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Ziraldo e viagem sentimental por Ilha Grande

Em janeiro de 1995 pela primeira vez eu saí de férias em família. Já havia viajado outras vezes, mas acho que nunca com esse conceito de férias, de viajar de férias. Há uma diferença entre entrar em um avião para ir passar uns dias na casa dos seus tios e pegar o carro e ir para uma praia. Dormir em um hotel. Foi a primeira vez que eu, conscientemente, dormi em um hotel. Contribui para isso o fato de que, com sete anos, eu havia acabado de terminar a primeira série, o ano em que de fato eu virei um estudante. Então, é provável que pela primeira vez eu entendesse o conceito de férias. Entramos em uma Parati cinza e saímos de Cuiabá eu, meus pais, minha prima e minha avó. Ao mesmo tempo em que essas eram as minhas primeiras férias, elas eram também a última viagem da minha avó. A essa altura ela já estava com um câncer no pâncreas e sem muitas perspectivas de longo prazo. Disso eu não sabia na época. Mas ela morreu cerca de um ano depois, no começo de 1996, após muitas passagens pelo hos
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Ranking de Segundos Pilotos

Dia desses caí em um vídeo no qual os jornalistas Flávio Gomes e Fábio Seixas debatiam qual era a maior disparidade entre um primeiro e um segundo piloto da história da Fórmula 1. Gerhard Berger, Rubens Barrichello, enfim, qual seria o piloto que viveu as dores e delícias de ser coadjuvante de um campeão, qual deles seria o mais desprezível? Não lembro qual foi a conclusão deles, mas resolvi fazer uma análise de dados. Primeiro criei um critério de seleção. Para entrar nessa lista, o primeiro piloto precisa ter sido campeão por duas vezes tendo o mesmo companheiro ao seu lado. É importante, não pode ter visto seu adversário como campeão, o que eliminaria as linhas de dois pilotos. Dessa forma, chegamos a oito duplas.  Resolvi analisar três dados: retrospecto no grid de largada, retrospecto na linha de chegada e pontos somados enquanto os dois estiveram juntos. Vamos às oito duplas, em ordem cronológica. Jackie Stewart e François Cevert Tricampeão do mundo, o escocês Jackie Stewart este

Faixa-a-faixa de Shaka Rock, o último disco do Jet

 Ou: analisando um dos piores discos da história Com origem na cidade de Melbourne, o Jet foi um dos destaques do novo rock, como convencionou-se chamar a leva de bandas nascidas no início dos anos 2000, que em geral faziam um revival de sons mais antigos. No caso do Jet, sua influência mais óbvia eram seus conterrâneos do AC/DC na pegada Hard Rock. Mas Rolling Stones não outra influência clara - nos rocks e nas baladas, além do Oasis - principalmente nas baladas. O primeiro disco do grupo, Get Born , era muito bom. Nada de muito inovador, mas uma coleção de riffs e refrãos pegajosos, expondo uma nova geração ao headbang. Na sequência, Shine On  decepcionava, mas ainda tinha seus pontos positivos. Em 2009 eles colocaram ao mundo Shaka Rock , seu terceiro e último disco. Uma bomba sem tamanho, uma coleção de músicas pouco inspiradas com algumas francamente ruins. A primeira faixa K.I.A. (Killed in Action) é uma crítica rasa ao consumismo em que uma guitarrinha aqui e ali tentam dar o to

Trilhos Geográficos

 Ou, as referências citadinas no primeiro disco da banda The Thrills. The Thrills é uma banda que surgiu no começo dos anos 2000 em Dublin, na capital da Irlanda. Entre 2004 e 2007 o quinteto lançou três discos, três pequenas pérolas pop que, ao contrário do que poderia se esperar de irlandeses, não cantam sobre cerveja escura, bebedeiras em pubs e dias chuvosos. Liderados pela voz anasalada, por vezes fanha, de Conor Deasy, The Thrills é fortemente influenciado pelo som pop psicodélico da Costa Oeste norte-americana nos anos 60. Não a toa, seus integrantes moraram alguns meses em San Diego, na California, antes de darem forma a banda. Mas, não podemos esquecer que no fundo eles são irlandeses, então em vez do pop ensolarado da Costa Oeste, eles fazem um pop psicodélico chuvoso, de jovens dublinenses que gostariam de estar na Califórnia. Seu primeiro disco, So Much For The City , é o melhor de todos. A melancolia transborda por todos os lados, mesmo nos momentos mais felizes. E enfim,

Reflexões Pós-Paul

Acho que sei bem o momento em que tudo ficou claro. Foi durante Something. Uma música que nem é do Paul, mas a qual ele defende com unhas e dentes durante sua homenagem ao amigo George Harrison. Empunhando seu pequeno instrumento, Paul McCartney pediu para todos cantarem por George. Aproveitando a ausência dos outros instrumentos, a voz e o ukulele de Paul ecoavam pelo Maracanã. As pessoas já cantavam junto, em um momento bem bonito. Até que veio o refrão, que todo mundo ali conhecia. E aquele I Don't Know veio subindo pelas arquibancadas do antigo maior do mundo, criando um daqueles ecos que provocam um sentido de comunhão sagrada. Sim, ali foi possível entender. Paul McCartney está, talvez, em sua passagem mais unânime pelo Brasil. Sempre houve expectativa em suas outras apresentações, não há registro de uma única viva alma que tenha se arrependido de assistir o Beatle ao vivo. Só que agora ele está velho. Muito velho. Um senhor de 81 anos de idade, que apesar do vigor, já dá sin

Reflexões pré-McCartney

 Talvez eu pudesse ter assistido um show do Paul McCartney antes. De 2010 para cá o ex-Beatle veio um par de vezes ao Brasil e se apresentou nas grandes capitais como Rio de Janeiro, São Paulo, Brasília, Porto Alegre, Curitiba, Belo Horizonte, Salvador, Fortaleza e Recife. Tocou até em locais fora do grande eixo de shows, como Florianópolis, Goiânia e Cariacica. Sim, no Espírito Santo. Algumas vezes faltou vontade, um pouco mais de esforço. Em outras sobraram algumas desculpas pessoais, apesar de que, como é que não se pensou em ir até Brasília ver um show? Na última vez estávamos grávidos e aí não tinha como. Em um dos shows dele, acho até que estávamos em São Paulo, mas esperando para ir de férias para outro lugar. Ele chegou a estar no Brasil enquanto eu estava na Europa. Foram tantos shows que chegou a parecer banal e trivial. Qualquer dia viria essa oportunidade. Eu nem gostava tanto do Paul, essa chatice existencial que muitas vezes tenta diminuir os fatos bons por qualquer impli

Tópicos sobre a Seleção do Diniz

 - Tite ainda é o melhor treinador brasileiro em atividade. O salto de produtividade que a seleção deu sob o seu comando é notável. Quando ele assumiu o time nas Eliminatórias para 2018, a situação da equipe era parecida com a atual. Com o agravante de que eram duas vagas a menos. - O trabalho de Tite foi bom, apesar de que possa ser dividido em dois momentos: foi muito bom até o título da Copa América de 2019, razoável depois disso. A equipe que arrancou para vitórias consecutivas em 2018 teve grandes atuações, momentos de espetáculo, com Neymar e Philippe Coutinho em grande fase. Uma defesa forte, meio campo articulado, ataque móvel. Após o título da Copa América de 2019, o time foi ficando mais previsível e monótono. - Dizem que Tite ficou obcecado após enfrentar uma linha de 5 da Inglaterra em um amistoso de 2018. O que o levou a uma busca insana pelo tal jogo posicional. Acho este um marco da seleção rumo a monotonia. - A grande crítica ao time do Tite é a falta de habilidade para

Genética

Eu estava no Ensino Médio quando formulei uma teoria que basicamente dizia "genética é uma merda". Entre aulas que mostrava cruzamentos de fenótipos, genes recessivos, X e x e análises sobre a probabilidade de alguém ter olho azul, eu cheguei a essa conclusão. Algo pensado há muitos anos e que basicamente significa que você vai herdar tudo quanto é coisa ruim que for possível. Acho que comecei a pensar nisso quando eu descobri que tinha colesterol alto aos 10 anos. "Igual ao pai" falaram. Meus triglicerídeos sempre estiveram em níveis alarmantes, mesmo nos momentos mais saudáveis da minha vida. Depois vieram a pressão alta, também paterna. Os óculos de grau. É preciso ficar atendo ao câncer de próstata e ao câncer de pele, de origem paterna, assim como a diabetes. Sem contar que seus dois avôs tiveram derrames. E o refluxo, igual ao da família da mãe. Veja, ninguém nunca surge por aí ostentando a visão perfeita que veio da mãe. Ou um sistema cardiovascular impecável

Os discos que The Doors lançou sem Jim Morrison

Imagine, um disco do The Doors sem o Jim Morrison. Que sacrilégio, que blasfêmia. Eis algo difícil de raciocinar, afinal, o Jim Morrison era o Doors. Tudo bem que boa parte da graça das músicas estava no teclado hipnótico do Manzarek, mas a banda era o Morrison. Um cara bonito, com presença de palco, carismático, chamativo, que cantava bem, era polêmico, autodestrutivo e tinha uma veia poética. Sem ele The Doors não seria nada. É como um museu sem sua obra principal, ou uma dessas comparações feitas pela Adriana Calcanhoto. Mas essa blasfêmia é real, como não. Três meses após a morte de Jim Morrison, os três membros restantes colocaram na praça Other Voices , disco que é bem verdade, começou a ser gravado ainda antes de um Morrison bêbado, gordo, barbudo e deprimido ter uma overdose de heroína na banheira do apartamento onde vivia no Marais, em Paris. Other Voices parece um disco de demos, com algumas bases boas mas que parecem não ter sido desenvolvidas o suficiente. A própria banda

Tudo se aposta

 No mundo das apostas esportivas é possível apostar em vencedores, perdedores, empatadores, em placares, em número de faltas, em número de escanteios, em número de laterais, em cartões, em expulsões, em defesas, em gols sofridos. É possível combinar mais de uma estatística para faturar números ainda maiores. É possível apostar pequenas quantidade, assim como grandes quantidades. É um mundo à margem da lei, no qual é possível inclusive manipular a realidade para obter vantagens. É isso que mostra a investigação iniciada no Ministério Público de Goiás sobre aliciamento de atletas por apostadores. Quase todo grande escândalo esportivo envolve apostas. No futebol brasileiro nós tivemos o caso da máfia das loterias nos anos 80, depois o escândalo do juiz Edilson em 2005. Só que, esses casos, envolviam placares de jogos, arranjos mais complexos. Hoje em dia, quanto tudo se aposta, a manipulação é quase inevitável. Faz tempo que a gente escuta notícias de manipulação de resultados em jogo de

Faixa de pedestres

Em plena Avenida dos Trabalhadores um jovem trabalhador negro se aproxima da faixa de pedestres segurando a sua bicicleta. Ainda não eram 7h30 da manhã e o trânsito começava a ficar pesado na semana em que muitas férias se encerravam. Um carro para, ele avança pela faixa da esquerda. Na faixa central uma caminhonete diminuí a velocidade e o trabalhador segue sua travessia. Era impossível não notar sua caminhada para o outro lado da rua. No entanto, a caminhonete apenas diminuía a velocidade para passar por cima da faixa, sobe a faixa no momento em que o ciclista pedestre entra no mesmo espaço, aquele espaço que dois corpos não podem ocupar ao mesmo tempo. O motorista da picape atinge a roda dianteira do ciclista que com o impacto se desequilibra e quase caí no chão. Revoltado ele gesticula contra o motorista, que pede desculpas constrangidas. Sem maiores danos físicos, exceto o susto da quase tragédia, o ciclista segue para a calçada e o motorista segue seu caminho. Eis um momento que

Pelé - Arte e Força

O futebol sempre foi um embate entre arte e força. Esquadrões artísticos, como a Hungria de 54 ou o Brasil de quase desde sempre se debatiam contra os panzers alemães, ou os carrascos uruguaios. Mas além das disputas coletivas, há a questão individual. No futebol, há quem seja o touro e quem seja o toureiro. Garrincha, Maradona, Messi, Tostão, Bergkamp, Zidane, Rivaldo e outros encarnam a figura do toureiro. São a arte. Jogadores que transformam o espaço de um guardanapo em um latifúndio. Dribles milimétricos ou elásticos, transformam o adversário em parte do espetáculo, em coadjuvantes da magia. Parte da graça está justamente na forma como deixam o adversário para trás na forma de uma ilusão de ótica, aplicam passes improváveis e espaços aparentemente inexistentes. O combate individual faz parte do espetáculo. Do outro lado, Mbappé, Cristiano Ronaldo, Ronaldo, Kaká e outros são os touros. Arrancam em velocidade e deixam os adversários anônimos para trás, caídos no chão, desolados dian

Balanço da Copa

Seleção da Copa: Emiliano Martínez: Ninguém foi tão bem na primeira fase quanto Szczesny, depois a Copa parecia ser do Bono, ou do Livakovic, poderia até ser do Lloris. Mas curioso como um goleiro que não fez tantas defesas se sobressaiu. Porque não foram muitas defesas, apenas as essenciais. Ao impedir um drama desnecessário contra a Austrália e a virada francesa, e ao engolir adversários na cobrança por pênaltis, Dibu Martínez foi o melhor goleiro do mundial. Denzel Dumfries: Nenhum lateral direito me convenceu plenamente, incluindo Hakimi - jogou muito mais nos clubes, sua lembrança me pareceu uma homenagem a um dos nomes mais famosos da surpresa da Copa. Fico com o holandês, dono da melhor atuação de um lateral direito na copa, nas oitavas contra os EUA. Dayot Upamecano: Líder da zaga francesa, iniciou muitas jogadas da equipe e foi fundamental para garantir a passagem da França até a final. Josko Gvardiol: Esqueça que o Messi fez com que ele parecesse um participante de reality sh

O Jogo do Século

Já diria Mauro Cézar Pereira, que o futebol é a melhor invenção do homem. Argentina e França construíram ontem um épico humano, que nenhuma mente teria condições de imaginar ou pensar. Um drama baseado apenas na aleatoriedade que o futebol possibilita. Um jogo controlado pela Argentina até os 20 minutos do segundo tempo, que em pouco tempo se transformou em uma jornada extraordinária. O Jogo do Século. O Jogo do Século, do Século 20, foi disputado entre Alemanha Ocidental e Itália em 1970 e está eternizado em uma placa no Estádio Azteca, na capital do México. Era uma semifinal de Copa do Mundo, vencida pela Itália por 4x3 na prorrogação. Um jogo para história, que qualquer comparação com ele parece um sacrilégio. Quem já teve a oportunidade de assistir essa partida, poderá compreender várias semelhanças com o jogo de ontem. Sob o sol sempre forte do México e a altitude da Cidade do México, a Itália abriu o Placar logo no começo, com Boninsegna. A partida seguiu em um ritmo normal, por