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Uma coisa não exclui a outra

Uma coisa não exclui a outra. Nesses tempos de polarização e ódio, me parece que esse é o grande exercício diário de sabedoria, o grande esforço de compreensão que é preciso empreender. Um fato não anula o outro.

Sempre posso citar o caso do Lula, a grande figura da polêmica nacional. É possível aceitar que seu governo proporcionou avanços sociais? Sim. Dá pra dizer que há uma perseguição, ou um superdimensionamento dos fatos relacionados ao ex-presidente na chamada grande mídia, e que mesmo o juiz Sérgio Moro e os procuradores de Curitiba tem atuações muitas vezes partidárias contra ele? Sim. Mas isso não exclui o fato de que, ao que tudo indica, Lula se apoderou de dinheiro público em causa própria, que praticou tráfico de influência, enfim, utilizou o poder em benefício próprio. Mas, geralmente ou se está de um lado ou se está de outro.

O mesmo pode ser dito em relação ao Moro. Errou e agiu de maneira política em alguns casos - vide vazamento de grampos feitos fora do horário determinado pela justiça? Sim. Junto com a própria Lava Jato, cometeu excessos? Sim. Mas a operação é importante e conseguiu uma série de avanços? Sim também.

O fato de um cara ser um péssimo agente público não exclui a possibilidade de que ele seja um ótimo pai de família. Não é porque um cara é muito gente boa, que ele não pode ser um ladrão de dinheiro público. Não é porque o cara é um ótimo administrador que ele não pode ser alguém que bate na mulher.

Há essa busca maniqueísta pelo ideal do canalha ou do homem perfeito. Acho que fruto de uma sociedade cada vez mais individualizada e que busca na sua própria experiência o modelo de vida ideal.

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