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Sebastian Vettel

 A primeira vez que ouvi falar de Sebastian Vettel - nisso não me diferencio da maior parte do mundo - no GP da Turquia de 2006. Eu sempre comprava a revista Racing e foi por ela que eu fiquei sabendo que o jovem alemão havia se destacado em seu primeiro treino com um carro de Fórmula 1, liderando os treinos livres de sexta-feira em Istanbul. 

Um fenômeno parecia surgir e ele se transformou em presença constante nos treinos livres. Quando Robert Kubica sofreu um grave acidente no Canadá, no ano seguinte, Vettel foi chamado para substituí-lo nos EUA e, pela primeira vez, exercitei um hábito que se tornaria nos anos frequentes. Ficar de olho na tabela para saber a posição de Vettel na corrida.

Largou em sétimo e terminou em oitavo, marcando um ponto. Quatro corridas depois assumiu uma vaga de titular na Toro Rosso. Em sua quinta corrida, um encharcado GP do Japão, liderou suas primeiras voltas, em uma equipe que ainda não havia marcado pontos no campeonato. Estava em terceiro, quando fez uma besteira danada, batendo atrás de Webber durante um Safety Car. Na corrido seguinte, na também molhada pista de Xangai, chegou em quarto. E o resto é história.

Sebastian Vettel é 13 dias mais velho do que eu. Sua chegada à Formula 1, marcou a chegada de pessoas da minha idade à competição. Era impossível não sentir um pertencimento geracional, com aquela vaga de sensação de "e se fosse você". 

Sua produção foi crescendo nos anos seguintes. Conseguiu uma vitória espetacular de Toro Rosso na chuva de Monza. Partiu para a Red Bull e conquistou a primeira vitória da equipe. Em 2010 tinha o melhor carro do grid na mão e, apesar dos inúmeros erros e alguns problemas mecânicos, arrancou para o título com três vitórias nas últimas quatro corridas. Sua dominância foi avassaladora em 2011 e 2013. No confuso campeonato de 2012 cresceu na hora certa para ser tricampeão.

Após o tetracampeonato, seu patamar de comparação era Schumacher. Parecia questão de tempo para que os números do seu ídolo de infância fossem alcançadas. Mas, Vettel nunca mais teve um carro campeão na mão. A mudança de regulamento parece ter lhe enfraquecido e por vezes ele pareceu desmotivado. Lewis Hamilton se consagrou como o grande nome da geração e Vettel passou a ocupar um lugar secundário, principalmente a partir de 2019, quando ficou claro que não seria campeão novamente.

Malásia 2015, Hungria, 2017, Bahrein 2018, Azerbaijão 2020. Esses foram algumas provas de sua genialidade tardia. Mas algo se quebrou a partir da 2018 e ele errou como se fosse um garoto. Meus olhos então voltaram para a tabelinha do lado, enquanto a TV filmava alguma Red Bull, vendo se ele tinha ritmo para alcançar um pódio, um quinto lugar, no final pelo menos pontos.

Sua última temporada teve momentos muito dignos, na chuva em Imola, Mick Schumacher lhe tirou ponto sem Miami, uma boa estratégia lhe garantiu um ponto em Mônaco, a experiência um sexto lugar em Baku, estratégias erradas lhe tiraram pontos em Montreal, Interlagos, Silverstone e Abu Dhabi. Foi brilhante no Japão. Nos EUA fez corrida para ser o melhor do resto, mas um pit Stop lhe jogou para trás. Mesmo assim, pilotou as últimas 15 voltas com fúria de iniciante para ultrapassar Magnussen na última volta.

Tal qual sua chegada, sua despedida me marca. É um dos meus se aposentando. Um sinal da idade, de fim de ciclo geracional. O mundo não pertence mais a quem nasceu em 1987

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