Promoção
Um Baguncinha R$ 6,00
2 Baguncinha R$ 10,00
O cartaz me chamou a atenção e não tenho dúvida de que foi uma boa estratégia de marketing. Nesse mundo moderno e hiperinflacionado, é difícil encontrar um baguncinha por um preço justo e competitivo. A promoção é importante para chamar a atenção em uma rua cheia de bares, pequenos bares.
Quem não é de Cuiabá não deve estar acostumado com o que é um baguncinha: um pequeno sanduíche que comporta tudo o que a mente humana imaginar. Não existe receita para o baguncinha. O bom baguncinha é aquele que utiliza todos os ingredientes possíveis. Nos áureos tempos ele chegou a custar um mísero real, mas estes eram outros tempos e pouco importa. Esse texto não é sobre baguncinhas. É sobre o bar que realiza essa promoção.
Ele está localizado no novo bairro onde agora moro. Na avenida principal desse bairro. Passo em frente a ele todos os dias quando vou para a minha nova academia e em um desses dias prestei atenção no cartaz. Pensei comigo que qualquer dia iria parar ali para comer, afinal, dois baguncinhas por dez reais garantem calorias suficientes para manter uma família de seis pessoas durante um mês.
No entanto, eu logo comecei a reparar que esse bar/lanchonete já está aberto às 6h30 da manhã. Não é um horário comum para que um bar fique aberto, exceção feita àqueles que nesse horário estão expulsando os últimos bêbados maltrapilhos que passaram por uma noite alcóolica para esquecer um amor bandido.
Para piorar, não há ninguém no bar nesse horário. Apenas um senhor de olhos fundos no balcão, esperando clientes que nunca aparecerão e um outro cidadão de camisa social e havaianas, que mantém um diálogo com um interlocutor desconhecido. A situação é toda bem estranha, adornada por um Ford Ka modelo antigo, cor pérola, sempre estacionado nas intermediações.
Ontem a noite passei de carro pela frente desse bar e percebi que ele estava fechado e a situação começou a ficar ainda mais estranha. Não há sentido em um bar/lanchonete que vende baguncinhas que fique aberto de manhã, mas que permaneça fechado durante a noite, sabidamente o horário mais apropriado para o consumo de qualquer espécie de sanduíche.
Ainda hoje, passando novamente em frente ao local, reparei nos mínimos detalhes. O bar fica localizado ao lado de um córrego, o que por aqui é apenas um eufemismo para canal de esgoto. Há uma longa e sinistra área verde ao redor do estabelecimento, adornado por estacas vermelhas pregadas no chão com algumas pedras ao redor.
Sendo duvidosa a função paisagistíca das estacas, prestei mais atenção no estabelecimento e lá vi novamente o mesmo senhor de olhos fundos no balcão. Esperando os clientes que nunca virão. Ou melhor, as vítimas. Senti em seus olhos que ele já perdeu a conta dos homicídios que fez e que não consegue calcular aqueles que ainda cometerá. A morte era refletida em seus olhos e aquelas estacas vermelhas certamente representam as suas vítimas, ou um ritual satânico, na melhor das hipóteses, um cemitério indígena.
Na volta da academia percebi que uma mulher estava sentada em uma cadeira de fios no fundo do terreno, ao lado de uma criança, claramente um futuro ditador sanguinário. Em uma churrasqueira feita de latões, alguns pedaços de carne eram assados. Não duvido que fosse carne humana.
Pensei que estava sendo maldoso. O bar abria cedo de manhã para preparar a comida dos trabalhadores que almoçam por ali, essa é a rotina de um restaurante. Nada de carne humana, rituais satânicos e bebês demoníacos.
No entanto, na hora do almoço eu passei em frente ao bar e vi apenas uma mesa ocupada, por quatro homens que dividiam uma Coca Litro. Todas as certezas voltaram a minha cabeça e fiquei tentado a avisar os clientes que eles haviam acabado de comer carne de gente no bar mais sinistro do mundo.
Um Baguncinha R$ 6,00
2 Baguncinha R$ 10,00
O cartaz me chamou a atenção e não tenho dúvida de que foi uma boa estratégia de marketing. Nesse mundo moderno e hiperinflacionado, é difícil encontrar um baguncinha por um preço justo e competitivo. A promoção é importante para chamar a atenção em uma rua cheia de bares, pequenos bares.
Quem não é de Cuiabá não deve estar acostumado com o que é um baguncinha: um pequeno sanduíche que comporta tudo o que a mente humana imaginar. Não existe receita para o baguncinha. O bom baguncinha é aquele que utiliza todos os ingredientes possíveis. Nos áureos tempos ele chegou a custar um mísero real, mas estes eram outros tempos e pouco importa. Esse texto não é sobre baguncinhas. É sobre o bar que realiza essa promoção.
Ele está localizado no novo bairro onde agora moro. Na avenida principal desse bairro. Passo em frente a ele todos os dias quando vou para a minha nova academia e em um desses dias prestei atenção no cartaz. Pensei comigo que qualquer dia iria parar ali para comer, afinal, dois baguncinhas por dez reais garantem calorias suficientes para manter uma família de seis pessoas durante um mês.
No entanto, eu logo comecei a reparar que esse bar/lanchonete já está aberto às 6h30 da manhã. Não é um horário comum para que um bar fique aberto, exceção feita àqueles que nesse horário estão expulsando os últimos bêbados maltrapilhos que passaram por uma noite alcóolica para esquecer um amor bandido.
Para piorar, não há ninguém no bar nesse horário. Apenas um senhor de olhos fundos no balcão, esperando clientes que nunca aparecerão e um outro cidadão de camisa social e havaianas, que mantém um diálogo com um interlocutor desconhecido. A situação é toda bem estranha, adornada por um Ford Ka modelo antigo, cor pérola, sempre estacionado nas intermediações.
Ontem a noite passei de carro pela frente desse bar e percebi que ele estava fechado e a situação começou a ficar ainda mais estranha. Não há sentido em um bar/lanchonete que vende baguncinhas que fique aberto de manhã, mas que permaneça fechado durante a noite, sabidamente o horário mais apropriado para o consumo de qualquer espécie de sanduíche.
Ainda hoje, passando novamente em frente ao local, reparei nos mínimos detalhes. O bar fica localizado ao lado de um córrego, o que por aqui é apenas um eufemismo para canal de esgoto. Há uma longa e sinistra área verde ao redor do estabelecimento, adornado por estacas vermelhas pregadas no chão com algumas pedras ao redor.
Sendo duvidosa a função paisagistíca das estacas, prestei mais atenção no estabelecimento e lá vi novamente o mesmo senhor de olhos fundos no balcão. Esperando os clientes que nunca virão. Ou melhor, as vítimas. Senti em seus olhos que ele já perdeu a conta dos homicídios que fez e que não consegue calcular aqueles que ainda cometerá. A morte era refletida em seus olhos e aquelas estacas vermelhas certamente representam as suas vítimas, ou um ritual satânico, na melhor das hipóteses, um cemitério indígena.
Na volta da academia percebi que uma mulher estava sentada em uma cadeira de fios no fundo do terreno, ao lado de uma criança, claramente um futuro ditador sanguinário. Em uma churrasqueira feita de latões, alguns pedaços de carne eram assados. Não duvido que fosse carne humana.
Pensei que estava sendo maldoso. O bar abria cedo de manhã para preparar a comida dos trabalhadores que almoçam por ali, essa é a rotina de um restaurante. Nada de carne humana, rituais satânicos e bebês demoníacos.
No entanto, na hora do almoço eu passei em frente ao bar e vi apenas uma mesa ocupada, por quatro homens que dividiam uma Coca Litro. Todas as certezas voltaram a minha cabeça e fiquei tentado a avisar os clientes que eles haviam acabado de comer carne de gente no bar mais sinistro do mundo.
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