Para chegar em Santa Cruz do Xingu, você precisa passar por uma longa estrada de terra que a cada quilômetro fica pior. Bem, na verdade você tem a impressão de que se distância da civilização. No caminho, você cruza com mais tatus do que com outros carros.
Almoçamos em um posto de gasolina no meio do nada, com aquela estranha sensação que temos quando encontramos pessoas no meio do nada. Nunca tenho coragem de comer carne nesses lugares. Acho que pode ser uma das vacas que eu vi pelo caminho. Quero ter uma relação profissional com minha comida, mas acho que fiquei impactado com a cena de um bezerro atropelado e uma vaca olhando o cadáver com uma dor materna.
Pegamos um caminho errado e andamos por estradas secundárias, com a impressão de que a qualquer momento uma onça ou um índio invadiriam a pista.
Santa Cruz tem menos de 2 mil habitantes. Uma rua principal asfaltada, cercada de muitas ruas de um barro úmido, impregnados pela escuridão.
Existem apenas dois hotéis na cidade. Estou no melhor dos dois Kaiapi "Eco Hotel", com uma dona corcunda e quartos com portas no estilo oncinha. As paredes um dia foram brancas e caminham lentamente para se tornarem marrons.
Há um ventilador que deixei ligado desde a hora que cheguei, para espantar o mau cheiro. Funcionou. Ou o meu nariz se acostumou. O teto é decorado por teias de aranha centenárias e há um fiapo de poeira balançando com o vento, que parece cada vez mais se aproximar de mim. Se não tivesse visto a menina limpando o chão, acreditaria que ele jamais tivesse sido varrido.
Estou postergando minha ida ao banheiro, para evitar o cheio. Duas simpáticas aranhas habitam o seu teto e imagino que seja melhor tomar banho amanhã. A privada não tem tampa e é preciso fazer força para fechar a porta. Felizmente estou sozinho no quarto.
O outro hotel, o pior, é o Dormitório Silva. Não passei por ele, mas quem foi descreve a experiência como se tivesse visto a faixa de gaza.
Se eu olhar o travesseiro sem fronha mais uma vez, acho que não durmo mais.
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