Da arrancada da Femke Bol na final do revezamento 4x400 misto. Ela já havia feito isso em campeonato mundial, todo mundo falava que ela podia fazer novamente, mas não tinha sido tão impressionante. Não tinha sido em Jogos Olímpicos. Os EUA precisavam abrir uma grande vantagem para segurar a Femke Bol no fim, diziam. Os EUA abriram essa vantagem, mas nada seria capaz de segura a holandesa. Até metade da volta ainda parecia impossível. No meio da última curva ela deixou uma belga para trás. No começo da reta foi a inglesa. Só faltava a americana e a ultrapassagem veio coisa de 20 ou 30 metros antes de chegada ainda. Impressionante.
E a arrancada da Sifan Hassam? Ela já estava na história por conseguir três medalhas em Tóquio, nos 1.500, 5 mil e 10 mil metros. Em uma delas depois de cair no chão já perto do fim da prova. Agora, a Maratona? Qual é a lógica de alguém que corre mil e quinhentos metros ainda conseguir correr mais 40,6 mil? Qual é a lógica de, depois de 41 km corridos, arrancar para a vitória como se estivesse em uma prova de 400 metros? Imparável.
E por falar em arrancada, o que fez Isaquias? Já estávamos nos lamentando pela medalha que não viria, os comentaristas já falavam em milagre quando ele passou os 750 metros a mais de 5 segundos e 20 metros dos líderes. Isaquias então passou a remar na velocidade 1.5 e arrancou uma prata das profundezas da raia olímpica, fazendo o brasileiro mais feliz em uma manhã de sexta-feira.
Nunca, vou me esquecer, assim espero do salto estratosférico de Mondo Duplantis. O sueco concorre em uma categoria apenas dele. Começa a saltar com a vara em alturas onde seus adversários sofrem para passar. Passa com facilidade dos seis metros, quando só mais um chega lá com dificuldade. Sobe o sarrafo para seis metros e 25 centímetros, uma a mais do que o seu atual recorde. Onze a mais do que a marca extraordinária e aparentemente inigualável de Sergey Bubka. O estádio aguarda com tensão. Ele falha uma vez. Falha duas. Não falha a terceira. O Stade de France explode como um gol de Zidane em final de Copa do Mundo. Duplantis corre de maneira louca. Ele fez uma coisa louca.
O atletismo proporcionou grandes momentos. A final dos 100 metros, com quase todo mundo empatado, milésimos invisíveis distribuindo as medalhas. Isso não dá para esquecer.
A última dança de Teddy Riner, distribuindo ippons como se seus adversários fossem sacos de batata. Mijain López vencendo o inédito pentacampeonato olímpico e retirando as suas sapatilhas e colocando-as no centro do ringue. A foto do Medina. O choro do Djokovic ao conquistar sua medalha. A felicidade de Imane Khalif derrotando adversárias e fake news.
Kayla Nemour. A ginasta argelina encarou as barras assimétricas como uma obra expressionista. Fez apresentação frenética, plástica, artística. Cada movimento seu foi para ser acompanhado com a respiração presa, como se estivéssemos vendo Monet pintar suas Ninféias. Aterrissou graciosamente no chão, com lágrimas nos olhos. Conquistou a medalha de ouro no país que não a quis. Ergueu a bandeira da Argélia e o ginásio aplaudiu de pé.
O fim do jogo entre Alemanha e França no handebol. Uma virada inacreditável dos alemães com dois gols em 13 segundos, um deles no último segundo, após uma bobeada inacreditável de um dos melhores jogadores franceses.
Grandes duelos no basquete. A consolidação do skate como esporte olímpico. A magia de Rebeca Andrade. Os jogos de vôlei de praia aos pés da Torre Eiffel. O fenômeno Lisa Carrington. O fenômeno Leon Marchand. Os inacreditáveis 100 metros de Pan Zhanle.
O sofrimento com Hugo Calderano e a ginástica rítmica, seriam coisas para esquecer. Mas como? As derrotas ficam ao lado das lágrimas de Beatriz Souza na vitória, dos toques magistrais de Duda Lisboa.
As Olimpíadas são uma oportunidade de nos lembrar da nossa humanidade. De uma humanidade inacreditável, de façanhas que parecem sobrenaturais, mas são só possíveis porque somos humanos e, enquanto humanos, conseguimos coisas incríveis. De disputas políticas resolvidas dentro de círculos, quadrados e espaços imaginados para a resolução de conflitos. Todos os Jogos são únicos, suas lembranças também.
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