O futebol realmente é capaz de produzir momentos para a eternidade, lances que jamais serão esquecidos por quem viu e mesmo por quem apenas ficou sabendo. Momentos que, quando olhados em retrospectiva, já pareciam predestinados ao infinito temporal, mais do que isso, que de alguma forma já pareciam escritos em livros de história mesmo antes de acontecerem.
O gol de Aguero que deu o título ao Manchester City. A cabeçada de Van Persie contra a Espanha. O gol do Van Basten contra a União Soviética. A cabeçada do Sergio Ramos na final da Champions League. O gol do Messi contra o Athletic Bilbao (de alguma forma, existiu uma estranha sensação coletiva de que alguma coisa iria acontecer quando Messi pegou a bola despretensiosamente próxima a linha do meio de campo. Enquanto ele avançava parecia ser uma questão de tempo para que o presente encontrasse o futuro que já estava determinado muito antes da existência de qualquer um e coube a todos nós o papel de assistir essa epifania com a respiração presa). O gol do Alisson ontem.
Esses lances carregam semelhanças e diferenças. Geralmente são momentos agônicos, carregam alguma carga dramática, alguma beleza plástica, provocam uma reviravolta histórica, são determinantes para o resultado final da partida, do campeonato e de certa forma do destino da humanidade.
Percebam, foi um gol de goleiro - evento extremamente raro que perdeu um pouco de seu ineditismo graças ao Rogério Ceni. Foi um gol no último minuto de jogo. Um gol que pode garantir uma vaga da Champions League para um dos maiores times da Inglaterra. Marcado por um homem que perdeu o pai afogado poucos meses atrás. Em suma, foi um gol de um goleiro que perdeu o pai neste ano, marcado no último minuto da partida e que pode valer uma classificação continental.
Fora isso tudo, o lance parecia já escrito. Veja quando Alisson corre para a área, como se posiciona no exato lugar onde a bola foi alçada e esse é o caso se falar que não é que o escanteio foi cobrado na direção do Alisson; o goleiro é que se posicionou no lugar onde a bola seria cobrado. Com um movimento já escrito de cabeça, mandou a bola pro fundo da rede e venceu a partida. Ajoelhou, foi abraçado pelo time, olhou para o céu e disse "é para você pai".
É a concretização do improvável. O pragmatismo do imponderável. A previsibilidade do inesperado. Um lance eterno.
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