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Tentando entender

Talvez a esquerda tenha que entender que o mundo mudou. A lógica da luta coletiva por melhorias, na qual os partidos de esquerda brasileiros se fundaram na reabertura democrática, não existe mais. Não há mais sindicatos fortes lutando por melhorias coletivas nas condições de trabalho. Greves são vistas como transtornos. E a sociedade, enfim, é muito mais individual.

É uma característica forte dos jovens. Jovens que não fazem sexo e preferem o prazer solitário, para não ter indisposição com a vontade dos outros. Porque seria diferente na política? O mundo pautado na comunicação virtual é um mundo de experiências individuais compartilhadas, de pessoas que querem resolver seus problemas.

É a lógica por trás do empreendedorismo precário, desde quem tem um pequeno comércio em um bairro periférico, passando por quem vende comida na rua, ou por quem trabalha para um aplicativo. Não são pessoas que necessariamente querem tomar uma decisão coletiva, mas que precisam que seus problemas individualmente sejam resolvidos.

É a lógica do agronegócio, que vende diariamente a história do sucesso individual, de desbravadores que vieram do nada e conquistaram muito dinheiro graças ao esforço pessoal. É a lógica até dos cultos evangélicos, que trocam a oração coletiva pela oração individual. A extrema-direita capta melhor esses sentimentos individuais com seu discurso de liberdade - por mais que não seja uma liberdade plena, apenas uma liberdade relativa. Esse é um desafio.

A comunicação na internet é outro desafio. A esquerda não pode ficar até o fim dos tempos querendo dizer que no fundo concorda com tudo o que a direita diz. Se assim for, quais são as razões de existir? Se concorda com o mercado financeiro em tudo, em toda a pauta de costumes e etc, o que faz a esquerda ser diferente? É preciso, com coragem, debater temas sensíveis a longo prazo, por um ciclo eleitoral, mesmo que custe algum resultado. Como fazer isso? Não tenho a menor ideia.

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Em um mundo onde o número de seguidores é visto como um ativo pessoal positivo, onde pessoas são selecionadas para fazer trabalhos por conta do engajamento que conseguem nas redes sociais, não é de se espantar que pessoas com muito seguidores vão buscar o caminho da política. É a selva da meritocracia.

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