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Celular em Casa

Eu mal uso meu celular. Tenho o mesmo número há 9 anos e o mesmo modelo há incríveis dois anos, nesse mundo em que as pessoas trocam de celular mensalmente.

Meu celular não tem acesso à internet e permite basicamente falar, ser acordado, utilizar um cronometro, uma outra nota. Se quero enviar uma mensagem utilizando a palavra "bacana" tenho que apertar o 2 inúmeras vezes com intermináveis intervalos de espera até que a letra se consolide.

Passo dias, às vezes meses sem receber um telefonema. Minha namorada me liga, minha mãe me liga eventualmente, meu pai, de vez em quando algum parente, além dos telemarketings habituais e os enganos ocasionais. Não corro o risco de sofrer uma ligação importante, urgente.

Em outras palavras, eu sobreviveria bem sem o meu celular.

Mesmo assim, quando já estava na metade do caminho para o trabalho hoje, sinto meu bolso vazio e percebo que havia esquecido o celular em casa. Fui tomado por um pânico momentâneo. "E se me ligam? E se eu preciso ligar para alguém?".

A necessidade do celular está muito mais no que você não conseguirá fazer sem ele, do que no que você consegue fazer. Sua necessidade está em sua ausência. Uma situação meio escravizante que nós faz pensar em como é que a humanidade sobreviveu tanto tempo sem eles.

Por um momento, entendi o drama dos viciados em smartphones.

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