Em 2007, pela primeira vez eu viajei sozinho para Petrópolis, minha cidade natal. Em uma tarde peguei o ônibus e fui visitar minha tia-avó Iracy. Durante o caminho até Cascatinha, pensei que seria uma visita breve, uma vez que as passagens pela sua casa costumavam a ser rápidas. Tia Iracy gostava de ficar sozinha.
Me surpreendi então quando deixei a sua casa, quando o dia anoitecia, após uma tarde em que não vi a hora passar. Conversei com Tia Iracy sobre todos os aspectos do mundo, ela lia O Globo inteiro, todos os dias, e os jornais iam se empilhando ao lado da poltrona em que ela passava a maior parte do tempo. Também devorava as revistas de palavras-cruzadas, igualmente empilhadas. Fazia isso para exercitar a cabeça, me disse.
Reclamava da política atual e de vários aspectos do mundo moderno, principalmente da mania que nós temos de esconder fios e canos, o que é um problema enorme quando eles precisam passar por manutenção. Reclamava da perna, cada vez pior, mas não da vida como um todo. Fazia piadas depreciativas, mas parecia aceitar que as coisas são assim mesmo.
Lamentava o fato de eu ser estudante de jornalismo “uma profissão tão ruim, coitado. Podia ser diplomata”. Contou sobre sua juventude, seu gosto por trilhas e acampamentos e todo um mundo desconhecido para um jovem de 20 anos, que nunca tinha conversado tão longamente com uma pessoa tão mais velha.
Sai de lá com um livro – Lolita, ela sempre me presenteava com algum livro que ganhou na assinatura do Jornal – e as lembranças de uma tarde que passou rápido. A pilha de jornais, a caixa de remédios, o fusca azul que ela dirigiu até não conseguir mais e os telefonemas de aniversário, sempre às 23h do dia seguinte.
De um tempo para cá, a idade superou sua disposição para ler as palavras cruzadas e o fim se aproximou rapidamente. Fico com a lembrança daquela tarde de agosto há quase 10 anos.
Me surpreendi então quando deixei a sua casa, quando o dia anoitecia, após uma tarde em que não vi a hora passar. Conversei com Tia Iracy sobre todos os aspectos do mundo, ela lia O Globo inteiro, todos os dias, e os jornais iam se empilhando ao lado da poltrona em que ela passava a maior parte do tempo. Também devorava as revistas de palavras-cruzadas, igualmente empilhadas. Fazia isso para exercitar a cabeça, me disse.
Reclamava da política atual e de vários aspectos do mundo moderno, principalmente da mania que nós temos de esconder fios e canos, o que é um problema enorme quando eles precisam passar por manutenção. Reclamava da perna, cada vez pior, mas não da vida como um todo. Fazia piadas depreciativas, mas parecia aceitar que as coisas são assim mesmo.
Lamentava o fato de eu ser estudante de jornalismo “uma profissão tão ruim, coitado. Podia ser diplomata”. Contou sobre sua juventude, seu gosto por trilhas e acampamentos e todo um mundo desconhecido para um jovem de 20 anos, que nunca tinha conversado tão longamente com uma pessoa tão mais velha.
Sai de lá com um livro – Lolita, ela sempre me presenteava com algum livro que ganhou na assinatura do Jornal – e as lembranças de uma tarde que passou rápido. A pilha de jornais, a caixa de remédios, o fusca azul que ela dirigiu até não conseguir mais e os telefonemas de aniversário, sempre às 23h do dia seguinte.
De um tempo para cá, a idade superou sua disposição para ler as palavras cruzadas e o fim se aproximou rapidamente. Fico com a lembrança daquela tarde de agosto há quase 10 anos.
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