No próximo domingo o Wilco retorna ao Brasil para a sua terceira passagem em solo nacional (a primeira vez que irei assistir). Uma oportunidade para resgatar a discografia deste grupo que conheci em 2004 e pouco depois se tornou uma obsessão pessoal.
O Wilco nasce das cinzas do Uncle Tupelo, aclamado grupo da cena country alternativa norte-americana. O nascimento foi meio traumático, já que o Uncle Tupelo acabou no momento em que Jay Farrar avisou que odiava Jeff Tweedy. Bem, os outros membros do Uncle Tupelo ficaram com Tweedy para formar o Wilco, então o problema devia ser Jay Farrar. O primeiro disco do Wilco segue caminhando exatamente no mesmo caminho onde estava o grupo anterior, um Country Rock moderno com um pouco de PowerPop setentista, bebendo na fonte do Flying Burrito Brothers. Há algumas boas músicas como I Must Be High, Box Full of Letters e Passenger Side, mas o resultado não impressionou nem público, nem crítica. Tivesse o Wilco se desintegrado após este lançamento, hoje o grupo mau seria lembrado.
Nota: 7
2. Being There (1996)
Aqui o verdadeiro Wilco começa a nascer. Houve mudanças na formação, com Bob Egan substituindo Brian Henneman nas guitarras e, principalmente, a entrada de Jay Bennett. O futuro mostraria que este seria mais um Jay a causar estresse nas relações de Jeff Tweedy, mas sua entrada foi fundamental para moldar o som do grupo, misturando o country rock original com mais elementos de folk, um pouco de noise e experimentações. Misunderstood abre o disco mostrando ao que o Wilco veio com suas guitarras industriais, microfonia e melancolia country. Sunken Treasure segue a mesma linha. Outtasite e I Got You (At the End of the Century) fazem o country rock deles se aproximar do Rolling Stones. Red-eyed and blue e Say You Miss Me são duas belas baladas, enquanto Kingpin é uma espécie de apocalipse sonoro country, com versões ao vivo fantásticas. Claro, há muitas baladinhas country dispensáveis no meio deste álbum duplo, mas o resultado é bom.
Nota: 8,5
3. Summerteeth (1999)
Nota: 9,5
4. Yankee Hotel Foxtrot (2002)
Nota: 10
5. A Ghost is Born (2004)
Bem, depois de todo o estresse do disco anterior, Jay Bennett foi mandado embora. A formação agora tinha Mikael Jorgensen nos teclados e Glenn Kotche na bateria. A Ghost is Born é um disco que avança em direção a microfonia, alternando momentos de silêncio e barulho. O resumo é a faixa inicial, At Least That's What You Said, que começa em um lamentoso murmúrio e termina em um esporro descomunal, que faria orgulhoso o Neil Young. Hummingbird e Company in My Back são outras das boas músicas do disco, que pensando bem, talvez fosse um sucessor direto do Being There. Apesar dos bons momentos, A Ghost Is Born tem seus exageros que tornam o disco um pouco cansativo. Exemplo maior é Less Than You Think, com 12 minutos de microfonia e zumbidos que nenhum ser humano escutou mais do que três vezes.
Nota: 8
6. Sky Blue Sky (2007)
Nota: 9
7. Wilco (The Album) (2009
O seu disco quase autointitulado mostra um Wilco mais próximo do rock alternativo americano dos anos 90, com bases mais distorcidas e sonoridade que o colocaria ali próximo da fase mais pop do Pavement e Built to Spill. Claro, há o PowerPop em Sonny Feeling, enquanto Country Disappeared parece saída das sessões do disco anterior. The Album tem algumas boas canções, mas chama a atenção por não ter um número que soe absolutamente brilhante, como era o costume da banda. Detalhe para You Never Know, quase um tributo a My Sweet Lord do George Harrison.
Nota: 7,5
8. The Whole Love (2011)
The Whole Love começa de maneira irrepreensível com Art of Almost, suas batidas eletrônicas e termina em um solo de guitarra acelerado. É como se Yankee Hotel Foxtrot e Sky Blue Sky se chocassem. A sequência continua boa com o single I Might, a george-harrisoniana Sunloathe e o powerpop de Dawned on Me. Na segunda metade o disco perde um pouco de fôlego até terminar nos 12 minutos de One Sunday Morning, cuja progressão de acordes lembra muito... Anunciação do Alceu Valença. No fim das contas, Whole Love é um disco melhor do que o anterior, que serviu para mostrar que a chama do Wilco continuava acesa.
Nota: 8,5
9. Star Wars (2015)
Nota: 6,5
10. Schmilco (2016)
Se Star Wars era decepcionante, Schmilco é apenas ruim mesmo. Há de se reconhecer que Someone to Lose e If I Ever Was Child são melhores do que qualquer coisa do disco anterior, mas o conjunto é bem fraco. Soa como um álbum sem inspiração, parido a partir de um bloqueio criativo. Muitas músicas se desenvolvem em torno de um riff ou batida central e permanecem nisso durante mais ou menos três minutos. O nome é uma piada com um disco de Harry Nilsson e a capa foi assinada por Joan Cornellà. Fora isso, esquecível.
Nota: 5
11. Ode To Joy (2019)
Nota: 6
12. Cruel Country (2022)
Nota: 7,5
13. Cousin (2023)
Cousin é um disco que definitivamente soa como Wilco, ou como tudo o que o Wilco fez ao longo de sua carreira. Há temas mais acústicos, outros mais barulhentos, músicas sussurradas e outras que parecem querer te abduzir. Há uma grande canção: Evicted, com sua letra que não poderia ser mais Jeff Tweedy. O resultado final é bom, apesar de não ser brilhante, mostrando que o grupo parece ter entrado em uma acolhedora zona de conforto após a já supracitada trilogia maldita.
Nota: 7
Meu ranking pessoal do Wilco, do pior até o melhor disco:
13 Schmilco
12 Ode to Joy
11 Star Wars
10 A.M.
9 Cousin
8 Wilco (the album)
7 Cruel Country
6 A Ghost is Born
5 Being There
4 The Whole Love
3 Sky Blue Sky
2 Summerteeth
1 Yankee Hotel Foxtrot
Outros lançamentos:
Um dos principais trabalhos do Wilco é a trilogia Mermaid Avenue, lançada junto com Billy Bragg. Foi um projeto de musicar letras deixadas pela lenda folk Woody Guthrie. O primeiro Mermaid Avenue de 1998 é sensacional, o segundo de 2000 é bom, mas mostra um trabalho menos colaborativo. O terceiro de 2012 vale por apresentar Listening to that Wind that Blows.
Wilco lançou vários EPs ao longo da sua carreira, mas em sua maioria eles são formados por sobras estranhas de discos já suficientemente estranhos. A exceção é Hot Sun Cool Shroud de 2024, um trabalho com força própria. A maioria das canções lançadas em EPs, Singles e Trilhas Sonoras está na coletânea Alpha Mike Foxtrot de 2014.
Há um disco ao vivo, o correto Kicking Television de 2005. Em 2009 eles lançaram uma versão em vídeo de outro show, chamado Ashes of American Flags, famoso pelo fato de Neils Cline ter sublimado e alcançado o sobrenatural no solo final da canção-título.
Comentários