Às vezes é difícil de lembrar, mas o Brasil é bicampeão do mundo no basquete. Os títulos da brilhante geração de Wlamir Marques e Amaury Passos ficaram perdidos no tempo, lá atrás. A visão do basquete brasileiro atual é altamente influenciada pelo time de Oscar e Marcel.
Um time que tinha um jogo de transição, que abusava dos arremessos, até porque tinha dois dos mais brilhantes chutadores da história. Um time que viveu um período no qual o Brasil começou a perder espaço no cenário mundial do basquete, não teve grandes resultados em mundiais e Olimpíadas. Mas que obteve uma vitória sensacional.
Você com certeza já viu dezenas de vezes as imagens e a história da final do Pan-americano de 1987. Os norte-americanos jamais haviam perdido em seus domínios, terminaram o primeiro tempo com uma boa vantagem e acabaram atropelados pelo Brasil no segundo tempo. Uma vitória conquista nos chutes e choro de Oscar. Uma vitória que criou um paradigma no basquete brasileiro: é assim que se vence.
Não, não é assim que se vence. Hoje em dia se vence muito mais na marcação do que no ataque. E o Brasil amargou derrotas e derrotas, ausências em Olimpíadas até que um técnico argentino apareceu para tentar mudar a mentalidade de um time que basicamente não se renova: há 12 anos metade do elenco é composta pelos mesmos jogadores, cada vez mais avançando na casa dos 30 anos.
O jogo defensivo levou o Brasil de volta para as Olimpíadas e fez o país ganhar algum destaque no cenário internacional novamente. Mas o Brasil segue perdendo os jogos grandes e o motivo é um só: o péssimo aproveitamento do time nacional nos lances livres.
Pode acontecer que você massacre o seu adversário e ganhe o jogo com mais de 15 pontos de vantagem, mas essa é uma cena rara no basquete internacional, com tantas equipes em níveis parecidos. A tendência, a normalidade é que você jogue ponto a ponto e decida a partida nos últimos dois minutos, em que muitas vezes o jogo se transforma em uma disputa de lances livres.
E como o Brasil sofre quando o jogo fica nesse jeito. No Mundial de 2006 o Brasil caiu em um grupo equilibrado, que tinha Austrália, Grécia, Lituânia e Turquia. Perdeu para todos eles no mesmo jeito: nos lances livres perdidos por nós e convertidos por eles. Perdeu a vaga nas Olimpíadas de Pequim assim. Perdeu para a Argentina em incontáveis situações, justamente assim. Perdeu para a Rússia nas últimas Olimpíadas, assim.
Se o Brasil está alguns pontos atrás, força o adversário a cobrar lances livres e eles vão acertando, enquanto erramos uns ataques, acertamos outros, e a diferença aumenta. Se o Brasil está poucos pontos na frente, ele é forçado aos tiros livres, perde e vê o adversário virar e ganhar. Quem acompanha a seleção nacional já perdeu a conta de quantas vezes isso aconteceu. Contra os Estados Unidos ou contra a Jamaica.
Lembro de apenas duas vitórias apertadas e conquistadas nos últimos minutos, nestes últimos anos. Contra a Argentina no Pré-Olímpico de Mar del Plata e hoje, contra a França. Mas nos dois casos, o Brasil poderia ter ganho com mais folga se acertasse um pouco mais de lances livres.
O Brasil deveria se inspirar em outra qualidade daquele time de Oscar e Marcel: eles não erravam lances livres.
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