Pular para o conteúdo principal

Terry Jones

Caio em um vídeo de Michael Palin falando sobre Terry Jones, fundador do Monty Python e que morreu na última semana. Dentro da dinâmica estabelecida no grupo de humor, formado por seis integrantes, Jones e Palin formavam uma dupla criativa, enquanto Graham Chapman e John Cleese formavam outra. (Eric Idle e Terry Gillian precisavam se virar por conta própria).

Palin lembra que conheceu Jones em 1962, quando os dois entraram na Universidade de Oxford. Viraram amigos e trabalharam juntos por anos. Palin lembra que eles trabalharam muito, com a pressão de ter um programa semanal na BBC, faz os elogios ao seu amigo, uma pessoa muito franca, mas que sempre ajudava muito. Lembrou que, mesmo em seus projetos solos pós-Python, Jones sempre esteve presente, dando palpites.

Lá pelas tantas, após uma série de elogios, Palin é perguntado sobre o que ele sentirá mais falta em Jones. Ao invés de citar um desses valores genéricos, Michael Palin é sincero: de saírem juntos para beber, dos jantares, das horas de trabalho, de lazer, de não fazerem nada. E chora. Lembra que nos últimos três anos, desde que Terry Jones fora diagnosticado com uma doença degenerativa, ele já havia perdido esse convívio. Mas que ainda o visitava e era difícil vê-lo naquela situação, sem conseguir falar e sem saber se ele entendia alguma coisa de suas conversas, ou se sequer o reconhecia.

Em uma visita dessas, Palin levou um antigo trabalho humorístico deles, uma enciclopédia e começou a ler nostálgico, perguntando a Jones se ele se lembrava daquilo e em determina momento ele riu.

A entrevista de Palin é emocionante porque ali não estavam as memórias de colegas de trabalho, mas de amigos. Uma amizade de mais de 50 anos que envolveu muito trabalho, mas muita coisa além do profissional. Lembranças de quando eles eram jovens que iam para a fila das lojas de discos todo dia que os Beatles lançavam um novo trabalho. Qual é a complexidade dessa relação, que ninguém consegue imaginar, que as pessoas famosas também têm.

***

Lembrei que em janeiro de 2004 eu estava de férias na casa de um amigo do meu pai em Campinas e em determinada hora, não sei qual era o assunto, ele me perguntou se eu conhecia Monty Python, "os autores da busca do cálice sagrado e aquele outro filme, que acham que o cara é Jesus, puta como é o nome meu, muito bom".

Fomos até uma videolocadora e eu não sei precisar se em 2004 nós alugávamos DVDs ou se ainda eram fitas VHS, mas suponho que pelo estilo do amigo do meu pai e pelo filme em questão, ainda era uma fita VHS. O filme se chamava "A Vida de Brian" e assim, aos 16 anos, eu era apresentado ao Monty Python.

Para um jovem pagão e com tendências ao humor blasfemo, aquele filme marcou minha vida, daqueles contatos com o humor que formam sua personalidade e não sei se veria a mesma graça ou se seria tão marcado se tivesse visto esse filme dois anos antes ou alguns anos depois.

Filme esse financiado por George Harrison, vejam só, que penhorou sua casa para isso. A Vida De Brian teve qualquer tentativa de financiamento negada devido ao seu roteiro blasfêmico e teve sua exibição proibida em diversos países, incluindo a Noruega (na Dinamarca o filme foi promovido com a seguinte frase "tão divertido que foi até proibido na Noruega). Filme dirigido por Terry Jones.

Confesso que só descobri isso no dia em que ele morreu. Geralmente sempre associei a direção dos filmes ao Terry Gillian.

E esse texto foi interrompido por intervenção da polícia de textos, que notou que ele estava perdendo completamente o foco.

Comentários

Postagens mais visitadas

Aonde quer que eu vá

De vez em quando me pego pensando nisso. Como todos sabem, Herbert Vianna, dos Paralamas do Sucesso, sofreu um acidente de avião em 2001. Acabou ficando paraplégico e sua mulher morreu. Existe uma música dos Paralamas, chamada "Aonde quer que eu vá" que é bem significativa. Alguns trechos da letra: "Olhos fechados / para te encontrar / não estou ao seu lado / mas posso sonhar". "Longe daqui / Longe de tudo / meus sonhos vão te buscar / Volta pra mim / vem pro meu mundo / eu sempre vou te esperar". A segunda parte, principalmente na parte "vem pro meu mundo" parece ter um significado claro. E realmente teria significado óbvio, se ela fosse feita depois do acidente. A descrição do acidente e de estar perdido no mar "olhos fechados para te encontrar". E depois a saudade. O grande detalhe é que ela foi feita e lançada em 1999. Dois anos antes do acidente. Uma letra que tem grande semelhança com fatos que aconteceriam depois. Assombroso.

Imola 94

Ayrton Senna era meu herói de infância. Uma constatação um tanto banal para um brasileiro nascido no final dos anos 80, todo mundo adorava o Senna, mas eu sentia que era um pouco a mais no meu caso. Eu via todas as corridas, sabia os resultados, o nome dos pilotos e das equipes. No começo de ano comprava revistas com guias para a temporada que iria começar, tinha um macacão e um carrinho de pedal com o qual dava voltas ao redor da casa após cada corrida. Para comemorar as vitórias do Senna ou para fazer justiça com meus pedais as suas derrotas. Acidentes eram parte da diversão de qualquer corrida. No meu mundo de seis anos, eles corriam sem maiores riscos. Pilotos por vezes davam batidas espetaculares, saiam ricocheteando por aí e depois ficava tudo bem. Já fazia 12 anos que ninguém morria em uma corrida. Oito sem ninguém morrer em qualquer tipo de acidente. Os últimos com mais gravidade tinham sido o do Streiff e do Martin Donelly, mas eu nem sabia disso, para dizer a verdade. Não sab

Ziraldo e viagem sentimental por Ilha Grande

Em janeiro de 1995 pela primeira vez eu saí de férias em família. Já havia viajado outras vezes, mas acho que nunca com esse conceito de férias, de viajar de férias. Há uma diferença entre entrar em um avião para ir passar uns dias na casa dos seus tios e pegar o carro e ir para uma praia. Dormir em um hotel. Foi a primeira vez que eu, conscientemente, dormi em um hotel. Contribui para isso o fato de que, com sete anos, eu havia acabado de terminar a primeira série, o ano em que de fato eu virei um estudante. Então, é provável que pela primeira vez eu entendesse o conceito de férias. Entramos em uma Parati cinza e saímos de Cuiabá eu, meus pais, minha prima e minha avó. Ao mesmo tempo em que essas eram as minhas primeiras férias, elas eram também a última viagem da minha avó. A essa altura ela já estava com um câncer no pâncreas e sem muitas perspectivas de longo prazo. Disso eu não sabia na época. Mas ela morreu cerca de um ano depois, no começo de 1996, após muitas passagens pelo hos