Ela apareceu algum tempo atrás, fazendo malabarismo em um semáforo da Avenida dos Trabalhadores. Roupa preta, meias coloridas até o joelho, o rosto pintado de branco, um chapéu engraçado. Jogava seus malabares de um lado para o outro, deixava-os cair constantemente, se confundia com o tempo e muitas vezes precisava sair correndo antes que os carros avançassem, segurando a calça legging que escorregava. Sempre com um sorriso no rosto, agradecendo as moedas que não chegavam no seu chapéu. Por vezes, parecia que era mais uma artista em treinamento.
Já se passaram, não sei, pelo menos dois anos desde que ela apareceu por ali e desde então a situação melhorou. Suas roupas continuam as mesmas, mas ela já domina o tempo e o espaço, não precisa sair correndo nem recolher os objetos caídos pelo chão. Não passo por ali todas as manhãs e mesmo nas manhãs em que eu passo nem sempre ela está lá. Nunca lhe dei dinheiro, porque acho que nunca tenho dinheiro na carteira. Mas sua presença ali, naquele semáforo, é uma certeza para mim. Enquanto a malabarista da Trabalhadores estiver por lá, é um sinal de que os tempos são difíceis.
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Vez por outra pego uma rua do meu bairro para desviar de um congestionamento que se forma em sua saída. Vez por outra me deparo com um senhor idoso, extremamente idoso, sentado em um banco em frente a uma casa, que talvez seja sua casa. Para todo carro que passa, ele levanta o braço e acena. talvez diga alguma coisa, talvez não fale nada. Seu aceno é seu lazer cotidiano, de certa forma é como se abençoasse os carros que passam.
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