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Mostrando postagens de julho, 2013

O fator surpresa do frio

(Artigo para o Centro Burnier. Parece meio prepotente chamar qualquer texto de artigo, não é?) Costumo a falar que o maior calor que eu já passei na minha vida foi em um mês de janeiro em Porto Alegre. A frase, dita por um morador de Cuiabá, soa como uma espécie de provocação barata, uma vez que Cuiabá é famosa justamente pelo seu calor, destacado pelas garotas do tempo dos mais variados telejornais. Por outro lado, por mais estranho que possa ser, Cuiabá é um dos lugares em que mais passo frio e já escutei pessoas de fora que também falam isso. É tudo uma questão de preparo. O fator surpresa é essencial para estabelecer a sua sensação térmica. Em Porto Alegre, todos estão preparados para o frio. As pessoas guardam em seus guarda-roupas as maiores variedades de calças, jaquetas, moletons, casacos, cachecóis, sobretudos e gorros que os manterão aquecidos. Suas casas têm aquecedores e são projetadas para manter a família sã e salva do frio do lado de fora. Agora, quando o calor chega...

O Vácuo das Ideias

A ideia surge de maneira espontânea, em uma espécie de milagre aristotélico. Estou ingenuamente tomando banho, escovando os dentes, lavando a louça, quando a ideia chega! Genial! Que ótimo texto isso vai dar! O texto começa a ser desenvolvido em minha cabeça, com suas múltiplas variáveis, seu encaminhamento lógico. Provavelmente fiz isso quando a ideia sobre o vácuo de ideias me surgiu. No entanto, eu não posso largar o que eu estou fazendo para começar a escrever, porque, como eu já disse, estou escovando os dentes, lavando a louça ou tomando banho. Sigo matutando tudo aquilo e começo a me policiar para se lembrar de tudo isso quando chegar a um lugar em que eu possa pelo menos anotar a ideia. As vezes dá tempo, muitas vezes não dá. A ideia desaparece. Fico agoniado tentando me lembrar que ideia é essa. Sei que ela existiu, sei que eu pensei sobre ela, mas ela simplesmente foi embora, se transformou em vácuo. Só me resta a pertubação de uma ideia que morreu antes mesmo de se con...

Grandes Lábios, Pequenos Lábios

Sempre achei graça naqueles diálogos aleatórios que nós pescamos no cotidiano. Aquele diálogo meio surreal que você acompanha parcialmente quando passa por duas pessoas conversando. Ou quando alguém fala no telefone e você só pega um lado. Sempre fiquei imaginando o resto da conversa, coisa minha. Hoje passei por um diálogo aleatório, talvez o melhor da minha vida. Descia a escada de uma repartição pública, rumo ao estacionamento. Parei para esperar o carro e olhei a hora no celular. Escutei uma senhora sentada numa mureta, conversando com uma interlocutora desconhecida, dentro de um carro. - Sabe os grandes lábios? Aquela parte maior de fora. Ai tem os pequenos lábios, foi lá que ela cortou. - No clitôris? (sic) - Não, não foi no clitóris. - No grelo! - Não aquilo ali não é grelo. Foi nos pequenos lábios. Um diálogo tão fascinante que eu pensei até em subir a escada de volta e interagir. Foi isso mesmo que eu escutei? Quem é que cortou o grelo? Como foi isso. Até me descon...

Paixão nacional

Estou prestes a subir a escada do trabalho quando escuto um prestador de serviços conversando com um segurança: - São Paulo tá mal né? Perdeu sábado pro Bahia, 2x1 de virada. (Ok, pode não ter sido o melhor exemplo de uma conversa, já que peguei a fala de apenas um cidadão). Sempre se fala que o futebol é a paixão nacional e que o brasileiro está sempre conversando sobre futebol nas ruas, bares, corredores e pés de escada do nosso país. Não deixa de ser verdade, olha aí o povo discutindo a crise no São Paulo. O detalhe é que o São Paulo não jogou no sábado, jogou no domingo. Também não perdeu para o Bahia, perdeu para o Vitória. E o placar não foi de 2x1, mas de 3x2. Ele acertou que o São Paulo perdeu, mas errou o dia, o adversário e o Placar. Detalhes. Em último caso, o São Paulo perdeu também para o Bahia, mas foi na quarta-feira e o placar foi 2x0. É, brasileiro gosta de futebol, mas isso não significa que ele esteja absolutamente informado sobre o assunto.

Navegue rápido

Estava caminhando pela rua quando vi uma placa afixada em um portão: "Quer navegar rápido? Me procure!" acompanhado de dois números de telefone, provavelmente um de cada operadora diferente. Não era nenhum grande cartaz, impresso em grandes gráficas. Era uma cartolina feita a mão. Apesar de ser claramente um anúncio sobre internet, velocidade de internet, que o cidadão prometia uma internet super rápida, de 20 megas, 40 megas, 4G de última geração, apesar disso, outra coisa me veio na cabeça. Pensei em um anúncio que oferecia a oportunidade de ser o cara de trás nesse barco. Quer navegar rápido? Me procure

Voa!

O que mais me assusta no TelexFree, aquele que provavelmente é o mais novo esquema de pirâmide financeira, é o comportamento dos seus adeptos. Os voadores parecem fazer parte de uma ceita, uma sociedade secreta, talvez. O modelo de sociedade deles tem um líder. O que esse líder faz, eu não sei, mas os seus seguidores se referem a essa pessoa como "nosso grande líder", como se ele fosse uma espécie de Jim Jones. Algumas pessoas são destacadas como "pioneiro do TelexFree" em determinada região. Quem participa do TelexFree monta uma espécie de guerrilha virtual, especialista em marketing viral. Todas as possíveis notícias boas sobre o grupo são difundidas instantaneamente. Enquanto isso, as notícias ruins ganham inúmeros comentários difamatórios. De certa forma, parece que quem entra no grupo passa por uma espécie de lavagem cerebral. Parece com quem entra em alguma dessas Igrejas radicais.