Ontem a seleção chilena ganhou o primeiro título de sua história, ao bater a Argentina nos pênaltis, na final da Copa América. Um título que coroa àquela que é apontada por muitos como a maior geração chilena da história. De fato, é difícil discordar. Esse time do Chile não tem uma dupla de ataque antológica, como Marcelo Salas e Ivan Zamorano, mas tem um punhado de bons jogadores, com algum destaque em suas equipes.
De fato, uma geração. Acho curioso perceber essa noção de geração no futebol. Existem muitos países que conseguem, repentinamente, encontrar uma geração brilhante. Seria preciso se aprofundar para descobrir as razões.
Do time chileno que levantou a Copa América, oito jogadores nasceram entre 1986 e 1989. Mais de um terço dos jogadores nascidos em quatro singelos anos. Mais do que isso, os principais jogadores da seleção.
Arturo Vidal, coração da equipe é de 1987, assim como Gary Medel, o leão da defesa. Aléxis Sanchez, principal atacante da equipe é de 88, assim como Maurício Isla, ótimo lateral direito. Juntos, os quatro fizeram parte da histórica campanha chilena no Mundial Sub-20 de 2007, quando a equipe conseguiu o quarto lugar. Isla e Medel foram formados pela Universidad Católica, os outros dois pelo Colo Colo. Outro da geração 87 é o volante Carlos Carmona, presente nas últimas duas Copas do Mundo e que ficou de fora da conquista por uma contusão.
Eugenio Mena é de 1988, enquanto Eduardo Vargas e Charles Aránguiz são de 1989, todos de uma histórica equipe da Universidad de Chile. Ainda temos o bom Matías Fernandez, de 1986.
Jogadores de 1986 a 1989, sinal de que eles se formaram no futebol entre 2001 e 2007. O que aconteceu nesses anos no Chile? Foram investimentos no futebol? O bom momento econômico vivido pela América do Sul de então proporcionou esses investimentos? Ou o que é que as mães chilenas beberam na época do nascimento?
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Temos outros exemplos na Copa América. A vice-campeã Argentina 11 jogadores formados entre 1986 e 1989. Oito deles campeões nos mundiais sub-20 de 2005 e 2007. Romero, Garay, Gago, Biglia, Di María, Higuaín, Messi, Aguero, Otamendi, Banega e Pastore. Um time inteiro. Poderia significar apenas a maturidade de um grupo, uma vez que a Argentina é uma tradicional escola do futebol mundial. No entanto, é de se observar que os argentinos não tem muitos jogadores de destaque mais novos do que esses. Uma geração que pode se esgotar e que tem uma explicação: são frutos do ótimo trabalho de José Pekerman nas bases albicelestes.
Pekerman que agora comanda a Colômbia, que também tem uma brilhante geração, responsável pela melhor campanha cafetera na história das Copas do Mundo. Simplesmente 14 jogadores nascidos entre 1985 e 1988. Os poderosos atacantes colombianos, o maior poder ofensivo da história colombiana nasceu em 1985 e 1986: Jackson Martínez, Téo Gutiérrez, Carlos Bacca, Adrián Ramos e Radamel Falcao. Coloque nesse grupo de 86 o bom zagueiro Zapata, o volante Carlos Sánchez, os lateral Pablo Armero e Zúñiga e os meias Aguilar e Guarín.
E o Uruguai? A lendária celeste passou 40 anos sem assustar ninguém, até que uma lendária geração de jogadores nascidos entre 1984 e 1987 levou o time as quartas-de-final de uma Copa do Mundo e conquistou uma Copa América. Muslera, Maxi Pereira, Godín, Fucile, Álvaro Pereira, Gargano, Cristian Rodríguez (ausente da Copa), Suárez e Cavani. Todos nascidos em um curto período e formados em épocas iguais, por equipes diferentes. Sinal do trabalho uruguaio em determinada época, ou apenas uma coincidência?
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A Bulgária sempre foi um saco de pancadas em Copas do Mundo. Só ganhou seu primeiro jogo na história da competição em 1994, ano em que foi a quarta colocada. O craque da equipe era Hristo Stoichkov, nascido em 1966, acompanhado por Ivanov (65), Kostadinov (67), Letchkov (67) e Balakov (66). Cinco jogadores nascidos em três anos. Aquele time ainda tinha mais quatro jogadores nascidos nesses anos.
Nessa mesma Copa, a equipe romena fez uma grande Copa, apresentando um futebol muito bonito. Petrescu, Popescu, Lupescu, Munteanu, Dumitrescu, os goleiros Prunea e Stelea. Todos nascidos entre 1967 e 1969, acompanhados pelo craque Hagi, de 1965. Geração que classificou a Romênia para três copas e desde que eles pararam os romenos nunca mais chegaram lá e nunca mais fizeram grande coisa pelo mundo.
A lendária Hungria de 1954 tinha Kocsis e Czibor nascidos em 1929 e Puskás de 1927. Desde 1930 a Hungria não conseguiu produzir três jogadores com a qualidade destes três nascidos em três anos. Prova da decadência da escola húngara, uma das mais tradicionais do primórdios do futebol.
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Desde 1974 a Holanda habita o imaginário popular sobre o futebol. Time que tinha Neeskens, os irmãos Van der Kerckhof e Johnny Rep nascidos em 1951. Cruyff e Rensenbrink em 1947. Base da equipe vice-campeã do mundo em 74 e 78.
O país voltou a brilhar na virada dos anos 80 para os anos 90 com o time que tinha Gullit e Rijkaard de 1962, Koeman de 1963 e Van Basten de 1964. Equipe campeã da Europa em 1988.
O final dos anos 90 viu outra grande geração, que alcançou as semifinais da Copa de 1998. Bergkamp de 69, Van der Sar, os irmãos de Boer e Cocu de 1970. Stam é de 72, enquanto Davids, Overmars e Reiziger eram de 73. Para completar, Seedorf e Kluivert de 76. Tirando os dois mais novos, sete jogadores nasceram em um período de quatro anos e formavam a base da equipe.
Para completar, a equipe vice-campeã em 2010 e terceira colocada em 2014: Van der Vaart, Huntelaar e Van Persie são de 1983. Robben, Sneijder e De Jong de 1984. O poderoso trio formado por Van Persie, Robben e Sneijder nasceu em um período de menos de um ano.
Dá pra dizer que a Holanda tem alguns anos mágicos para o nascimento de bons jogadores.
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