pegar o carro e ir para uma praia. Dormir em um hotel. Foi a primeira vez que eu, conscientemente, dormi em um hotel. Contribui para isso o fato de que, com sete anos, eu havia acabado de terminar a primeira série, o ano em que de fato eu virei um estudante. Então, é provável que pela primeira vez eu entendesse o conceito de férias. Entramos em uma Parati cinza e saímos de Cuiabá eu, meus pais, minha prima e minha avó. Ao mesmo tempo em que essas eram as minhas primeiras férias, elas eram também a última viagem da minha avó. A essa altura ela já estava com um câncer no pâncreas e sem muitas perspectivas de longo prazo. Disso eu não sabia na época. Mas ela morreu cerca de um ano depois, no começo de 1996, após muitas passagens pelo hos