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Coisas que já não são a mesma coisa

Ter a ESPN Brasil como seu canal de esportes favoritos não era uma preferência, mas uma opção de vida. De um lado estavam os programas puxa-sacos, cheio de celebridades dos comentários, ex-jogadores sem nada a dizer e polêmicas baratas. Do outro estava o trabalho sério, as opiniões fortes e o compromisso com a verdade - a ESPN.

Mas as coisas mudaram, ah como mudaram. A ESPN não é mais aquele canal apaixonante que era lá pelos idos de 2005, 2006, até mais recentemente, talvez. Não me lembro bem quando foi que o José Trajano deixou o comando do canal, que passou a ser do João Palomino.

Seguiu-se com a polêmica no caso Flávio Gomes e Arnaldo Ribeiro e uma busca cada vez maior pela audiência, ao invés da informação pura e simples. Os programas foram sendo remodelados incessantemente, o bate-bola mudou de cenário umas 14 vezes até se chegar aonde está hoje. PVC, símbolo do canal, foi embora.

As transmissões dos programas agora estão cheias de ex-jogadores de futebol, numa fórmula que parece querer agradar mais o torcedor do que qualquer coisa. Surgiram com o Dan Stulbach, que é um cara legal mas que dá umas exageradas e dramatiza demais nos comentários. E muitos ex-jogadores, estão quase igual ao SporTV, apesar de que ainda não vi ninguém tão ruim quanto o Roger Flores ou o Edinho. O problema dos ex-jogadores: geralmente eles são comentaristas do óbvio, com a desculpa de que já viveram aquilo dentro do campo. Pode ser o Juninho Pernambucano (ótimo jogador) ou o Roger (jogador regular e péssimo profissional).

O Bate-Bola da hora do almoço, um clássico, conta com um estúdio superlotado e parece que o objetivo maior é fazer graças com o Alê Oliveira, graças forçadas demais em vários momentos.

Na última semana, veio a notícia da demissão do Roberto Salim e do Luis Alberto Volpe. Dois caras que eram a cara do lado jornalístico da ESPN, com textos perfeitos e humanos, Salim era um mestre da reportagem. No lugar dele sobram Djalminha, Sorín, Zinho, Washington Coração Valente, Alex, Raí, Marques. Já não bastasse a vergonha das transmissões da última Copa com torcedores das seleções do Uruguai e da Colômbia (Loco Abreu e Rincon) ao invés de comentaristas.

O canal só se salva ainda pelos bons profissionais que tem: pelo próprio Trajano, Mauro Cézar, João Canalha e mais alguns outros.

***

Lembro de quando eu era criança e haviam duas mercearias no caminho entre meu colégio e a minha casa. Mercearias mesmo, com botijões de gás, garrafões de água, alguns poucos produtos de limpeza, arroz, macarrão, óleo. Pequenos comércios que me trazem uma forte lembrança de Miojo. Vendia Miojo por lá e, sei lá porque, minha lembrança me diz que os melhores pacotes de Miojo sabor galinha da Turma da Mônica era vendido em uma delas.

Ficavam localizadas uma de frente para a outra, em duas esquinas de uma rua que terminava em outra no bairro Chácara dos Pinheiros. Do outro lado, havia uma banca de jogo do bicho. Minha mãe preferia uma delas, não sei porque, a menor delas. Será que eram as vassouras de palha na porta da loja maior que causavam uma impressão pior?

A maior delas, já faz algum tempo - eu ainda estava no final do colégio, ou foi no começo da faculdade - fechou e se transformou em uma Igreja Evangélica, acho que Assembleia de Deus.

Semana passada voltei a passar pelo lugar e percebi que a da frente também havia mudado e se transformado em outra, com uma foto do Missionário RR Soares. Como se o destino dos dois estabelecimentos fosse o de serem eternos concorrentes. Como se nos tempos atuais a fé fosse mais importante do que a comida. A religião alimenta a alma dos moradores de lá mais do que os deliciosos Miojos que eram vendidos em 1993.

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