(Artigo para o Centro Burnier. Parece meio prepotente chamar qualquer texto de artigo, não é?)
Costumo a falar que o maior calor que eu já passei na minha vida foi em um mês de janeiro em Porto Alegre. A frase, dita por um morador de Cuiabá, soa como uma espécie de provocação barata, uma vez que Cuiabá é famosa justamente pelo seu calor, destacado pelas garotas do tempo dos mais variados telejornais. Por outro lado, por mais estranho que possa ser, Cuiabá é um dos lugares em que mais passo frio e já escutei pessoas de fora que também falam isso.
É tudo uma questão de preparo. O fator surpresa é essencial para estabelecer a sua sensação térmica. Em Porto Alegre, todos estão preparados para o frio. As pessoas guardam em seus guarda-roupas as maiores variedades de calças, jaquetas, moletons, casacos, cachecóis, sobretudos e gorros que os manterão aquecidos. Suas casas têm aquecedores e são projetadas para manter a família sã e salva do frio do lado de fora. Agora, quando o calor chega, você não consegue encontrar um ar-condicionado na área central da cidade. (Pelo menos era assim 10 anos atrás. Talvez tenha mudado).
Da mesma forma que os gaúchos se preparam para o frio, nós nos preparamos para sobreviver ao calor, quando ele chega aquele ponto em que as já citadas meninas do tempo anunciam a máxima de 40° com incredulidade e espanto. “Isso não é possível!”, devem pensar. Mas é possível e justamente por isso nossas casas são dotadas de janelas amplas para ventilar a casa. O ar-condicionado é item essencial em nossos quartos, nos nossos carros e em qualquer loja que não queira perder seus clientes durante o mês de setembro. Agora, quando o frio chega…
Certo que ele não chega tanto assim, três ou quatro vezes ao ano, ao longo de dois ou três dias. Lembramos com espanto daquela vez em que fez frio durante uma semana inteira, um inverno rigoroso. Quando o frio chega, nossas grandes janelas se transformam em passagens secretas para o polo norte, o vento frio nunca para de entrar. Alguém tem um aquecedor em casa? Claro que não, temos outras prioridades.
Precisamos revisitar nossos guarda-roupas, com aquelas mesmas roupas de frio que já mantemos ao longo de algumas décadas. Comprar uma boa roupa de frio em Cuiabá é um investimento de longo prazo, que talvez possa ser aproveitado pelas futuras gerações. Saímos às ruas com nossas roupas empoeiras e cheias de ácaros, um terror para os alérgicos. Se o frio se estender além de três dias precisamos repetir as camisas, porque não temos uma lista extensa de peças para as temperaturas baixas.
Como o frio nos pega de surpresa, Cuiabá se transforma em uma geladeira. Vejo que nas ruas as pessoas não sabem o que fazer. No frio nós ficamos com caras de espanto, igual às moças do tempo. Ficamos olhando para o horizonte, para aquele céu cinzento e pensando se isso realmente está acontecendo. Eventualmente saímos dos locais fechados para conferir se o frio ainda está ali, porque ele não é da nossa normalidade.
De noite, a cidade fica vazia. Os bares perdem o movimento, exceto aqueles que vendem vinho e caldo. Não vemos nem os cachorros, nem os moradores de rua. Depois de um frio sempre vem a notícia de que um morreu de frio. A notícia de que alguém morreu de frio em Cuiabá parece uma piada para quem é de fora. Mas é uma questão de adaptação. Para nós, também parece ridículo quando os jornais noticiam pessoas passando mal com 35° na Inglaterra.
Costumo a falar que o maior calor que eu já passei na minha vida foi em um mês de janeiro em Porto Alegre. A frase, dita por um morador de Cuiabá, soa como uma espécie de provocação barata, uma vez que Cuiabá é famosa justamente pelo seu calor, destacado pelas garotas do tempo dos mais variados telejornais. Por outro lado, por mais estranho que possa ser, Cuiabá é um dos lugares em que mais passo frio e já escutei pessoas de fora que também falam isso.
É tudo uma questão de preparo. O fator surpresa é essencial para estabelecer a sua sensação térmica. Em Porto Alegre, todos estão preparados para o frio. As pessoas guardam em seus guarda-roupas as maiores variedades de calças, jaquetas, moletons, casacos, cachecóis, sobretudos e gorros que os manterão aquecidos. Suas casas têm aquecedores e são projetadas para manter a família sã e salva do frio do lado de fora. Agora, quando o calor chega, você não consegue encontrar um ar-condicionado na área central da cidade. (Pelo menos era assim 10 anos atrás. Talvez tenha mudado).
Da mesma forma que os gaúchos se preparam para o frio, nós nos preparamos para sobreviver ao calor, quando ele chega aquele ponto em que as já citadas meninas do tempo anunciam a máxima de 40° com incredulidade e espanto. “Isso não é possível!”, devem pensar. Mas é possível e justamente por isso nossas casas são dotadas de janelas amplas para ventilar a casa. O ar-condicionado é item essencial em nossos quartos, nos nossos carros e em qualquer loja que não queira perder seus clientes durante o mês de setembro. Agora, quando o frio chega…
Certo que ele não chega tanto assim, três ou quatro vezes ao ano, ao longo de dois ou três dias. Lembramos com espanto daquela vez em que fez frio durante uma semana inteira, um inverno rigoroso. Quando o frio chega, nossas grandes janelas se transformam em passagens secretas para o polo norte, o vento frio nunca para de entrar. Alguém tem um aquecedor em casa? Claro que não, temos outras prioridades.
Precisamos revisitar nossos guarda-roupas, com aquelas mesmas roupas de frio que já mantemos ao longo de algumas décadas. Comprar uma boa roupa de frio em Cuiabá é um investimento de longo prazo, que talvez possa ser aproveitado pelas futuras gerações. Saímos às ruas com nossas roupas empoeiras e cheias de ácaros, um terror para os alérgicos. Se o frio se estender além de três dias precisamos repetir as camisas, porque não temos uma lista extensa de peças para as temperaturas baixas.
Como o frio nos pega de surpresa, Cuiabá se transforma em uma geladeira. Vejo que nas ruas as pessoas não sabem o que fazer. No frio nós ficamos com caras de espanto, igual às moças do tempo. Ficamos olhando para o horizonte, para aquele céu cinzento e pensando se isso realmente está acontecendo. Eventualmente saímos dos locais fechados para conferir se o frio ainda está ali, porque ele não é da nossa normalidade.
De noite, a cidade fica vazia. Os bares perdem o movimento, exceto aqueles que vendem vinho e caldo. Não vemos nem os cachorros, nem os moradores de rua. Depois de um frio sempre vem a notícia de que um morreu de frio. A notícia de que alguém morreu de frio em Cuiabá parece uma piada para quem é de fora. Mas é uma questão de adaptação. Para nós, também parece ridículo quando os jornais noticiam pessoas passando mal com 35° na Inglaterra.
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